Breves do Facebook

Foto: PxHere

27 Setembro 2021

 

Rudá Guedes Ricci

Quase 15 milhões de famílias de brasileiros na extrema pobreza. Governo Bolsonaro foi um desastre monstruoso para nosso país

 

Christian Edward Cyril Lynch

BOLSONARO MODERADO: A ÚLTIMA CHANCE DE DR. JEKYLL.

A fantasia esfarrapada de "moderado" foi o preço que Nogueira e Lira cobraram a Bolsonaro, com a intermediação de Temer, para desmobilizar a onda pelo impeachment que se levantou dia 8/9.

Os chefes do Centrão eram os primeiros interessados nessa mudança de rota, já que a situação lhes era confortável. Aproveitaram a besteira do presidente para tentar enquadra-lo por pelo menos seis meses, logrando êxito onde os militares falharam.

Bolsonaro foi convencido de que não há como se reeleger bajulando apenas 15% do eleitorado. Que não teria nem partido, nem chance alguma. Aceitou normalizar para reduzir as resistências à sua agenda eleitoreira no Congresso e no STF e convencer o Centrão a carregá-lo em 2022.

Será sua última cartada na via "normal". Se der certo, ele esvazia a busca pela terceira via no espectro da direita, ao se apresentar fraudulentamente como a terceira via de si mesmo. E tentará, pela fingida moderação, reduzir a rejeição e recuperar parte dos 25% que perdeu.

Se der errado, das duas, uma. Ou ele volta ao golpismo mobilizando seus arruaceiros, para tentar se safar aumentando os custos da prisão, ou desiste da presidência, sob um pretexto qualquer, e se candidata a deputado, para preservar a imunidade contra as ações que virão.

Esse é o plano de Bolsonaro e dos líderes centrônicos para os próximos meses. Daí seu súbito desejo de reabrir pontes com os veículos tradicionais de comunicação: que lhe sirvam de instrumento para vender ao público que já o havia abandonado a cloroquina de sua "moderação".

Mas o cenário continua incerto. Não há garantia da aprovação das reformas eleitoreiras no Congresso, a impopularidade do governo desestimula o empenho por elas, as perspectivas econômicas são funestas.

E o Centrão só quer ganhar tempo para si levando Bolsonaro até o ano que vem. Quer continuar roendo o orçamento até perto da eleição, e o impeachment seria um estorvo a este plano. Nada o impedirá de desembarcar em segurança quando vir o navio vindo a pique.

O tempo não corre, portanto, contra o Centrão. O tempo corre contra Bolsonaro. Seu plano é se aguentar nesse modelito até março e avaliar os resultados. Mas nada impede que Mr. Hyde reapareça nesse meio tempo. É pedir demais a quem não é normal fingir sê-lo por tanto tempo.

 

Giuseppe Cocco e Universidade Nômade

A crise na Argentina: PASO a PASO: os pragmáticos de ontem

por Ariel Pennisi

Na política contemporânea uma vitória que não assume a complexidade do contexto pode se transformar rapidamente em uma vitória pírrica. Ganhar para perder. A Frente de Todxs como dispositivo eleitoral serviu para consolidar a contestação à gestão grosseiramente antipopular do macrismo. Em tempos nos quais eleições não determinam necessariamente mudanças estruturais na vida econômica nem no campo das subjetividades, as eleições primárias argentinas (também chamadas PASO – Primarias, Abiertas, Simultânea e Obrigatórias) em 2019, implicaram um plus, o número, nesse caso, expressou uma vitalidade extra-eleitoral.

A festa multitudinária de 10 de dezembro por contraposição à erosão anímica de quatro anos de ajuste econômico e moral (ou a moralização do ajuste). Os quatro anos do macrismo foram uma contrarrevolução por uma revolução que não vivemos. Desde os editoriais do La Nación, em tempos em que o kirchnerismo já não vinha forte, seguiam insistindo em chamar de “montonero” o último governo de Cristina Fernández, estabelecendo um teto (ou uma parede) a qualquer horizonte possível pela esquerda.

De fato, a própria ex-presidenta parecia coincidir com o martelar do jornal conservador, quando disse em um discurso que “à esquerda está a parede”. Depois da primeira de uma série de mobilizações críticas massivas, incluindo mobilizações críticas a seu governo, em fins de 2012 e inícios de 2013, Horacio Gonzales publicou um breve texto no qual tentava explicar o que se passava com essas multidões difusas – é o que fazia o grande Horacio, compartilhava suas tentativas de explicar os dramas nacionais, antes que explicasse o resto a partir de um suposto saber.

Em uma passagem se deixava surpreender pelas razões desmedidas dos manifestantes (supostos ou potenciais leitores de tais editoriais) ante um “estilo reformista moderado…”, como definia o governo de que, não sem autonomia, formava parte como diretor da Biblioteca Nacional. ...

A crise na Argentina: PASO a PASO: os pragmáticos de ontem. Disponível aqui.

 

 

Faustino Teixeira

Dá o que pensar algumas passagens da entrevista concedida pelo teólogo vietnamita Peter Phan ao IHU-Notícias, entre elas:

"(...) Enquanto a “semântica” eclesial sofreu grandes alterações, as autoridades eclesiásticas centrais ainda estão insistindo em uma só “gramática” e tornando-a obrigatória para a Igreja Católica em todo o mundo. Para citar um exemplo: atualmente a igreja está confrontada mais vigorosamente do que em qualquer época do passado com o fenômeno do pluralismo religioso. Para lidar com ele adequadamente, precisa-se de humildade intelectual e disposição sincera de aprender dos ensinamentos e práticas de outras religiões. Em vez disso, o que estamos adotando é a reiteração de posições doutrinárias tradicionais, às vezes em um tom imperioso, como na declaração Dominus Iesus da Congregação para a Doutrina da Fé (2000). Este documento está sendo imposto como a única “gramática” ortodoxa para a “semântica” teológica interpretar a fé cristã no contexto do pluralismo religioso do presente (...)".

 

Marcos Silvestre Gera

"Há um mundo em perigo devido a ações, omissões, conceitos e preconceitos. O mesmo mundo em que vivem todas as criaturas, mas entre as criaturas há as que se julgam com poderes sobre a vida e a morte, e arrastam o ambiente para o chamado ponto de não retorno – aquele em que a destruição se tornará irreversível. No Brasil, onde as políticas de governo colocam em risco todo o planeta, soa a voz que explica ao mundo esse embate entre a vida e a destruição – e mostra a urgência de interrompê-lo: a voz do xamã ianomâmi Davi Kopenawa. Neste momento de tensão, é fundamental conhecer suas palavras, que vêm das profundezas da floresta."

O alerta de Davi Kopenawa em livro e filme. A releitura de "A queda do céu" e o documentário "A última floresta", de Luiz Bolognesi, amplificam a voz do xamã yanomami. Disponível aqui.

 

 

Jorge Miklos

"Preocupa-nos que os nossos estudantes entrem para universidade com fraco desempenho acadêmico. Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens cresçam sem referências morais. Estamos empenhados em assuntos como o empreendedorismo como se todos os nossos filhos estivessem destinados a serem empresários. Ocupamos em cursos de liderança como se a próxima geração fosse toda destinada a criar políticos e líderes. Não vejo muito interesse em preparar os nossos filhos em serem simplesmente boas pessoas, bons cidadãos do seu país, bons cidadãos do mundo.

Escrevi uma vez que a maior desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos. Poderia hoje acrescentar que outro problema das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores (até eu agora já fui promovido..,) . Em vez de promover pesquisa, emitem diplomas.

Outra desgraça de uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E esse modelo está bem patente nos videoclipes que passam na nossa televisão: um jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres porque eles lhes fazem lembrar a sua própria origem.

É preciso remar contra toda essa corrente. É preciso mostrar que vale a pena ser honesto. É preciso criar histórias em que o vencedor não é o mais poderoso. Histórias em que quem foi escolhido não foi o mais arrogante mas o mais tolerante, aquele que mais escuta os outros."

Mia Couto

 

Marcos Silvestre Gera

"A Psicologia, tão dedicada ao despertar da conscientização humana, precisa acordar a si mesma para umas das mais antigas verdades: nós não podemos ser estudados ou curados à parte do planeta." James Hillman

"Hoje vivemos uma crise dos fundamentos de nossa convivência pessoal, nacional e mundial. Se olharmos a Terra como um todo, percebemos que quase nada funciona a contento. A Terra está doente e muito doente. E como somos, enquanto humanos também Terra (homem vem de humus=terra fértil), nos sentimos todos, de certa forma, doentes. A percepção que temos é de que não podemos continuar nesse caminho, pois nos levará a um abismo." Leonardo Boff

 

Faustino Teixeira

O que faz um ministro da Saúde se prestar ao papel desprezível de mentir?

Não foi fácil para Bolsonaro encontrar um substituto tão dócil quanto o general que chefiava a pasta

 

Drauzio Varela 

É injusto considerarmos o presidente apenas um negacionista. Não vamos minimizar seu papel nesta pandemia: ele é um ativista empenhado de corpo e alma em disseminar o novo coronavírus.

Desde o início da epidemia, justiça seja feita, ele faz tudo o que está a seu alcance para que o vírus infecte o maior número possível de brasileiros: condena o uso de máscara, promove aglomerações, recomenda medicamentos sem atividade antiviral e retardou o quanto pôde a aquisição de vacinas.

Finalmente, quando entendeu que o peso da opinião pública ameaçava seu futuro político, autorizou a compra, mas não se vacinou, para servir de exemplo aos seguidores. A pressão para que seus colaboradores fizessem o mesmo deve ter sido tão persuasiva que um de seus ministros, general da reserva, admitiu ter se vacinado às escondidas, “para não criar problemas”.

Havemos de reconhecer o esforço do nosso dirigente máximo para realizar o sonho de atingir a inatingível imunidade coletiva, não importa que ao preço de tantas mortes. Envolveu tirar máscara de criancinha em público, recrutar médicos para defender remédios inúteis, estimular redes sociais para espalhar falsidades, arregimentar parlamentares para repeti-las, desacreditar os profissionais que ousaram defender evidências científicas e, entre outras medidas, nomear e demitir três ministros da Saúde, até chegar ao atual.

Imagino que não tenha sido fácil para sua excelência encontrar um substituto tão dócil quanto o general que chefiava o ministério anterior, homem que não se envergonhava de dizer que aceitara o cargo “sem conhecer o funcionamento do SUS” e que seu relacionamento com o chefe “era simples assim: um manda, o outro obedece”.

No entanto, a julgar pela confusão armada pelo ministro atual a respeito da vacinação dos adolescentes, na semana passada, a persistência presidencial foi muito bem sucedida. Levou a vantagem de que o escolhido trouxe para o ministério a credibilidade que nós, médicos, costumamos desfrutar na sociedade.

Numa entrevista coletiva, o ministro levantou suspeitas sobre possíveis efeitos colaterais da vacina da Pfizer em adolescentes, que estariam a exigir avaliações “cuidadosas” do Ministério da Saúde.

Queixou-se de que alguns estados aplicavam vacinas não autorizadas pela Anvisa para uso nessa faixa etária, sem dizer quais. Não contente, deixou no ar que a morte de uma adolescente em São Paulo talvez guardasse relação com a vacina recebida uma semana antes.

Para completar, acrescentou que a vacinação dos adolescentes, programada para ter início dia 15 de setembro, seria suspensa, porque fora abandonada no Reino Unido e contraindicada pela Organização Mundial da Saúde. Duas mentiras deslavadas.

O que teria levado um ministro da Saúde a mentir e a levantar suspeitas infundadas sobre uma vacina testada e aprovada em estudos internacionais, administrada com segurança em adolescentes nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia e na América Latina?

A resposta é simples: um manda, o outro obedece, como ficou claro na live do cordato ministro sentado ao lado do presidente, apresentada no mesmo dia. A justificativa foi a de atender a um “sentimento” do chefe, muito “preocupado com os jovens que são o futuro deste país”.

Na verdade, o senhor ministro se prestou ao papel desprezível de desacreditar uma vacina importante, apenas para esconder a falta dela em quantidade suficiente para imunizar os adolescentes e, ao mesmo tempo, administrar a terceira dose para os mais velhos, vacinados há mais de seis meses com a Coronavac ou a AstraZeneca.

Suas excelências devem ter concluído que pegava mal junto ao eleitorado reconhecer a falta de uma vacina negligenciada pelo governo, quando foi insistentemente oferecida pela Pfizer, no ano passado.

O que faria um ministro honesto diante da situação atual? Viria a público para dizer que a falta de disponibilidade da vacina da Pfizer, para administrá-la aos adolescentes e oferecê-la como reforço aos mais velhos, só nos deixava uma saída: dar preferência aos que correm mais risco de morrer. Todos estaríamos de acordo.

Preferiu, no entanto, lançar dúvidas sobre a segurança de uma vacina aprovada pela Anvisa, apenas para atender a um apelo político de seu chefe. Assim agindo, assegurou fidelidade irrestrita e se perfilou ao lado dele na luta pela disseminação da epidemia.

 

Faustino Teixeira

Nesse curso sobre os contos de Clarice temos abordado questões muito difíceis, como a velhice, o abandono, a tensão entre as relações humanas, o abandono dos animais etc. A cada semana um "tranco" novo, e vamos com coragem mergulhando nas nervuras do real, nos passos da contingência e da finitude, Agora entendo porque alguns alunos não dão conta de acompanhar o curso, face a tantas questões complexas e dolorosas, que melhor é passar ao largo. Mas vejo como importante e fundamental não deixar de entrar nesse território nebuloso da experiência humana. E vamos em frente, já ultrapassando a página 300 do livro: Todos os contos