Por que devemos doar as vacinas aos países pobres

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08 Junho 2021

 

Agora que a saída da pandemia talvez esteja próxima, pelo menos para nós, na Europa estamos diante de um dilema que não desapareceria mesmo que nós livrássemos de qualquer consideração ética. A questão permaneceria mesmo se os nossos governos decidissem perseguir apenas nossos interesses da maneira mais esclarecida e eficiente possível. Na realidade, a mesma pergunta diz respeito a todos os países ricos, incluindo Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá e Japão: que sentido tem guardar todas essas doses da vacina Covid para nós?

O comentário é de Federico Fubini, jornalista e colunista de economia, publicado por Corriere della Sera, 07-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

O problema é colocado por um estudo recente de Gita Gopinath, a economista-chefe (indiana-estadunidense) do Fundo Monetário Internacional, que falou ontem no Festival de Economia de Trento. Com o colega Ruchir Agarwal, Gopinath faz as contas e mostra que a União Europeia encomendou 755 milhões de tratamentos completos de vacinação para este ano e no futuro próximo. Em comparação com a meta de cobrir 75% da população, temos um excedente de dose suficiente para proteger mais 420 milhões de pessoas. Os Estados Unidos têm um excesso para, pelo menos, 358 milhões de pessoas e, no total, o excedente dos países ricos corresponde a mais de um bilhão de tratamentos com vacinas. “Em alguns países já foi atingida a meta de imunizar metade da população ou mais - lembrou Gopinath ontem em Trento. Mas há países pobres onde nem mesmo se consegue vacinar o pessoal de saúde”.

Ora, é verdade que recentemente a Itália e outros países europeus doaram milhões de doses; antes mesmo, eles haviam depositado fundos para a Covax, a iniciativa para proteger as áreas mais pobres do planeta da pandemia. E o excedente de reservas não é simplesmente o resultado de uma reserva irracional de parte de governos dominados pelo pânico. Para trás existe um motivo real: ninguém hoje sabe por quanto tempo permanecerão eficazes as vacinações que estão sendo feitas nestes meses; no outono ou no próximo inverno europeu poderia haver necessidade de renová-las e nós, europeus, não queremos mais encontrar-nos nas condições do inverno passado, quando não havia doses. Portanto, hesitamos em doar nossos estoques excedentes.

Mas é realmente do nosso interesse, além de moralmente aceitável? Gopinath estima que nosso superávit poderia cobrir quase metade da população de países de renda média baixa, onde vivem 3,3 bilhões de pessoas. Quase metade da humanidade, para a qual a pandemia ainda é muito perigosa. Tornar-se-ia menos provável que surgissem variantes que, um dia, também poderiam perfurar o escudo de proteção vacinal que nós, ricos do mundo, hoje usufruímos. Cuidar dos interesses dos outros também protegeria os nossos. Se ao menos uma democracia avançada que vive de pesquisas fosse capaz de entender isso!

 

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