"Mudanças mais rápidas se Bergoglio procedesse sozinho. A Igreja precisa de tempo". Entrevista com Adolfo Nicolás

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07 Outubro 2015

"Veja, o Papa não quer caminhar sozinho. Certamente, sozinho poderia andar mais rápidamente. Poderia ser uma 'estrela' ('star'), sobretudo agora que tem o apoio do povo. Mas não quer. Não lhe interessa ser uma 'estrela' ('star') e, se caminha sozinho, depois vem a ressaca. Francisco quer, ao contrário, caminhar com os bispos, saber o que pensam, convencê-los por meio de experiências sinodais. Quer o bem da Igreja, e a Igreja necessita de tempo para mudar".

Padre Adolfo Nicolás, 79 anos, sai da sala do Sínodo e caminha até a Borgo Santo Spirito, a rua onde se situa a Cúria Geral da Companhia de Jesus.

Antigamente ele era descrito popularmente como o "Papa negro". Ele faz parte da comissão nomeada pelo Papa para escrever o relatório final do Sínodo. "O fruto do nosso trabalho será entregue ao Papa que, tendo ouvido todos, fará o seu discernimento e decidirá".

A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 07-10-2015. A tradução é de IHU On-Line.

Eis a entrevista.

Abrindo o Sínodo, o Papa disse: não é um Parlamento. O que queria dizer?

Uma assembleia que tem como princípio o Evangelho não funciona segundo a lógica das votações, mas é um grupo que discerne.

Também Francisco fala de "discernimento". O que isso significa para um jesuíta?

Segundo Santo Inácio, o discernimento nunca pode ser em geral, ele sempre deve ser feito entre duas opções: entre a e b escolhemos b porque está mais de acordo com o Evangelho.

Por issso o Papa dizia "nada de compromissos"? Não se trata de encontrar um caminho do meio...

Não, é um processo no qual cada um busca entrar em contato com o Espírito Santo e encontrar o que é mais justo entre diversas alternativas, o que é mais fiel à vontade de Deus. Não é uma operação diplomática, mas um perguntar-se sério e em profundidade para saber o que é melhor hoje para a família, em particular a família cristã.

Tende-se a opor doutrin e misericórdia. Também esta é uma alternativa?

Não. Às vezes se apresenta assim porque a doutrina não incorporou a misericórdia. É preciso ter uma lei, também na Igreja, que seja 'aggiornata' à misericódria, ao Evangelho.

Em que sentido, 'aggiornata'?

A lei sempre busca uma ordem eclesial fundamental, mas o Evangelho vai sempre para além, sempre nos deixa inermes.

O cardeal Menichelli disse: "Não ponhamos correntes na palavra de Deus".

Extamente. Trata-se de encontrar um espaço de misericórdia no direito. Porque o direito como o temos hoje, na Igreja, nem sempre é também misericórdia. Há os princípios, o direito, que devem ser claros. A misericórdia, no entanto, não é clara. Há sempre uma ambiguidade porque não é possível conhecer a fundo o coração humano, as suas fraquezas. A caridade não pode ser normatizada.

Então como se faz, ante as situações 'difíceis'?

Os padres são os que aplicam a lei, por isto estudam o direito canônico. Mas os padres devem saber, como disse João Paulo II, que o último número do Direito Canônico, a lei suprema, é a salvação das almas. E precisamente porque o Evangelho é a última norma, os padres devem aplicar as normas segundo o Evangelho e não o contrário.

E o contrário aconteceu na Igreja?

Sim. Lembro de Paulo VI que dizia aos padres: estes são os princípios. Mas por favor sejam pastores, acompanhem as pessoas na sua realidade. Outros, no entanto, diziam e dizem: é preciso ser pastores, mas estes são os princípios. Aparentemente é o mesmo. Mas a ordem foi invertida.

Francisco lembra do Bom Samaritano, como Paulo VI no Concílio. Há afinidade entre os dois?

Certamente. Francisco muitas vezes não é bem compreendido. Ele é muito teológico e sabe aquilo que diz a doutrina e não quer mudá-la. Mas quer encontrar portas abertas para a pastoral. Como disse na missa de abertura, uma Igreja que se fecha não é a Igreja de Cristo. Propõe a abertura à pessoa, em primeiro lugar: não os princípios, mas as pessoas. Espero que esta força dirija o Sínodo.

O caminho sinodal em duas etapas é quase um Concílio?

É o prosseguimento do Concílo Vaticano II sobre temas concretos.

No confronto sobre situações 'difíceis' estão em jogo ideias diferentes de Igreja?

A minha impressão é que as expectativas que estão se projetando sobre o Sínodo lhe são estranhas. O Sínodo não é sobre divorciados, não é sobre casais homossexuais, mas é essencialmente sobre a família: como ajudar as famílias? Algumas têm feridas muito profundas.

Não são consideradas?

A família é ameaçada pelo egoísmo, o relativismo, o subjetivismo, de tudo aquilo que ameaça a sociedade. Pense nos políticos: é difícil encontrar um que pense no bem comum, incluídos os pobres, os migrantes, os últimos. Cada um pensa no seu interesse, no interesse do partido.

Por isto o Papa convidava a que nos 'coloquems na escola" da família?

Certamente. A família supõe sacrifício muito grande dos pais que devem se organizar segundo o interesse dos filhos. A primeira preocupação deles é: como podem viver, comer, se educar? Isto precisamos aprender.

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