Eleições europeias: que futuro está diante da Igreja e das pessoas comuns?

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16 Mai 2019

Os europeus vão às urnas de 23 a 26 de maio para eleger um novo Parlamento Europeu, que, por sua vez, escolherá um novo presidente da Comissão Europeia – na verdade, a coisa mais próxima que a Europa tem de um líder. Isso está acontecendo em um momento em que o futuro da Europa parece estar mais em disputa do que em qualquer outro momento desde o pós-guerra.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 15-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eventos recentes em Roma aparentemente captaram as opções básicas oferecidas – que, é claro, têm paralelos com a situação política nos EUA quando a corrida eleitoral de 2020 começa a esquentar.

Por um lado, dois eventos na segunda-feira deixaram alguns observadores especulando sobre a possibilidade de uma aliança católico-progressista como uma alternativa à ascensão do nacionalismo de direita.

Na segunda-feira à tarde, o prefeito Domenico “Mimmo” Lucano, da pequena cidade de Riace, no sul da Itália, com 2.300 habitantes, recebeu as boas-vindas de um herói na Universidade La Sapienza” de Roma, onde foi convidado para falar sobre a convivência.

Apesar do pequeno tamanho da sua cidade, Lucano tornou-se uma celebridade nacional e internacional por aquilo que ficou conhecido como o “Modelo Riace” em meio à crise migratória da Europa. Há 10 anos, Lucano convidou cerca de 450 migrantes e refugiados para se estabelecerem em Riace, junto com os 1.800 habitantes originais, e eles conseguiram, criando um exemplo notável de acolhida e integração.

No entanto, Lucano também enfrentou investigações e acusações, incluindo uma acusação de providenciar certidões de casamento falsas para ajudar os migrantes a obterem a cidadania italiana.

Enquanto a sua aparição na Sapienza se aproximava, um grupo anti-imigrantes de extrema-direita chamado Forza Nuova anunciou que tentaria impedi-lo de entrar. A publicidade saiu pela culatra, pois uma multidão enorme composta principalmente por jovens de esquerda apareceu para acolher Lucano ao estilo de Bernie Sanders.

Ao mesmo tempo, a cerca de 10 minutos a pé, uma coletiva de imprensa estava sendo realizada em um prédio ocupado desde 2013 por cerca de 450 ocupantes, italianos e estrangeiros, que não têm outro lugar para ir. Eles têm o apoio de um grupo de ativistas urbanos chamado “Spin Time”, que administra um teatro lá, um centro de reuniões, um restaurante, e até mesmo uma taverna e um laboratório para cervejas artesanais.

Recentemente, a companhia de energia elétrica italiana reivindicou aquilo que ela afirma ser cerca de 340.000 dólares em contas não pagas no local, e, no dia 6 de maio, os técnicos lacraram os contadores de luz para interromper o fluxo de corrente. Isso deixou os residentes sem energia até sábado, quando o cardeal polonês Konrad Krajewski, que dirige a atividade de caridade pessoal do papa, supostamente teria descido em um bueiro, rompido os lacres e religado a eletricidade.

Na segunda-feira, o Spin Time realizou uma coletiva de imprensa no local e anunciou que ofereceria a Krajewski um título de membro honorário do grupo, assim como para o Papa Francisco.

A justaposição de Lucano e Krajewski, ambos agitando a situação no mesmo momento para desafiar políticas “duras”, deixou muitos observadores refletindo sobre o reavivamento daquele que era, antigamente, um pacto tácito entre os católicos e os comunistas contra o fascismo italiano.

Na outra ponta, está o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, o chefe de fato da coalizão dominante do país, e o sentimento populista anti-imigrante em toda a Europa que ele representa.

Salvini fez uma severa crítica pública a Krajewski, desafiando-o a pagar as contas atrasadas do prédio ocupado e a ajudar os italianos que lutam para sobreviver sem violar nenhuma lei. Salvini tem uma longa história de atritos com a Igreja, tendo brandido publicamente um terço e uma Bíblia, uma vez, para jurar fidelidade – não ao papa ou ao ensino social católico, mas sim ao povo italiano, enquanto prometia uma cruzada contra a “imigração em massa”.

O contraste entre esses dois polos – aqueles que os italianos chamariam de “buonisti”, ou “pessoas do bem”, e os “duri”, ou seja, os “linhas-duras” – é bastante claro. A batalha ocorre com o povo comum no meio, e o júri parece ter ido embora.

No domingo à noite, eu estava em um dos meus restaurantes romanos favoritos. O proprietário é alguém que eu conheço há duas décadas, um homem bom que atua como um pilar do bairro. Ele sabe que eu cubro o Vaticano, então, quando estávamos do lado de fora fumando, ele começou uma conversa dizendo: “Você sabe, às vezes eu simplesmente não entendo esse papa”.

Ele se referia ao fato de que Francisco havia se encontrado com membros das comunidades ciganas da Itália no dia 9 de maio, instando-os a não perderem a esperança em um futuro sem discriminação.

“Veja, se alguém vem aqui para trabalhar, para pagar impostos, para criar uma família saudável, eu estou 100% pronto para acolhê-los”, disse o meu amigo. “Mas, se eles vêm aqui para roubar, enganar, criar problemas, então que tipo de boas-vindas eu devo dar?”

“Todo mundo sabe dos problemas dos ciganos”, disse. “Se o papa quer acolhê-los, que tal dizer-lhes também que parem de roubar?”

Para ser claro, meu amigo não é ideólogo. Ele é simplesmente o dono de um pequeno negócio, tentando chegar ao fim do dia sem ver seus clientes sendo incomodados ou roubados, e fica exasperado quando alguém parece entender isso como racismo ou dureza de coração.

Talvez, o catolicismo orientado para a justiça social associado ao Papa Francisco possa se tornar parte de uma alternativa política significativa ao populismo à la Salvini na Itália e alhures, forjando alianças com o tipo de pessoas que olham para o pontífice e para o prefeito Mimmo Lucano como heróis.

Se assim for, o preço da admissão pode ser fazer justiça às preocupações de pessoas como o meu amigo dono de restaurante – que, se devemos acreditar nas pesquisas, dificilmente está sozinho. Independentemente do que acontecer na Europa neste mês, trata-se de uma questão que os norte-americanos também devem ponderar ao se prepararem para 2020.

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