2017: Do Conflito à Comunhão?

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01 Fevereiro 2016

"Há o risco de elevar a "unidade" ao absoluto princípio, um pequeno "deus" alegando preeminência. É preciso coragem para fazer a unidade dependente das verdades bíblicas e não elevando-a para o lugar de "primeiro imperativo", escreve Leonardo de Chirico, teólogo, especialista no Vaticano, e pastor evangélico em Roma, em artigo publicado por Evangelical Focus, 20-01-2016. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.

Segundo ele, "no mundo ecumênico de hoje, quando a unidade está em perigo de ser idolatrada, é preciso coragem para afirmar que a Bíblia está acima da tradição e da Igreja, que Cristo é o único mediador, que a graça é tudo que você precisa para a sua salvação, e que Deus é um Deus ciumento".

Eis o artigo.

Em 31 de outubro de 1517 Martinho Lutero publicou as 95 teses em Wittenberg e esta ação é simbolicamente considerada como o divisor de águas que desencadeou a Reforma.

O aniversário será uma grande oportunidade para rever historicamente e reavaliar teologicamente o que o protestantismo representava no século XVI e qual o seu significado para nós hoje. Isto é especialmente verdade para aqueles que se identificam como protestantes e apreciam serem chamados de protestantes.

Comemoração, não Celebração

Um ponto de entrada na reflexão sobre o próximo aniversário é o documento recém-lançado intitulado “From Conflict to Communion. Lutheran-Catholic Common Commemoration of the Reformation in 2017” (Do Conflito à Comunhão. Luterano-Católica Comemoração Comum da Reforma em 2017). É uma declaração conjunta entre o Vaticano e a Federação Luterana de 90 páginas, que tenta resumir o que aconteceu no século XVI, as controvérsias que surgiram, e a re-interpretação ecumênica do todo à luz das preocupações urgentes ecumênicas. É um "estado de arte" detalhado do ecumenismo atual, seus padrões de pensamento, sua linguagem e ordem.

Observe que a palavra escolhida não é "celebração" mas "comemoração". Celebração teria implicado um elemento de festa sóbria em lembrar a Reforma com uma atitude de ação de graças, embora não escondendo as "páginas sombrias" da história protestante.

Pelo contrário, apesar de tudo o que é dito em círculos católicos romanos sobre Lutero ser "uma testemunha de Jesus Cristo", o ecumenismo não pode celebrar a Reforma. Ele só pode comemorá-la. O catolicismo oficial romano, até mesmo o pós-Vaticano II e a versão ecumenicamente dele, só pode comemorá-la. Isso é, só pode lembrar, ponderar e refletir sobre ela. No entanto, é o legado permanente da Reforma que deve apenas ser comemorado? O chamado para retornar às Escrituras não deve ser comemorado? Uma fé centralizada em Cristo, na dependência da graça, na exaltação a Deus não deve ser comemorada, mas apenas lembrada?

O Primeiro Imperativo Ecumênico?

Depois de fornecer um resumo cuidadosamente escrito das principais questões que dividiam a reforma (luterana) e do catolicismo romano, o documento termina sugerindo cinco imperativos para a preparação para a comemoração. O primeiro é o seguinte: "católicos e luteranos devem sempre começar a partir da perspectiva de unidade e não a partir do ponto de vista da divisão, a fim de fortalecer o que é realizado em comum, embora as diferenças são mais facilmente vistas e experimentadas".

Unidade, e não a verdade no amor, é a coisa principal. O primeiro imperativo é a unidade acima de tudo. Isso, no entanto, não é a melhor maneira de honrar a Reforma. Entre muitas deficiências, a Reforma foi, todavia, um grito para ter a própria consciência e da igreja ligada à Palavra de Deus. Este foi o "primeiro imperativo" da Reforma do qual tudo o mais seguiu, incluindo unidade. Ele está dizendo que, depois de 500 anos, a prioridade primordial é a unidade, substituindo a autoridade da Palavra de Deus.

Há o risco de elevar a "unidade" ao absoluto princípio, um pequeno "deus" alegando preeminência. Talvez este seja o "ídolo" ecumênico do dia que precisa ser endereçado em um caminho "protestante", como por exemplo, reformular a unidade sob a Palavra de Deus e não o contrário.

Não Orgulho Protestante, mas a "Coragem" de ser Protestante

Em alguns círculos protestantes, pode haver o risco de identificar o aniversário de 500 anos como se fosse um desfile de "orgulho", que é tão comum hoje em dia. A tentação é idolatrar a Reforma como se fosse uma "idade de ouro" da Igreja. Isso seria totalmente contrário ao que os reformadores representavam e iria contra o melhor da herança evangélica protestante.

Ao comemorar Deus pelas grandes coisas que a Reforma trouxe de volta à Igreja (Cristo isoladamente, Graça isoladamente, Fé isoladamente), deve haver uma percepção razoável dos muitos pecados em torno da Reforma. A fé bíblica deveria sempre ser autocrítica e honesta, nunca levando à autocelebração.

Em 2008, David Wells escreveu um livro cujo título indica um caminho mais frutífero para honrar a Reforma: The Courage to be Protestant (A Coragem de ser Protestante). É preciso coragem para viver sob a Palavra de Deus e para falar profeticamente, agir de forma sacerdotal, e viver como uma pessoa do reino. No mundo ecumênico de hoje, quando a unidade está em perigo de ser idolatrada, é preciso coragem para afirmar que a Bíblia está acima da tradição e da Igreja, que Cristo é o único mediador, que a graça é tudo que você precisa para a sua salvação, e que Deus é um Deus ciumento.

É preciso coragem para fazer a unidade dependente destas verdades bíblicas e não elevando a unidade para o lugar de "primeiro imperativo". Onde estes cristãos corajosos estiverem, a Reforma será devidamente celebrada. Caso contrário, ela será somente comemorada.

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