“Está na hora de implementar o que dizia o Vaticano II sobre os leigos”

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

10 Julho 2017

“O futuro da Igreja depende dos leigos” e esse futuro começa já. O cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, está mais do que convencido de que “este é o momento na vida da Igreja em que realmente podemos tentar implementar aquilo de que já falava o Vaticano II: o papel dos leigos”.

A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 08-07-2017. A tradução é de André Langer.

Em uma entrevista concedida à revista America, o cardeal norte-americano – que reside no Vaticano desde agosto do ano passado – lamenta os “mal-entendidos e a confusão” que cercaram em um momento ou outro o apelo conciliar de que todo o Povo de Deus deve assumir o protagonismo que lhe corresponde como batizados. Mal-entendidos que, às vezes, produziram até “lutas internas” entre diferentes sensibilidades na Igreja – para não dizer que nos fizeram “perder muito terreno e muito tempo” – mas que, com o exemplo do Papa Francisco, já parecem águas passadas.

“Os leigos têm uma vocação a desempenhar na Igreja, e estou firmemente convencido de que o futuro da Igreja depende deles”, disse o cardeal bem quisto e afável, inclusive em seu antigo cargo como bispo de Dallas. “Sempre senti a necessidade de promover os leigos dentro da Igreja e dentro da sua organização”, acrescenta.

Desejo este de dar voz aos fiéis comuns que, como conta o cardeal, o Papa Francisco compartilha plenamente. “Cada vez que o vejo em cerimônias ou eventos, sempre se aproxima e se interessa para saber como vão as coisas”, revela Farrell. “Ele está muito interessado em saber como vai tudo”.

E em relação a como vão as coisas no plano dos funcionários do dicastério, o prefeito revela que, após duas novas contratações nos últimos meses – do padre brasileiro Alexandre Awi Mello como secretário e da leiga consagrada espanhola Marta Rodríguez como diretora do departamento de assuntos da mulher – agora está mergulhado na busca de um leigo ou uma leiga para coordenar a seção da família.

“Gostaria de poder contar para este departamento com um homem ou uma mulher que esteja casado/a e que tenha uma família, porque teria mais credibilidade e, além disso, você deve ter alguém no comando que entenda a vida e a família, a moralidade e todo o resto”, afirma o cardeal Farrell.

Em relação ao trabalho, por outro lado, Farrell não duvida em destacar que o enfoque em seu dicastério está firmemente fixado no apelo de Francisco para ser “uma Igreja em saída, uma Igreja missionária”. Sobretudo nas visitas ad limina, onde “temos que ouvir o que está acontecendo, assimilar o que os bispos nos contam e não ter respostas preparadas de antemão”. “Às vezes, no passado, nós [os oficiais do Vaticano] nos precipitávamos em responder e dizer aos bispos o que eles tinham que fazer”, lamenta.

Este novo método no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida – de “ouvir” os bispos e “entrar em diálogo” com eles – já produziu importantes frutos, declara o cardeal. Sobre a Amoris Laetitia, por exemplo, em relação à qual, revela, após oito visitas ad limina, “nenhum [bispo] teve nada de negativo” a dizer. “Ela está sendo muito bem recebida na Igreja”, disse Farrell com respeito à exortação apostólica, embora esteja consciente de que alguns não concordam com seu conteúdo.

“A maioria dos bispos a acolhe bem, mas há alguns deles que têm medo de abrir-se a uma Igreja que é mais acolhedora e mais misericordiosa”, disse o cardeal. “Creio que, às vezes, gostariam que as coisas fossem preto no branco, mas a vida humana nem sempre é assim. Queremos respostas imediatas, respostas fáceis, mas elas não existem”.

E no que diz respeito ao seu “chefe”, o Papa, o cardeal Farrell revela que este período de quase um ano que esteve ao seu lado no Vaticano só o fez aprofundar seu respeito por um homem que considera “muito pensativo, profundamente espiritual, carinhoso e envolvido”.

“Ele me impressiona”, confessa o cardeal, como poucos o impressionaram no passado: “no sentido de ser como Cristo”.

“Ele não é uma pessoa midiática nem um homem do espetáculo”, aprofunda Farrell. “Mas o que faz... com todos, quando está falando com você: é como se você fosse a única pessoa em todo o mundo pela qual tivesse que se preocupar”. O segredo, acrescenta o prefeito, de “por que é tão popular”: sua maneira “atrai e faz as pessoas voltarem à Igreja”.

Leia mais