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22 Janeiro 2016

'As vitrines e anúncios das tecnologias de vanguarda contrastam com as crianças carregadas com sacos cheios de pedras e minérios expostas a sofrer danos pulmonares permanentes', aponta Anistia Internacional.

A reportagem é de Gabriela Sánchez, publicada por El Diario e reproduzida por Opera Mundi, 21-01-2016.

As dores musculares de Paul e os problemas pulmonares que tem são frequentes demais para quem tem pouco mais de 10 anos. E também os gritos ouvidos, os abusos físicos e psicológicos e as dezenas de horas de trabalho diário em uma mina. Ele recebe um dólar e meio em cada jornada de extração de cobalto, material fundamental para a fabricação de baterias que acabam sendo comercializadas por uma empresa chinesa cujos produtos, por sua vez, abastecem a Volkswagen, a Apple, a Microsoft, a Samsung ou a HP, segundo documentos aos quais a Anistia Internacional teve acesso.

Crianças realizam atividades sem proteção e sem respaldos de segurança
Foto: Anistia Internacional

Uma investigação da Anistia Internacional e da Afrewatch seguiu o rastro do cobalto obtido das minas artesanais da República Democrática do Congo, onde centenas de menores são explorados. A equipe de ambas as organizações perseguiu os veículos que transportam o material até os mercados onde acabam sendo comprados por empresas maiores que, por sua vez, afirmam fornecer a conhecidas multinacionais.

"Passava 24 horas ali embaixo, nos túneis. Chegava pela manhã e saía na manhã seguinte”, diz Paul, órfão de 14 anos, aos investigadores da ONG. Está trabalhando na mina desde os 12 anos, quando a escola deixou de fazer parte de sua rotina. “Minha mãe adotiva queria que eu fosse à escola, mas meu pai adotivo era contra e me explorava fazendo-me trabalhar na mina.”

Segundo a Anistia Internacional, boa parte do material resultante dos abusos sofridos por menores como Paul acaba na filial congolesa CDM, propriedade da gigante chinesa de comércio de minerais Huayou Cobalt, abastecedora de cobalto de três fabricantes de componentes de baterias de íons de lítio: duas com sede na China (Ningbo Shanshan e Tianjin Bamo) e uma na Coreia do Sul (L&F Materials), informam na Anistia. Em 2013, as três empresas compraram cobalto da Huayou Cobalt no valor de 90 milhões de dólares.

Mulheres realizam atividade de mineração artesanal
Foto: Anistia Internacional

Então, a Anistia Internacional teve acesso às listas de clientes “diretos e indiretos” dessas três empresas, e encontrou marcas reconhecidas mundialmente: Apple, Volkswagen, Microsoft, Samsung, Sony e HP.

A entidade assegura que nenhuma dessas multinacionais proporcionou dados suficientes para que pudesse verificar de modo independente de onde procede o cobalto de seus produtos. Por essa razão, concluiu que “não levam em conta os riscos para os direitos humanos”. Não podem demonstrar se a origem da bateria de seus produtos está em uma dessas minas que Mathy descreve com horror. Ela recorda os maus-tratos e extorsões por parte dos guardas da segurança da extração em 2012, quando tinha 12 anos.

Gráfico da Anistia Internacional mostra o comércio de cobalto proveniente da RDC

“Eles pediram dinheiro, mas não tínhamos. Pegaram minha amiga e a empurraram até um tanque que continha óleo diesel. Eu corri. Fui capaz de fugir. Tinha medo, escapei e me escondi, mas vi o que aconteceu. Chorei...”, relata a menor. Esse tipo de extorsão e abuso se repete em outros depoimentos apresentados no relatório da Anistia Internacional.

As condições de trabalho descritas pelos menores são análogas à escravidão. “Todas as tarefas realizadas pelas crianças nas minas as obrigam a carregar sacos pesados do mineral. As crianças afirmam levar sacos de 20 a 40 quilos”, denuncia a Anistia Internacional em seu relatório. A organização recorda que suportar essas grandes cargas de forma habitual “pode dar origem a danos a longo prazo, como deformidades articulares e ósseas, lesões nas costas ou musculares”, acrescentam.

Löic, outro menor que passou pela mina, se lembra do pó que dificultava sua respiração. “Há um montão de pó, é muito fácil pegar resfriados, e o corpo todo da gente dói”, disse o pequeno em depoimentos recolhidos pela Anistia Internacional.

Doenças pulmonares são as mais comuns entre mineradores
Foto: Anistia Internacional

“As fascinantes vitrines e anúncios das tecnologias de vanguarda contrastam nitidamente com as crianças carregadas com sacos cheios de pedras e minérios que desfilam pelos estreitos túneis escavados artificialmente, expostas a sofrer danos pulmonares permanentes”, destaca Mark Dummet, investigador da Anistia Internacional sobre Empresas e Direitos Humanos.

"Os abusos cometidos nas minas são como o dito ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’ porque no mercado global de nossos dias os consumidores nem têm ideia das condições existentes na mina, na fábrica, na linha de montagem. Comprovamos que o cobalto é comprado sem que se façam perguntas sobre como e onde foi extraído”, sustenta Emmanuel Umpula, diretor-executivo da Afrewatch.

No Twitter, a Anistia Internacional Catalunha está fazendo uma campanha para cobrar das empresas de tecnologia um posicionamento sobre o uso de cobalto proveniente das minas artesanais da RDC. Na postagem abaixo, leitor é questionado se o aparelho de telefone inteligente que utiliza é resultante da exploração de crianças da RDC:

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