Os passos para a unidade? Teologia e diálogo da vida. Entrevista com o Patriarca Bartolomeu I

Patriarca Bartolomeu I com o papa Francisco. Foto: Paul Haring | CNS

22 Fevereiro 2021

Esta entrevista com Bartolomeu I, patriarca ecumênico de Constantinopla, nasceu no contexto de uma colaboração jornalística iniciada há algum tempo por alguns jornais europeus de inspiração cristã.

Nesse caso, o percurso foi percorrido em conjunto por Avvenire com dois jornais de inspiração protestante, o holandês Nederlands Dagblad e o dinamarquês Kristeligt Dagblad. Nossos meios de comunicação têm em comum a atenção à centralidade da pessoa humana, compartilham o compromisso de promover os valores do diálogo, da solidariedade e do cuidado, especialmente com os mais fracos.

A esperança que norteou o nascimento desta colaboração, que conta também com o envolvimento do francês La Croix, é fomentar o diálogo entre os nossos países, colocando à disposição da opinião pública europeia uma abordagem para a atualidade inspirada em valores cristãos comuns.

A entrevista é de Stefania Falasca, Anders Ellebaek Madsen e Hendro Munstermanin, publicada por Avvenire, 13-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista.

 

Santidade, já se passaram trinta anos de seu ministério como patriarca ecumênico de Constantinopla. o senhor vê esse tempo passado, em particular os encontros ecumênicos que teve oportunidade de ter com três papas romanos e com os chefes de outras Igrejas cristãs?

Por tudo o que concedeu à minha pessoa humilde em todas as circunstâncias da minha vida, eu glorifico a Deus. Eu nunca fui um defensor de uma ortodoxia introvertida. A missão da Igreja é o testemunho do Evangelho e a transformação do mundo em Cristo, o que obviamente não se realiza com indiferença para com ele ou com a sua rejeição. Como patriarca, lutei pela estabilidade e unidade da ortodoxia, pelo diálogo intercultural, inter-religioso e intercristão, e empreendi muitas iniciativas pela proteção do meio ambiente natural, pela paz e pela solidariedade, pelo respeito aos direitos humanos, o primeiro dos quais é a liberdade religiosa, sempre recorrendo à fonte inesgotável da tradição ortodoxa. E a promoção da unidade cristã é um fato que considerei de importância central durante toda a minha vida.

 

O Cristianismo hoje está entre os aniversários simbólicos do 500º aniversário da Reforma Protestante (2017) e o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia (2025). Em que ponto está o caminho ecumênico feito pelo patriarcado ecumênico de Constantinopla hoje?

O ano de 2020 marcou o 100º aniversário da encíclica histórica do patriarcado ecumênico sobre a unidade dos cristãos. Essa encíclica foi corretamente caracterizada como "a carta constitucional" do Movimento Ecumênico. Com base nela, e com a cooperação das denominações protestantes, o Conselho Ecumênico de Igrejas foi criado em 1948. Isso aproximou os cristãos; agora se conhecem bem, realizam ações comuns de caridade e solidariedade, produzem e aprovam importantes textos teológicos, apoiam os cristãos em dificuldade, e não só. O patriarcado ecumênico não se limita a participar de eventos ecumênicos, mas é um membro fundador e contribuidor central do CMI.

Para o 500º aniversário do início da Reforma Luterana (1517-2017), o patriarcado ecumênico participou de vários eventos e atividades. De particular importância simbólica é o fato de que em 1981, 400 anos após o fim dos contatos teológicos por correspondência entre Tübingen e o patriarca ecumênico Jeremiah II Tranos, o diálogo teológico oficial entre a Federação Luterana Mundial e toda a Igreja Ortodoxa começou. Celebramos este ano o quadragésimo aniversário deste importante diálogo. A melhor forma de celebrar este aniversário é continuar o diálogo teológico e o diálogo da vida com seriedade e sinceridade.

 

Como, em sua opinião, deve se desenvolver o diálogo ecumênico?

Em minha opinião, o diálogo ecumênico deve se desenvolver em três níveis: no nível dos contatos pessoais fraternos, nas iniciativas comuns e na cooperação dos chefes das Igrejas cristãs. Em segundo lugar, no contexto muito exigente dos diálogos teológicos, aos quais foi atribuída uma importância especial durante o nosso tempo e onde se registaram avanços consideráveis. O terceiro nível é o “diálogo da vida”, a comunicação, a convivência e a solidariedade dos cristãos nas sociedades contemporâneas, onde o 'diferente' não é mais uma questão de 'distância', mas de proximidade, e uma proximidade cotidiana. O 'diálogo da vida' também facilita a recepção das decisões e conquistas dos dois primeiros níveis. Esse diálogo é alimentado pela oração ao Fundador da Igreja para nos iluminar para dar espaço aos outros, sem medo de alterar a própria identidade.

 

O senhor estabeleceu uma irmandade muito próxima com o atual sucessor de Pedro. Desde sua eleição, teve muitos encontros com o Papa Francisco, que parecem ter aberto uma nova perspectiva no diálogo católico-ortodoxo. Pode explicar os motivos dessa sintonia e como essas etapas devem ser entendidas?

Quando o Papa Francisco foi eleito, decidi participar de sua cerimônia de posse no Vaticano. Desde então, estou ligado a Sua Santidade por laços fraternos. Nós nos encontramos cerca de dez vezes. Temos muitos interesses comuns, sensibilidades e intenções comuns em questões sociais, como a proteção de nossos semelhantes em necessidade, os pobres, os refugiados, a promoção da paz e da reconciliação, o diálogo inter-religioso, a proteção da criação.

 

Certamente, a questão do caminho para a unidade e o progresso do diálogo teológico continuam a ter uma importância central nas nossas relações. Reunimo-nos em Jerusalém em 2014 para comemorar o 50º aniversário do histórico encontro, em 1964, do Patriarca Atenágoras com o Papa Paulo VI na Cidade Santa. A confiança mútua entre mim e o Papa, a vontade comum de superar os obstáculos e acelerar o caminho para a unidade desejada, os encontros pessoais, as declarações comuns, são contribuições valiosas para o desenvolvimento mais amplo das relações entre as nossas Igrejas. E aqui, é claro, o princípio cristão se aplica: o homem luta e Deus abençoa e aperfeiçoa a luta. O futuro - incluindo o empenho com a unidade - está nas mãos de Deus.

No seu retorno de Jerusalém em 2014, onde se encontrou com o Papa Francisco no Santo Sepulcro, o senhor imaginou um encontro com várias Igrejas cristãs em 2025 em Niceia, dezessete séculos depois o primeiro Sínodo verdadeiramente ecumênico, onde o Credo foi emitido.

 

Ainda considera que este evento seja possível? Existem preparativos em andamento? Poderia ser uma oportunidade de nos aproximarmos como cristãos?

Certamente, o aniversário de 1.700 anos do Primeiro Concílio Ecumênico de Niceia em 2025 pode servir como uma oportunidade para as Igrejas Cristãs refletirem sobre seu caminho, sobre os erros do passado, bem como do presente, e trilhar um percurso ecumênico mais determinado, capitalizando as lições de mais de um século de experiência ecumênica moderna.

O primeiro Concílio Ecumênico de Niceia é um símbolo, uma estação, uma virada na história do Cristianismo, não apenas porque formulou o Credo, mas também porque emitiu 20 cânones. Niceia, portanto, oferece uma oportunidade única para um aprimoramento de nossa herança canônica comum do primeiro milênio e para um exame da importância do direito canônico como instrumento para promover o diálogo ecumênico. Os cânones, de fato, são componentes essenciais da busca de um consenso no nível da doutrina, que até agora tem sido o foco principal e dominante do discurso ecumênico contemporâneo.

O "ecumenismo jurídico" tem sido o aspecto negligenciado de nosso diálogo teológico. O aniversário que se aproxima é um apelo a todos os cristãos para que considerem que o que nos une é maior do que o que nos mantém no mero hábito da separação.

A unidade cristã e uma abordagem comum aos grandes problemas modernos não é apenas uma solicitação atual, mas também uma ordem do Fundador da Igreja. Os grandes aniversários nos lembram dessa verdade.

 

Desde o reconhecimento da autocefalia (autogoverno eclesial) da Igreja Ortodoxa da Ucrânia, surgiram tensões entre o patriarcado de Moscou e o patriarcado ecumênico de Constantinopla. Desde então, três outras igrejas autocéfalas também reconheceram a Igreja da Ucrânia. Em resposta, o patriarcado de Moscou quebrou todo compartilhamento eucarístico com essas quatro Igrejas. Podemos falar de um cisma na Igreja Ortodoxa?

Não há cisma na ortodoxia. Eu disse isso e repito agora. Há uma visão diferente da Igreja da Rússia sobre a questão ucraniana, que se manifestou na cessação da comunhão com a Igreja-mãe de Constantinopla e depois com as outras Igrejas autocéfalas harmonizadas com a decisão do patriarcado ecumênico de conceder autocefalia para a Igreja da Ucrânia. Em nossa avaliação, essa foi uma ação equivocada por parte da igreja irmã da Rússia. Portanto, insisto, não há cisma na ortodoxia. Infelizmente, entretanto, a teoria do "cisma" vem de alguns representantes da Igreja Russa. Eles se entregam ao alarmismo na tentativa de justificar a atitude desta Igreja de interromper a comunhão eucarística com qualquer Igreja autocéfala e com qualquer primaz ou hierarca que não concorde com ela. Quem, então, cria essa atmosfera? Para qual propósito? A ortodoxia, apesar dos problemas ocasionais que surgem entre suas igrejas autocéfalos locais, apesar das diferentes abordagens para questões administrativas, permanece unida, porque não há diferenças dogmáticas. Afinal, a nossa unidade está baseada no consolidado ensinamento dogmático da Igreja, expressão da tradição patrística comum e sinodal, vivida dinamicamente no evento eucarístico.

A unidade ortodoxa, portanto, não é ameaçada pela resposta do patriarcado ecumênico ao pedido dos ortodoxos ucranianos... Na questão ucraniana fizemos o mesmo que nos outros casos de concessão de autocefalia. Seguimos a tradição da ortodoxia, estabelecida pela prática eclesiástica secular. Lembro que Constantinopla já havia concedido autocefalia a outras nove Igrejas locais antes da Ucrânia.

Hoje, é claro, alguns com objetivos egoístas negam esse fato evidente. Mas aqueles que questionam os direitos e responsabilidades do patriarcado ecumênico estão, em essência, questionando sua própria existência e identidade, a própria estrutura da ortodoxia. O Patriarcado Ecumênico, como primeiro Trono da Ortodoxia, tendo uma experiência concentrada de séculos, fiel à tradição canónica da Igreja Ortodoxa, sempre lutou, no âmbito das suas responsabilidades, pela preservação da unidade pan-ortodoxa. É característico que todas as novas Igrejas locais, até o momento em que receberam sua autocefalia, fizeram parte da jurisdição espiritual e canônica da Igreja Constantinopolitana. No entanto, diante da preservação da unidade da única Igreja Ortodoxa e da realização das condições históricas e das necessidades de cada época, o patriarcado ecumênico cuidou da outorga canônica do estatuto de autogoverno, para que essas Igrejas locais pudessem regular seus assuntos internos de forma independente, mas indissoluvelmente ligados à sua Igreja mãe de Constantinopla. Isso também aconteceu no caso da Ucrânia. Se Moscou tivesse mostrado vontade de colaborar, percebendo as condições históricas, sociais e eclesiásticas emergentes, a questão teria sido resolvida há muitos anos. Por três décadas, Moscou esteve ostensivamente cega diante da trágica situação eclesiástica naquele país. Essencialmente, impediu que uma solução fosse encontrada para que Kiev, que a Igreja da Rússia tinha tirado da Igreja de Constantinopla - aproveitando as circunstâncias e situações históricas -, não escapasse ao controle de Moscou. 

A concessão do estatuto de autocéfalo à Igreja da Ucrânia pelo patriarcado ecumênico era, portanto, não só eclesiológica e canonicamente correta, mas também a única solução realista para o problema. E, é claro, não foi, como insinuado por alguns, para servir a conveniência política ou mesmo a interesses geopolíticos. Foi um ato de responsabilidade da Igreja mãe para com milhões de nossos irmãos ortodoxos que se encontraram, sem culpa nenhuma, fora da Igreja.

 

Desde o cisma entre Oriente e Ocidente no século XI, muitas Igrejas Ortodoxas foram transformadas em Igrejas nacionais com fronteiras eclesiais alinhadas com as civis. Em sua opinião, isso é uma ameaça à unidade interna da Igreja Ortodoxa?

O Grande Concílio de 1872 em Constantinopla condenou o etnofiletismo como uma ferida grave no corpo da Igreja, como heresia. A entrada do nacionalismo na Igreja leva ao afastamento da catolicidade da Igreja e abole o princípio da sinodalidade. Trata-se de uma verdadeira "inversão de valores". Aqui, a Igreja é julgada por seus serviços à nação e ao estado. É inconcebível que a nação seja declarada fator decisivo na vida eclesiástica, que a Igreja pronuncie um discurso etnocêntrico, se alie aos movimentos políticos nacionalistas, sacrifique a ordem canônica em nome da nação, negue sua própria referência escatológica e se identifique com o quadro histórico de todos os tempos.

A fé ortodoxa pode fomentar nacionalismos? A verdadeira fé ortodoxa é impossível para ser uma fonte de nacionalismo. Sempre que o nacionalismo aparece em um contexto ortodoxo, tem outras raízes e motivações. Além disso, a Igreja Ortodoxa respeitou as características culturais particulares dos povos evangelizados e destacou a catolicidade da comunidade eclesiástica local, independentemente de sua identidade nacional e linguística. O estudioso bizantino Sir Steven Runciman, em sua última entrevista antes de sua morte, disse que "a Ortodoxia é uma solução excelente para a questão da unidade dos povos, uma vez que não favorece o nacionalismo". O patriarcado ecumênico, apesar de estar no turbilhão dos nacionalismos, não desistiu e mantém seu caráter supranacional.

 

O movimento ecumênico moderno começou há mais de um século. Desde o início, as Igrejas Ortodoxas estiveram muito envolvidas, porém alguns crentes ainda hoje se recusam a orar com cristãos de outras confissões. Por que há resistência no caminho para a plena comunhão? O que há para perder ou defender?

No mundo ortodoxo de hoje existem vários grupos que expressam um espírito antiecumênico extremo e caracterizam o ecumenismo como um "pan-eresia ". O Santo e Grande Concílio da Igreja Ortodoxa realizado em Creta em 2016 condenou todos aqueles que "sob o pretexto de manter ou presumivelmente defender a verdadeira Ortodoxia" quebram a unidade da Igreja (Relações da Igreja Ortodoxa com o resto do mundo cristão, § 22). De que maneiras podem permitir uma participação ortodoxa mais plena no caminho da unidade cristã? Não há outra maneira de caminhar em direção à unidade do que através do diálogo honesto. Minha opinião é que o que ameaça o testemunho da Igreja não é a abertura e o diálogo, mas o fechamento e a introversão. Para a Igreja Ortodoxa, o propósito geral dos diálogos ecumênicos foi claramente definido pelo Santo e Grande Concílio: "É claro que nos diálogos teológicos o objetivo comum de todos é a restauração final da unidade na verdadeira fé e no amor". A Igreja Ortodoxa, por meio de sua participação nos diálogos ecumênicos, nunca aceitou um compromisso em questões de fé. A unidade, que se baseia na verdade, é e continua sendo desejada.

 

Com a introdução do casamento entre pessoas do mesmo sexo em várias Igrejas e a ordenação de mulheres ao ministério eclesial, no entanto, a distância entre as Igrejas Protestantes e as outras Igrejas parece ter aumentado. Como é possível nos aproximarmos novamente?

Estamos preocupados com essas questões, que são fruto da evolução social moderna e de uma percepção hipertrófica dos direitos individuais. A prática de algumas denominações e igrejas cristãs neste assunto também cria divisões dentro dessas comunidades, como no caso dos anglicanos, da velha Igreja Católica e dos luteranos. É um fato que hoje as divergências sobre questões antropológicas e morais criam novas dificuldades nas relações entre as Igrejas. O que é aceito de um ponto de vista sociológico, antropológico, psicológico não se torna automaticamente aceitável e normativo para a Igreja. A Igreja tem sua própria antropologia, sua fé na santidade da pessoa humana. A verdade é o critério na vida da Igreja. Como se diz teologicamente, no Cristianismo “o homem não é um experimento. É um ser definido em termos de origem e destino”.

 

O Papa Francisco na exortação "Evangelii gaudium" indicou as Igrejas Ortodoxas como modelo de sinodalidade. Pensa que, para servir a unidade visível e universal da Igreja, a "Primeira Roma" necessitaria de mais sinodalidade e colegialidade e a "Segunda Roma" (Constantinopla) de um primado mais eficaz?

A discussão moderna sobre a estrutura sinodal da Igreja, a compreensão e aplicação do princípio da sinodalidade na prática, é uma conquista teológica importante. Um aspecto central da sinodalidade é sua conexão essencial com a eclesiologia eucarística. Não só existem excelentes estudos eclesiológicos para compreender o papel dos "protos" (primus) na Igreja nessa base, mas também a Comissão Conjunta Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa tem trabalhado extensivamente sobre a questão da “primazia” e da “sinodalidade”. A questão colocada, se a Nova Roma (não a "Segunda Roma", visto que nunca houve uma "Primeira Roma", mas a "Velha Roma") necessitaria de um primado "mais eficaz", não aborda corretamente a questão. O papel do patriarca de Constantinopla é definido por cânones e até agora foi exercido, sempre dentro da estrutura desses cânones, de forma eficaz. As controvérsias sobre a eficácia ou a não aplicação decorrem de uma interpretação incorreta dos cânones, geralmente em favor de quem o faz. Aqueles que questionam o papel do patriarcado ecumênico na Ortodoxia introduzem uma nova eclesiologia instável.

Como já afirmamos muitas vezes, o patriarca ecumênico não pode ter "pretensões papais", porque não precisamos de um "Papa" para o funcionamento da sinodalidade. A sinodalidade está indissoluvelmente ligada não ao papado, mas ao primado, porque não há Sínodo sem um primus. Essa é a exigência da fé ortodoxa e não apenas da conveniência canônica.

 

No seu país, a Turquia, a conversão de Hagia Sophia a uma mesquita foi vista como uma ameaça para uma sociedade turca pluralista onde cidadãos de diferentes religiões - e entre eles as diferentes minorias cristãs - podem viver em paz e desfrutar da liberdade religiosa?

A transformação de Hagia Sophia em mesquita nos entristeceu. O fato de Hagia Sophia ter funcionado de 1453 a 1934 como uma mesquita não nega o fato de que foi construída como uma igreja e que durante nove séculos foi o templo cristão mais importante do mundo. Acreditamos que a decisão de converter este monumento em mesquita enviou uma mensagem errada ao mundo sobre a importância e a possibilidade da paz e da cooperação entre as religiões e sobre o valor do diálogo inter-religioso. Em vez de ser considerado um símbolo da conquista da cidade pelos turcos otomanos, Hagia Sophia poderia ser projetada, com mais autenticidade, como um símbolo da coexistência pacífica de diferentes tradições, da solidariedade e do diálogo. O mesmo se aplica à conversão do mosteiro de Chora (Kariye) em mesquita.

 

Quais são as ações específicas - além da oração - que o senhor encorajaria por parte das Igrejas europeias em face da perseguição aos cristãos em muitas áreas do Oriente Médio?

O Santo e Grande Concílio de Creta discutiu esta questão e condenou inequivocamente a perseguição e morte de membros de comunidades religiosas, a coerção para mudar de fé, a destruição de templos e de símbolos religiosos e outros monumentos culturais. Ele expressou a preocupação das Igrejas com a situação dos cristãos no Oriente Médio e pediu aos governos da região que protejam a população cristã neste berço de nossa fé. O Concílio sublinhou que eles têm “o direito inalienável de permanecer nos seus países como cidadãos com direitos iguais” (Encíclica, § 18). Acreditamos que a questão da intolerância religiosa e da violência em nome de Deus e da religião deva estar no centro das atenções nos diálogos inter-religiosos. As religiões devem desenvolver o potencial de paz e fraternidade inerente a elas. A paz a que se referem não é apenas uma paz interna, mas também diz respeito à paz e à justiça na sociedade e nas relações entre as religiões.

 

Na sua opinião, de que depende a credibilidade das religiões hoje?

Hoje, a credibilidade das religiões é amplamente avaliada por sua contribuição para a luta pela paz. Não é aceitável que as religiões, forças de paz e reconciliação, possam ser fanáticas e criadoras de divisão. Para alcançar a paz, nem o progresso da ciência, nem o desenvolvimento econômico, nem a comunicação pela internet são suficientes. Nós, cristãos, no ministério da paz e na luta pela justiça, temos o dever supremo de mostrar a unidade inseparável do amor a Deus e do amor ao próximo.

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