Kast venceu e o Chile se soma à onda da ultradireita

Foto: Wikimedia Commons

Mais Lidos

  • Ur-Diakonia: para uma desconstrução do anacronismo sacerdotal e a restauração do 'homo diaconalis' na igreja. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • De quintal a jardim de horrores: América Latina no centro da Doutrina Donroe. Destaques da Semana no IHUCast

    LER MAIS
  • O comum: a relação de uso e a inapropiabilidade da natureza. Artigo de Castor M. M. Bartolomé Ruiz

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

15 Dezembro 2025

Com 58% dos votos, o candidato venceu a ex-ministra de Gabriel Boric, Jeannette Jara, que obteve 41% no segundo turno presidencial.

A informação é de Axel Schwarzfeld, publicada por Página|12, 15-12-2025. 

O ultradireitista José Antonio Kast venceu neste domingo as eleições presidenciais do Chile, ao derrotar por ampla margem a esquerdista Jeannette Jara. Segundo dados do Serviço Eleitoral (Servel), o ex-deputado ultracatólico, de 59 anos, obteve 58% dos votos, contra 41% da ex-ministra de Gabriel Boric.

O fundador do Partido Republicano venceu nas 16 regiões do país, incluindo redutos da esquerda como Valparaíso e a Região Metropolitana, onde fica a capital, e abriu vantagem maior nas zonas mineradoras do norte e nas agrícolas do sul.

Em um discurso diante de seus apoiadores, Kast agradeceu tanto aos eleitores quanto ao ex-candidato libertário Johannes Kaiser pelo apoio no segundo turno. “Os chilenos estão esperançosos com o que vamos fazer, a todos digo obrigado por esta vitória”, afirmou. “Vou ser o presidente de todos os chilenos. Há alguns que estão celebrando, outros sentem tristeza e angústia, mas o Chile nos deu um mandato sem dúvidas”, disse, além de reiterar, como durante a campanha, que vai combater a insegurança.

“Encontrará uma oposição firme”

Trata-se da segunda vitória mais ampla desde o retorno à democracia, depois do triunfo por 24,3 pontos da ex-presidenta progressista Michelle Bachelet sobre a conservadora Evelyn Matthei em 2013. Kast, que fez campanha a favor da continuidade do general Augusto Pinochet (1973-1990) no plebiscito de 1988, é o primeiro pinochetista a chegar ao Palácio de La Moneda em democracia. O único direitista a chegar ao poder desde o retorno democrático havia sido o falecido Sebastián Piñera (2010-2014 e 2018-2022), que havia votado contra a permanência do ditador.

Jara falou a uma multidão após reconhecer a vitória de Kast. “Entrei em contato com o presidente eleito para desejar-lhe êxito pelo bem do Chile e de todas as pessoas que vivem em nosso país”, afirmou. “Estou convencida de que nossa democracia se fortalece quando respeitamos a vontade cidadã”, acrescentou.

“Agora nos caberá ser oposição. O caminho da unidade é o único que vale a pena. Hoje não há espaço para o desânimo. Há uma tarefa a continuar. Seremos uma oposição propositiva e exigente”, detalhou. Por fim, a candidata dirigiu uma mensagem ao presidente eleito: “Em tudo o que for bom para o Chile, encontrará meu apoio. Em tudo o que significar retrocesso, encontrará uma oposição firme, democrática e responsável”.

O rumo do país

Nicolás Freire, doutor em Estudos Americanos pela Universidade de Santiago do Chile e professor da Universidade Católica de Valparaíso, disse ao Página|12 que, muitas vezes, quem obtém uma vantagem tão expressiva sobre o segundo colocado acaba despertando a ambição de ir além do que declarou em seu próprio programa de medidas, como no campo dos direitos sociais. Nesse sentido, o analista considera que ainda está por se ver o rumo que o país tomará.

“Se, a partir da vantagem que o resultado eleitoral lhe concede, ele pretender se aventurar e ir além, isso sem dúvida prenuncia um governo com maior fricção, com uma oposição que, apesar de estar em seu mínimo histórico, ainda tem peso relevante ao menos no Senado”, explicou. “Será ali a trincheira da oposição para combater, do ponto de vista legislativo, qualquer avanço que Kast queira fazer além do planejado”, ressaltou.

Em balanço sobre os resultados, o analista afirmou que a vitória de Kast foi significativa por ter vencido nas 16 regiões e que as esquerdas se esqueceram das lutas históricas travadas no mundo pelos trabalhadores e pela classe média, entre algumas das possíveis razões para a derrota de Jara.

“O medo acabou se apoderando um pouco da campanha presidencial, guiado por temas tão relevantes como segurança e migração, nos quais Kast fez um bom ‘clique’ emocional, enquanto a candidata Jeannette Jara tentou buscar explicações racionais. Não percebeu que, para combater o medo ou transformá-lo, não basta a racionalidade. Trata-se de um instinto primário que pode levar o eleitor a votar em massa em um candidato que sabe tocar essa fibra, como fez Kast”, acrescentou.

A campanha girou quase de forma monotemática em torno do aumento da criminalidade e da migração irregular, apesar de o Chile continuar sendo um dos países mais seguros do continente, com taxa de homicídios de 6 por 100 mil habitantes.

Kast prometeu expulsão massiva de migrantes, tipificar a migração como crime e construir presídios de segurança máxima com isolamento total para líderes do narcotráfico. O ultradireitista, que em sua terceira tentativa conseguiu chegar ao Palácio de La Moneda, terá de lidar com um Legislativo sem forças majoritárias, no qual o bloco de direita e ultradireita está a dois deputados da maioria na Câmara (76 de 155) e empatado com a esquerda no Senado.

A transição

Kast receberá a faixa presidencial em 11 de março das mãos de Boric, seu adversário nas eleições de 2021, contra quem perdeu por ampla margem há quatro anos. O agora presidente em fim de mandato felicitou o ultradireitista em uma ligação telefônica televisionada e o convidou para um café da manhã nesta segunda-feira no Palácio de La Moneda.

“Hoje apresento minhas felicitações porque você obteve uma vitória clara e foi eleito Presidente da República do Chile, e isso é uma grande responsabilidade que deve ser assumida com muito carinho, humildade e muito trabalho. Estarei sempre à disposição para colaborar com os destinos da pátria”, disse. “Não tenha dúvida de que o Chile é maior do que você, do que eu, do que todos os que já passaram, e se constrói sobre a base do que todos fizeram antes; espero que isso também o inspire quando lhe tocar assumir o comando”, acrescentou o mandatário.

Em resposta, Kast agradeceu a ligação e pediu ao presidente que haja uma transição ordenada e respeitosa. Minutos depois, Boric falou ao país desde o Palácio de La Moneda, onde garantiu uma transferência de poder em ordem.

“Quero transmitir que entregaremos, em 11 de março, um país em marcha. Um país com enorme potencial. E que, no fim das contas, o progresso do Chile se constrói sobre o legado de quem nos precedeu. E esses legados não são pessoais”, enfatizou.

A comemoração de Milei e dos EUA

O presidente argentino, Javier Milei, celebrou a vitória de Kast. “Mais um passo da nossa região na defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada. Tenho certeza de que vamos trabalhar juntos para que a América abrace as ideias da liberdade e possamos nos libertar do jugo opressor do socialismo do século XXI”, escreveu no X.

Da mesma forma, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, publicou nas redes sociais: “Parabéns ao presidente eleito do Chile por sua vitória. Os Estados Unidos esperam colaborar com sua administração para fortalecer a segurança regional e revitalizar nossa relação comercial”.

Leia mais