''Desperdiçar comida é como roubar dos pobres e famintos''

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10 Junho 2013

A crise, segundo Francisco. "O consumismo incentivou-nos ao hábito do desperdício", adverte o papa no Twitter. "Mas a comida que se joga fora é como se fosse roubada aos pobres e aos famintos". O apelo por um estilo de vida sóbrio foi reiterado pelo pontífice no encontro no Vaticano com os 8 mil estudantes das escolas dos jesuítas (entre os quais ex-alunos como Fassino, De Mistura, Abete, De Gennaro, Albertini, Leoluca Orlando, Minoli), a cujas perguntas ele respondeu de improviso, deixando de lado o "chato" texto escrito.

A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 08-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A atual recessão nasce de uma "crise humana", da diminuição do valor da humanidade. Por isso, "devemos defender a pessoa humana". Além disso, "a Itália passa por um momento difícil, e em todo o mundo há uma crise econômica e do trabalho que é uma crise da pessoa".

No improvisado "momento de perguntas" com os jovens que lhe chamam de "tu", Bergoglio confidencia não ter buscado a eleição ao Sólio de Pedro e gostar da vida entre as pessoas. "Deus não abençoa uma pessoa que quer ser papa: eu não quis ser papa", conta ele. "Eu vivo em Santa Marta porque eu gosto de estar entre as pessoas".

Depois oferece uma síntese do Bergoglio-style. Ele escolheu não viver no Palácio Apostólico, não ter nem um grande carro, nem ouros e metais preciosos. "Não é apenas uma questão de riqueza, é um problema de personalidade", especifica. "Eu tenho a necessidade de viver entre as pessoas. Se eu vivesse sozinho, talvez um pouco isolado, não me faria bem. Um professor me perguntou: 'Por que o senhor não vai morar lá', e eu respondi: 'Por motivos psiquiátricos'. É a minha personalidade. O apartamento não é tão luxuoso, mas eu não posso viver sozinho".

Um exemplo de sobriedade. "Os tempos nos falam de tanta pobreza no mundo, isso é um escândalo", exclama. "Em um mundo em que temos tantas riquezas e recursos para dar de comer a todos, não se pode entender como há tantas crianças famintas, sem educação, tantos pobres... A pobreza, hoje, é um grito, todos devemos pensar se podemos nos tornar um pouco mais pobres". Ele por primeiro se pergunta: "Como posso me tornar um pouco pobre para me assemelhar a Jesus, mestre pobre?".

É preciso o compromisso político dos fiéis. "Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão", defende. "Não podemos fazer como Pilatos, lavar as mãos. Devemos nos misturar na política, que é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum". Certamente não é fácil, mas "também não é fácil tornar-se padre".

A política está "suja demais, mas porque os cristãos não se misturaram com o espírito evangélico". É fácil dizer de quem é a culpa, "mas o que eu faço?". Trabalhar pelo bem comum é "dever do cristão".

Pregação moral e vislumbres de vida privada se sucedem na conversa entre Francisco e os jovens. "Sou papa há dois meses e meio. Os meus amigos estão longe: três deles vieram me ver e me saudar, eu os vejo e escrevo. Não se pode viver sem amigos, eles são importantes".

As perguntas dos estudantes lhe permitem reatar os fios da memória. Bergoglio entrou na Companhia de Jesus porque queria se tornar missionário. "Eu estudava filosofia. Escrevi ao padre Arrupe para que ele me enviasse para o Japão, mas ele me respondeu: 'O senhor teve uma doença no pulmão, e isso que não é bom para um trabalho tão forte'. E então eu fiquei em Buenos Aires".

Não se deve "ter medo de falhas e quedas", porque "na arte de caminhar o que importa não é não cair, mas não permanecer caídos". De fato, "se caímos, é preciso se levantar logo e continuar caminhando".

Comentando o Evangelho, ele advertiu: "Jesus pede que o seu falar seja 'sim, sim, não, não'. Os hipócritas acabam procurando falsas testemunhas para acusar aquele que eles tinham lisonjeado". Portanto, "é melhor ser pecadores do que corruptos". Diante de Deus que não se cansa de perdoar, "o corrupto se sente autossuficiente: ele se cansa de pedir perdão".

Podemos ser perdoados do pecado; da corrupção, não: é preciso se curar dela, justamente como de um mal, é a lição simples e severa de Bergoglio.

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