Destruída pela guerra síria, Aleppo oscila entre vida "normal" e bombardeios

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05 Mai 2016

Na borda da antiga cidadela de Aleppo, Zahra e sua família estavam agachados em um apartamento que já foi imponente, mas hoje está diante das linhas rebeldes. Folhas plásticas cobriam as janelas altas para ocultar o espaço da visão de um franco-atirador. Bombas ecoavam à distância.

Zahra, 25, que só quis dar seu prenome, olhava alternadamente para duas fotos em seu telefone. A primeira era de seu marido, um soldado do Exército sírio e pai de seu filho, ainda em gestação. "Estou de sete meses", disse ela, tocando a barriga.

A reportagem é de Declan Walsh, publicada por The New York Times e reproduzida por Portal Uol, 05-05-2016.

Na segunda foto, seu marido está esparramado no chão, com sangue escorrendo do nariz. Há dois outros soldados caídos ao seu lado. Ele morreu há duas semanas. "Que os homens que fizeram isso também morram", disse Zahra com uma tranquila determinação.

Quatro anos de guerra endureceram os corações em Aleppo, uma cidade dividida e cenário de lutas impiedosas na última semana.

Uma trégua frágil, negociada pelos EUA e a Rússia, desmoronou na Síria, levando à pior violência em muitos meses. Jatos de combate russos rugem pelo céu, atacando alvos nas áreas ocupadas por rebeldes. Estes disparam rodadas de morteiros e mísseis caseiros que caem em bairros populosos. A guerra atiçou as tensões sectárias e se tornou uma batalha por interesses regionais e globais.

A maior parte dos mortos são civis - pelo menos 202 na semana passada -, cerca de dois terços em áreas nas mãos de rebeldes no leste e as restantes no lado controlado pelo governo, a oeste, segundo grupos que monitoram as baixas. A violência mostra "uma monstruosa desconsideração pela vida dos civis", declarou na sexta-feira (29) o chefe de direitos humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein.

Uma das cidades mais antigas do mundo, Aleppo é conhecida há séculos como uma encruzilhada de impérios, com influências otomanas, armênias, judaicas e francesas. Hoje a única maneira de entrar, no lado do governo, é por uma estrada solitária que corta território hostil: uma faixa de asfalto esburacado que passa por aldeias desertas e destacamentos isolados do governo.

Eu viajava com meu intérprete e um monitor do governo sírio. O tráfego se movia em ritmo rápido: rebeldes sírios detinham território a leste da estrada e militantes do Estado Islâmico, a oeste.

Nossa primeira visão de Aleppo foi de seus bairros arrasados, no sul  - uma vista de devastação que se tornou uma imagem familiar no conflito que já dura tantos anos na Síria.

Como muitas zonas de guerra, outras partes se agitavam com uma aparente normalidade. Guardas de trânsito orientavam os veículos, crianças sorridentes saíam das escolas e compradores lotavam as lojas de comida e perfumes artesanais. A população parecia estranhamente imune ao ruído das explosões ao fundo - surdos, roucos ou estridentes -, que constituem um metrônomo mortal em sua existência cotidiana.

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