Sérgio Machado e Romero Jucá: diálogo entre um fazendeiro e um minerador

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25 Mai 2016

 

No dia 18, quarta-feira, 2 mil famílias de sem-terra que ocupavam desde março a fazenda Santa Maria, no oeste do Paraná, foram expulsas pela polícia do governador Beto Richa, a mando do Judiciário. Um dos donos da fazenda, ao lado dos irmãos? Sérgio Machado, ele mesmo, o ex-presidente da Transpetro – agora famoso por causa das conversas pouco republicanas com o senador Romero Jucá (PMDB-RR). “Homens, mulheres, crianças e até um cadeirante foram expulsos com extrema violência para garantir uma propriedade adquirida com dinheiro oriundo da corrupção”, resume o jornalista Aluizio Palmar.

O comentário é de Alceu Luís Castilho, jornalista, publicado por Outras Palavras, 24-05-2016.

Do outro lado do Brasil, Jucá. Dono de TV (em nome dos filhos), minerador. Entre outras cositas más. “Em 1987, em plena epidemia de malária e gripe, trazida pela invasão de garimpeiros, o então presidente da Funai, Romero Jucá, alegando razões de segurança nacional, retira as equipes de saúde da área Yanomami”. É um trecho do relatório final da Comissão Nacional da Verdade. Resultado? Aumento de 500% dos casos de malária. “Mais de 4 mil yanomamis morreram de malária, tuberculose, de assassinato”, resume o líder indígena David Kopenawa.

Avancemos no relatório:

– O caso mais flagrante de apoio do poder público à invasão garimpeira se deu na gestão de Romero Jucá à frente da Funai, na região do Paapiu/Couto de Magalhães, onde o garimpo se iniciou a partir da ampliação de uma antiga pista de pouso pela Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (Comara), em 1986. A Funai e os demais agentes públicos abandonaram a região, deixando a área livre para a ação dos garimpeiros.

Diz o relatório que a inoperância da Funai na retirada dos garimpeiros, agravada pela expulsão dos profissionais de saúde, “teve como consequência direta as mortes decorrentes de conflitos”.

Conflito de interesses

A fortuna de Romero Jucá vem em boa parte da mineração. A maior parte dos bens foi transferida ainda nos anos 90 para os filhos, sócios de 12 empresas. O que não o impede de fazer projetos de lei relativos ao setor. Ele é autor de uma PEC que permite a exploração mineral dentro das reservas indígenas. Essa prática – muito comum no Congresso – atende pelo nome de conflito de interesses. E tudo pode sempre ser pior: David Kopenawa diz que Jucá e sua fam&ia cute;lia incentivam a invasão de terras indígenas por garimpeiros.

O senador foi afastado do Ministério do Planejamento não por seu histórico peculiar. mas porque foi flagrado em uma conversa conspiradora. Golpista. O que um político como ele pode planejar? A serviço de quem? Neste texto de 2013 explico a teia de interesses que liga políticos às mineradoras. Especialmente do PMDB – o partido que chega mais um vez por vias tortas ao poder. Conto também uma curiosa história – enterrada pelo STF – sobre a relação entre Romero Jucá e uma empreiteira (sempre as empreiteiras), a Diagonal. O ministro Dias Toffoli não viu problema nenhum no caso.

Machado e Jucá resumem a face violenta e ilegal do Brasil rural. Esse da grilagem, da invasão de terras indígenas, da expulsão de camponeses. E que sempre acaba ganhando o aval do Judiciário. Ou do governo de plantão – golpista ou não. Das incursões do ex-presidente da Transpetro pelo oeste do Paraná (região que também dizimou indígenas, ao longo do século 20) às estripulias de Jucá, temos um mesmo Brasil arcaico. Que, em meio ao nosso sistema político ruralista, costuma ser muito bem representado em Brasília.

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