02 Agosto 2019
Adeus, globalização. As tensões comerciais entre China e Estados Unidos poderiam ter consequências extremas com a explosão de uma nova guerra fria. Após 40 anos de coexistência – nem sempre simples – a rivalidade entre Pequim e Washington está explodindo em vários setores, condicionando as relações entre os dois países.
A reportagem é de Giuliano Balestreri, publicada em Business Insider Italia, 01-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“No longo prazo, será difícil impedir a ascensão das indústrias tecnológicas chinesas”, diz Sahil Mahtani, estrategista da Investec Am, que acrescenta: “Há também outras dimensões, incluindo a economia, a ideologia e a segurança, mas a tecnologia é o principal campo de batalha entre China e Ocidente”. A tal ponto que, para o especialista, 2019 pode ser o ano em que a globalização começará a vacilar, iniciando uma separação de longo prazo. O ponto de aterrissagem seria o de uma economia global com dois blocos – com as relativas órbitas – existentes e funcionando independentemente.
Mahtani também analisou as repercussões sobre os investimentos, considerando tanto a perspectiva chinesa quanto a norte-americana.
De acordo com o especialista da Investec Am, um grande ponto de fraqueza da China é o fato de que, na fabricação de semicondutores, não são produzidos – por enquanto – chips de faixa alta. Como resultado, muitas empresas de tecnologia chinesas se confiam a fornecedores estrangeiros para componentes cruciais.
Desse modo, no entanto, elas se expõem aos embargos dos EUA. Consequentemente, uma proibição total das exportações de chips para a China também afetaria as empresas norte-americanas. Em vez disso, uma série de medidas específicas daria tempo à China para fazer a sua própria produção de chips.
“Os analistas – diz Mahtani – são da opinião de que o país está 10 anos atrasado no projeto de chips de faixa alta do tipo utilizado nos interruptores e routers da Huawei. No entanto, como demonstra o exemplo da Samsung na Coreia do Sul, é possível alcançar o predomínio tecnológico muito rapidamente, mesmo que a partir de um nível baixo.”
O setor de telecomunicações também está sob ataque. Os EUA estão encorajando os governos a inserirem as empresas de tecnologia chinesas na lista proibida: Austrália e Japão já proibiram a Huawei de fornecer tecnologia móvel 5G. Se outros os seguissem, o setor chinês entraria em grandes dificuldades.
Mahtani também destaca a situação do setor aeroespacial: “Nos últimos anos, as empresas chinesas investiram em empresas ocidentais para adquirir tecnologias. No entanto, a menos que as relações entre EUA e China melhorem, os futuros acordos poderiam ser bloqueados por motivos de segurança nacional. Para entrar no mercado global, as indústrias aeroespaciais chinesas precisam obter certificações de segurança internacional, e isso pode ser um potencial obstáculo para elas. As agências europeias e estadunidenses controlam esse processo”.
Obstáculos também para as indústrias biotecnológicas e farmacêuticas chinesas: as restrições dos EUA a vistos de trabalho e intercâmbios culturais e a impossibilidade para as empresas chinesas de contratarem atividades de pesquisa nos EUA.
Para o estrategista da Investec Am, não há dúvidas de que uma guerra tecnológica prolongada entre EUA e China afetará os negócios norte-americanos. Para a maior parte da Corporate America, Pequim desempenhou um papel fundamental na estratégia de crescimento. Basta pensar que 20% das receitas da Apple vêm justamente do ex-Império Celestial (onde, além disso, ela produz os iPhones).
“De acordo com algumas estimativas – diz Mahtani – uma proibição em relação à Apple na China reduziria os lucros da empresa em até 30%. Além disso, para 57 empresas do S&P 500, 10% das vendas vêm da China, e a lista é dominada pela fronteira tecnológica da economia estadunidense, como Qualcomm, Texas Instruments, Nvidia, Apple e Microsoft. No mercado de semicondutores, a média é de cerca de 40%.” Mas há também Tiffany’s, McDonalds, Starbucks e Nike.
“Talvez o maior risco da disputa entre EUA e China seja a evolução no longo prazo das empresas chinesas e a possibilidade de eclipsarem as empresas estadunidenses”, sublinha Mahtani, segundo o qual é possível que os EUA subestimem a dimensão e o porte do mercado interno chinês como fonte endógena de inovação: “O consenso, até poucos anos atrás, era de que os sistemas autoritários e a inovação de alto nível eram reciprocamente incompatíveis, mas a ascensão dos gigantes tecnológicos chineses é uma óbvia refutação dessa opinião”.
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A guerra fria entre China e EUA matará a globalização com repercussões sobre os investimentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU