Crise climática reduziu a renda nos EUA em 12%, calcula estudo

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30 Dezembro 2025

Novo estudo revela que o impacto econômico do aquecimento global não é mais uma projeção, mas uma realidade manifestada em perdas de receita por mudanças de temperatura.

A informação é publicada por Ecodebate, 18-10-2025. 

Economistas alertam que o custo real está na persistência e na forma como as mudanças climáticas rotineiras se propagam pela cadeia de produção e comércio. Entenda por que medir o que já está acontecendo é crucial para a resiliência e a adaptação no Brasil.

Por décadas, economistas se concentraram em como a mudança climática impactará o futuro. No entanto, uma nova pesquisa de Derek Lemoine, Professor de Economia na Eller College of Management, Universidade do Arizona, demonstra que o impacto já está presente: a mudança climática reduziu a renda dos Estados Unidos em cerca de 12%.

Lemoine, um dos codiretores do Consórcio para Negócios Ambientalmente Resilientes da universidade, enfatiza que, a menos que se possa medir o que a mudança climática já está custando, projetar o futuro se torna “quase inútil”.

O custo atual da mudança climática

Tradicionalmente, muitas pesquisas focavam apenas em mudanças climáticas locais e de curto prazo. Segundo o modelo de Lemoine, quando consideradas isoladamente, essas mudanças tinham um impacto negativo na renda dos EUA de menos de 1%. No entanto, quando ele levou em conta a persistência da mudança climática ano após ano, seu alcance nacional e as conexões entre as economias regionais, a perda de renda saltou para cerca de 12%. Essa perda é comparável a uma grande mudança na política nacional.

O estudo baseou-se na simulação de modelos climáticos que comparavam o mundo com e sem emissões humanas, combinando isso com dados de renda pessoal per capita em nível municipal abrangendo de 1969 a 2019. Ao analisar como a renda mudou historicamente com mais dias quentes e menos dias frios, tanto localmente quanto em todo o país, Lemoine conseguiu obter uma imagem mais detalhada dos efeitos econômicos das mudanças nos padrões de temperatura.

O efeito dominó: por que o clima local afeta a renda nacional

É crucial medir o impacto da mudança climática em nível nacional, e não apenas local. Lemoine explica que os efeitos se tornam muito maiores porque a mudança climática opera por meio de toda a economia.

O verdadeiro custo reside em como as alterações de temperatura em todo o país se propagam através dos preços e do comércio. Quando todas as regiões são afetadas simultaneamente, as consequências econômicas se somam rapidamente. Por exemplo, as temperaturas na Califórnia ou Iowa podem influenciar a renda no Arizona, demonstrando que essas conexões entre estados transformam mudanças climáticas locais em impactos econômicos de alcance nacional.

Essas mudanças rotineiras de temperatura – como mais dias quentes e menos dias frios – afetam a renda pessoal, a produtividade, os preços, o comércio regional e a demanda por energia, fatores que influenciam os custos empresariais.

É importante notar que o estudo de Lemoine não mede o impacto econômico de eventos climáticos extremos, como inundações, incêndios florestais ou furacões, mas sim o efeito das mudanças rotineiras de temperatura no rendimento pessoal.

A importância da medição para a política e os negócios

Abordar a mudança climática como um fator econômico contínuo, em vez de focar apenas em projeções futuras, pode remodelar a forma como as empresas gerenciam o cenário financeiro. O reconhecimento das perdas econômicas que já ocorreram reforça a importância do planejamento de resiliência para as empresas. Este planejamento pode orientar decisões importantes, desde a escolha da localização de negócios até a cobertura de seguros.

Lemoine sugere que ter uma visão clara de como a mudança climática está afetando a economia agora permite que os formuladores de políticas tomem decisões mais informadas sobre onde o financiamento de adaptação é mais necessário e quais indústrias e regiões estão sendo mais atingidas. O autor acredita que agências poderiam usar uma estrutura como a sua para publicar regularmente o custo econômico da mudança climática, de maneira semelhante ao rastreamento de outros indicadores econômicos importantes, como emprego ou inflação.

Resiliência e adaptação: o contexto brasileiro

Embora o estudo de Lemoine se concentre nos EUA, a metodologia e a conclusão sobre a propagação dos custos econômicos são de relevância global. No Brasil, a população e a economia enfrentam a intensidade crescente de eventos como enchentes, longas secas e ondas de calor.

As perdas patrimoniais decorrentes de eventos climáticos extremos – como a destruição de moradias, infraestrutura e plantações causadas por inundações ou estiagens – somam-se aos custos de produtividade gerados pelas alterações de temperatura rotineiras, como as observadas na pesquisa.

O entendimento de que a temperatura afeta a produtividade, os preços e o comércio regional é fundamental para que o Brasil desenvolva estratégias. Ao saber o que já está acontecendo “no local”, é possível decidir onde direcionar os recursos de adaptação. Publicar regularmente o custo econômico da mudança climática pode ajudar a identificar onde o financiamento de adaptação é mais necessário para regiões atingidas por desastres ou indústrias críticas afetadas pela persistência de temperaturas elevadas.

A medição contínua e institucionalizada desses custos, proposta pelo pesquisador, oferece uma maneira nova e baseada em dados para entender os danos climáticos à medida que ocorrem. Essa visão em tempo real é vital para planejar a resiliência contra as múltiplas ameaças que o clima impõe à renda e ao emprego, desde as flutuações de temperatura que afetam a produção agrícola até os eventos extremos que causam perdas patrimoniais devastadoras.

Referência

D. Lemoine, Climate change has already made the United States poorer, Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 122 (51) e2504376122, DOI: https://doi.org/10.1073/pnas.2504376122 (2025).

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