23 Abril 2019
Passados quase três meses da tragédia de Brumadinho (MG), 32 barragens da mineradora Vale sediadas em Minas Gerais estão com as atividades interditadas.
A reportagem é de Léo Rodrigues, publicada por Agência Brasil, in EcoDebate, 22-04-2019.
A suspensão das operações destas estruturas tem ocorrido tanto por decisão da Justiça, como também da Agência Nacional de Mineração (ANM), da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) ou da própria mineradora.


A pedido da Agência Brasil, a Vale listou 30 estruturas que estão interditadas. Dessas, três estão na Mina Córrego do Feijão, onde também fica a barragem que se rompeu no dia 25 de janeiro. Além de Brumadinho, as estruturas com operações suspensas se situam nas cidades mineiras de Nova Lima, Ouro Preto, Itabirito, Itabira, Barão de Cocais, Rio Piracicaba e Mariana.
Outras duas barragens localizadas em Sabará (MG) – Galego e Dique da Pilha 1 – não apareceram na relação da Vale, mas são alvo de uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) publicada no dia 9 de abril. Foi determinada, entre outras medidas, a interrupção imediata de qualquer atividade que importe elevação e incremento de risco de rompimento nessas estruturas de contenção de rejeitos.
Questionada sobre a ausência das duas barragens na lista, a Vale informou que ainda não foi notificada da decisão e que adotará as medidas cabíveis quando tomar conhecimento de seu teor. “Importante destacar que a barragem Galego já estava inativa e possui declaração de condição de estabilidade, enquanto o Dique da Pilha 1 já foi descaracterizado”, acrescentou a mineradora em nota.
Liminares do TJMG chegaram a atingir a barragem Laranjeiras e outras estruturas da Mina de Brucutu, a maior de Minas Gerais, situada no município de São Gonçalo do Rio Abaixo. Na semana passada, porém, a mineradora anunciou ter conseguido aval da Justiça para retomar as atividades.
A Vale não planeja voltar a operar em todas estruturas interditadas. Pelo menos nove delas estão em processo de descomissionamento, conforme anúncio feito cinco dias após a tragédia de Brumadinho. Além dessas nove, também está sendo descaracterizada a barragem que se rompeu. Todas elas são alteadas pelo método a montante.
Considerado menos seguro, o método de alteamento a montante está associado não apenas à ruptura em Brumadinho, como também em Mariana, no ano de 2015, quando 19 pessoas morreram após o vazamento de rejeitos em um complexo da mineradora Samarco, joint-venture da Vale e da anglo-australiana BHP Billiton. De acordo com a mineradora, o processo de descomissionamento deve ser concluído em aproximadamente 3 anos.
Evacuações
As buscas por vítimas em Brumadinho permanecem. Na última sexta-feira (19), a Defesa Civil de Minas Gerais retirou cinco nomes da lista de desaparecidos por solicitação da Polícia Civil. O motivo não foi informado. Dessa forma, o número de pessoas que não foram encontradas foi atualizado para 41. Até o momento, 231 corpos foram resgatados.
Em decorrência da tragédia, 271 pessoas estão fora de suas casas, segundo dados da Vale fornecidos na última terça-feira (16). Brumadinho, porém, não é a única cidade onde a mineradora precisou evacuar áreas de risco. A medida foi adotada em alguns municípios onde barragens foram interditadas. Isso ocorreu nos casos em que o nível de segurança da estrutura alcançou 2 ou 3, índices associados ao risco de rompimento.
Em todo o estado, são mais de mil atingidos pelas evacuações. Além dos 271 de Brumadinho, 755 moradores de outras cidades estão fora de suas casas. O município mais afetado é Barão de Cocais, onde 456 pessoas não sabem quando poderão retornar às suas residências. Evacuações também afetam Nova Lima, Ouro Preto e Rio Preto.
O nível 2 de segurança é obrigatoriamente acionado quando a declaração de estabilidade é negada. O documento deve ser fornecido por uma empresa terceirizada contratada pela mineradora para avaliar suas estruturas. Entre os alvos das investigações em torno do rompimento da barragem em Brumadinho, estão os engenheiros da consultora alemã Tüv Süd, que forneceu à Vale a declaração de estabilidade. Desde então, diversas empresas, inclusive a própria Tüv Süd, têm anunciado a reavaliação de algumas barragens a partir de critérios mais rígidos.
Já o nível 3 é o alerta máximo que significa risco iminente de ruptura. Atualmente há quatro barragens nesta situação: Forquilha I e Forquilha III, em Ouro Preto; B3/B4 em Nova Lima; e Sul Superior, em Barão de Cocais.
Confira a lista de todas as barragens interditadas
BRUMADINHO
1) Barragem VI, da Mina Córrego do Feijão
2) Barragem Menezes I, da Mina Córrego do Feijão
3) Barragem Menezes II, da Mina Córrego do Feijão
NOVA LIMA
4) Barragem Vargem Grande, do Complexo de Vargem Grande (em descomissionamento)
5) Dique III, do Complexo de Vargem Grande
6) Barragem Captação Trovões, do Complexo de Vargem Grande
7) Dique Taquaras, da Mina de Mar Azul
8) Barragem B3/B4, da Mina de Mar Azul (em descomissionamento)
9) Dique B, da Mina de Capitão do Mato
10) Barragem Capitão do Mato, da Mina de Capitão do Mato
11) Dique Auxiliar da Barragem 5, da Mina de Águas Claras
12) Barragem 8B, da Mina de Águas Claras (em descomissionamento)
13) Barragem Fernandinho, da Mina Águas Claras (em descomissionamento)
OURO PRETO
14) Barragem Forquilha I, do Complexo de Fábrica (em descomissionamento)
15) Barragem Forquilha II, do Complexo de Fábrica (em descomissionamento)
16) Barragem Forquilha III, do Complexo de Fábrica (em descomissionamento)
17) Barragem Forquilha IV, do Complexo de Fábrica
18) Barragem Grupo, do Complexo de Fábrica (em descomissionamento)
19) Barragem Marés II, do Complexo de Fábrica
20) Barragem Doutor, da Mina de Timbopeba
21) Barragem Natividade, da Mina de Timbopeba
22) Barragem Timbopeba, da Mina de Timbopeba
ITABIRITO
23) Barragem Maravilhas I, da Mina do Pico
24) Barragem Maravilhas II, da Mina do Pico
ITABIRA
25) Dique Cordão Nova Vista, da Mina de Cauê
26) Dique Minervino, da Mina de Cauê
27) Dique 02, do sistema de barragens de Pontal
BARÃO DE COCAIS
28) Barragem Sul Superior, da Mina de Gongo Soco (em descomissionamento)
RIO PIRACICABA
29) Barragem Diogo, da Mina Água Limpa
MARIANA
30) Barragem Campo Grande, da Mina de Alegria
SABARÁ
31) Barragem Galego, da Mina Córrego do Meio
32) Dique da Pilha 1, da Mina Córrego do Meio
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Quase 3 meses após tragédia de Brumadinho (MG), 32 barragens da Vale estão com as atividades interditadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU