Documentário do papa entra na corrida pelo Oscar

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28 Junho 2017

Um documentário sobre o papa no Oscar. A Secretaria de Estado vaticana deu o seu placet a que o curta-metragem, apresentado na manhã dessa terça-feira, 27, no Vaticano, e dedicado à arte segundo o Papa Bergoglio, concorra ao prêmio cinematográfico mais importante do mundo no próximo ano. Ele entra com todo o direito na nomeação, porque é a primeira vez que o Estado vaticano apresenta uma obra em Hollywood.

A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 27-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“A minha ideia de arte” é o título de um trabalho escrito por Tiziana Lupi com a consultoria de Sandro Barbagallo, com o propósito preciso de mostrar quais obras de arte Francisco aprecia e por quê. Inspirado em um livro editado pela própria Lupi junto com o papa, o documentário, dirigido por Claudio Rossi Massimi, é produzido pela Imago Film e pelos Museus Vaticanos.

Não só Bramante, Rafael, Michelangelo e Bernini. Para Francisco, cujos discursos sobre o tema são retomados no documentário, dentro dos muros leoninos, têm direito de existir também outros artistas, muitos dos quais refletem a visão própria do primeiro pontífice que optou por se chamar de Francisco, pastor dos pobres, vigário dos descartados.

Dentre eles, o escultor canadense Timothy P. Schmalz, que realizou um “Jesus sem-teto” posicionado fora da Esmolaria apostólica, lá onde, todos os dias, os pobres batem para pedir ajuda. O Nazareno é representado como um homeless, estendido em um banco, o corpo envolvido em um cobertor para protegê-lo do frio.

Tudo é sinal, para Francisco. Assim também a escolha de colocar dentro do Vaticano algumas obras significa falar, dizer, comunicar. Ou, como o próprio Bergoglio disse no livro editado por Lupi, recordar que também existem os descartados. E, junto com eles, aqueles artistas que trabalham com os rejeitos mostram que sempre é possível “abrir horizontes onde parece que eles já não existem mais”.

Um desses artistas é Alejandro Marmo. Argentino, o seu “Cristo operário” mostra-se no coração dos jardins vaticanos. Pedaços de portas antigas, correntes enferrujadas, sucata de metal espalhada. Juntos, deram a forma de um Jesus pendurado na cruz. O Cristo abandonado por todos, até mesmo pelo Pai, revive naquelas peças abandonadas e colocadas novamente juntas pela fantasia de Marmo. “A minha obra nos jardins é um sinal – disse o próprio Marmo – que recorda que a Igreja ou é para os pobres, os últimos e os descartados, ou não é.”

Francisco obviamente aprecia também obras já presentes no Vaticano desde antes da sua chegada. Por exemplo, “O Torso Belvedere”. O Papa Júlio II, admirando a escultura do século I a.C. do ateniense Apolônio, tinha pensado em deixar que fossem adicionadas as partes que faltavam por parte de Michelangelo, de modo a isentá-la daquele efeito de descarte que a caracteriza. Conta Francisco: “Michelangelo, porém, compreendeu que o Torso, embora na sua mutilação, continha em si uma possibilidade de invenção e inspiração para muitos artistas que o estudariam também no futuro, a ponto de decidir não pôr a mão nela”.

Entre os 11 exemplos de obras de arte dignas de nota que são propostas no documentário, Francisco também inseriu surpreendentemente um carro, não por acaso exposto nos Museus Vaticanos. É um Renault 4 branco, emplacado em 1984. Ele pertenceu ao Pe. Roberto Zocca, padre durante anos na periferia de Verona. Fundador da cooperativa L’Ancora, que dá trabalho e assistência a tantas pessoas, o Pe. Zocca percorreu com o seu Renault mais de 300.000 quilômetros: “Eu queria encarnar o Concílio naquela paróquia de periferia, que foi o coração da minha vida”, diz. Francisco aceitou esse Renault de presente em 2013, por ser o “símbolo de uma história de misericórdia e caridade”.

O Papa Bergoglio não é um especialista em arte. Sabe-se que, desde os tempos de Buenos Aires, ele apreciava a “Crucificação Branca”, de Chagall, mesmo sem ser um cultor da matéria. Mas ele sempre teve uma grande consideração pela arte. Ele a considera como um instrumento de evangelização e um sistema eficaz para combater a cultura do descarte.

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