"No Evangelho (Mateus 11,2-11), o próprio Jesus define a missão que o Pai lhe confiou quando foi enviado à humanidade: dar vista aos cegos e tirá-los da escuridão; libertar os coxos de tudo aquilo que os impede de caminhar; curar os leprosos e reintegrá-los na família de Deus; abrir os ouvidos dos surdos que vivem fechados no seu mundo autossuficiente; devolver Vida àqueles que se sentem às portas da morte; anunciar aos pobres a “Boa Notícia” do amor de Deus, porque com Jesus, o Reino de Deus chega como expressão de vida para todos."
A reflexão é de Bárbara Pataro Bucker, religiosa da Congregação das Irmãs Mercedárias da Caridade - MC é mestra no Institutum Theologiae Vitae Religiosae Claretianum pela Pontificia Universitas Lateranensis (1980) e doutora em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1992). Foi professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Teológica, atuando principalmente nos seguintes temas: teologia, mariologia, ética cristã, espiritualidade. Atua em assessorias à Vida Religiosa Consagrada.
1ª Leitura - Is 35, 1-6a.10
Salmo - Sl 145,7.8-9a.9bc-10 (R. Cf. Is 35,4)
2ª Leitura - Tg 5, 7-10
Evangelho - Mt 11,2-11
Eis a refelxão.
Chegamos ao terceiro domingo do Advento neste “caminho” de preparação para a vinda do Senhor, domingo chamado “Gaudete” da alegria, porque a vinda do Senhor está próxima e traz libertação.
Na primeira leitura (Is 35, 1-6.10) o profeta anuncia aos habitantes de Judá, exilados na Babilônia, que os anos de tristeza vão acabar, e que finalmente chegarão tempos novos de alegria e esperança. Deus “fará justiça”, e vai intervir na história, para salvar o povo do cativeiro! Abrirá uma estrada no deserto para que possam regressar a Sião, Deus nunca desiste de seus filhos e filhas, como canta o Salmo 145(146) convocando para se vibrar de alegria na certeza do cumprimento de todas as promessas que Deus faz.
Na segunda leitura, Tiago (5,7-10) apresenta-se como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”, avisa aos pobres que são vítimas da prepotência dos poderosos, que o Senhor “juiz” está para chegar e vai fazer justiça. Esta sua vinda será para libertá-los da opressão, e enquanto esperam eles devem colocar sua confiança em Deus e seguir percorrendo com fidelidade e sem desanimar o caminho que está pela frente.
No Evangelho (Mateus 11,2-11), o próprio Jesus define a missão que o Pai lhe confiou quando foi enviado à humanidade: dar vista aos cegos e tirá-los da escuridão; libertar os coxos de tudo aquilo que os impede de caminhar; curar os leprosos e reintegrá-los na família de Deus; abrir os ouvidos dos surdos que vivem fechados no seu mundo autossuficiente; devolver Vida àqueles que se sentem às portas da morte; anunciar aos pobres a “Boa Notícia” do amor de Deus, porque com Jesus, o Reino de Deus chega como expressão de vida para todos.
Isto quer dizer que depois dos anos de tristeza e frustração, chega finalmente os tempos novos da alegria irradiante, e a razão desta alegria é que Deus “está aí para fazer justiça”; intervindo na história, salvará Judá do cativeiro, e abrirá uma estrada no deserto para que o seu Povo possa regressar a Sião; portanto, “nada de desânimo, nada de covardia, nada de cruzar os braços, Deus quer salvar e libertar o seu Povo”, e os exilados devem unir-se nessa corrente de alegria e vida nova, pois a libertação chegou.
Regressarão à sua terra, e a marcha do Povo desde a escravidão para a liberdade será um novo êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador quando do primeiro êxodo; e ainda mais grandioso. Será uma peregrinação festiva, uma procissão solene, feita na alegria e na festa. O resultado final deste segundo êxodo será o reencontro com Sião, a eterna felicidade, a alegria sem fim da comunhão plena no amor de Deus.
Mas, no nosso aqui e agora, existem diversas formas de encarar este tempo: os otimistas veem como um tempo de realizações, descobertas maravilhosas, conquistas inacreditáveis; tempo em que o ser humano parece superar todos os limites e preparar um futuro melhor desde suas capacidades e invenções; outros porém, consideram como ameaça a realidade deste tempo, na possibilidade de super aquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozônio, de eliminação das florestas, risco reais de um holocausto nuclear, crise de valores fundamentais, da indiferença generalizada para com os sem voz e sem vez. Sim, este nosso tempo é paradoxal, cheio de interpelações, desafios, incertezas e riscos. Vem à mente a consideração de como nos relacionamos com este mundo. Vemo-lo com olhos de esperança, ou com as lentes do medo que paralisa e angustia?
A liturgia deste domingo é uma convocação para percorrer o caminho da vida, que se ancora numa certeza fundamental: “Deus está na história”, jamais vira as costas desconsiderando os sofrimentos e as angústias humanas, e o faz de uma forma discreta. Advento é tempo de “gravidez”, durante o qual se espera ansiosamente o nascimento do Deus-Menino que vem trazer uma esperança nova ao nosso mundo e às nossas vidas.
Então, Jesus depois de ter sido batizado por João, ao perceber claramente a missão que o Pai lhe confia, volta para a Galileia e instala-se em Cafarnaum, cidade situada na costa noroeste do Mar da Galileia. Cidade ponto de passagem entre várias rotas comerciais, oferecendo um acesso fácil a todas as aldeias e cidades da região. Jesus passou a percorrer as aldeias e vilas da Galileia, dizendo a todos: “convertei-vos, porque está perto o Reino do Céu” (Mt 4,17), e seu anúncio era completado por gestos, mostrando como seria esse mundo cheio de vida pela oferta que Deus faz.
O texto apresenta duas partes bem distintas. Na primeira, Jesus responde à pergunta de João e define a sua identidade messiânica (vers. 2-6); na segunda, Jesus comenta com a multidão a figura e a ação profética de João (vers. 7-11).
Confrontado com a pergunta que Lhe foi trazida pelos discípulos de João, Jesus responde com o recurso das Escrituras que se refere a um conjunto de “obras” que, segundo o discurso profético, diz respeito ao que caracteriza o Messias: dar vida aos mortos (cf. Is 26,19); abrir os olhos dos cegos; desimpedir os ouvidos dos surdos; dar liberdade de movimentos aos coxos; fazer falar os mudos (cf. Is 35,5-6); anunciar a Boa Nova aos pobres (cf. Is 61,1).
Daí, a constatação de que os tempos messiânicos chegaram, porque Jesus realizou todas estas obras. Sim, Jesus é o Messias, enviado por Deus para libertar o Seu povo de tudo aquilo que lhe rouba vida, e vem propor e construir um mundo novo de Reino para cumprir as promessas feitas por Deus.
Os gestos próprios do Messias são sinais de salvação. João, o “Batista”, estava enganado quando falava de um enviado de Deus que deveria vir para julgar e condenar. A missão que Jesus recebeu do Pai é a de salvar e dar vida. Talvez, ficasse João escandalizado por constatar que o Messias atua de uma forma diferente do esperado; por isso, Jesus deixa-lhe um recado final: “bem-aventurado aquele que não encontrar nele motivo de escândalo” (vers. 6), e será feliz quem o reconhece e acolhe como o Messias enviado para oferecer a salvação de Deus.
E, depois que os discípulos de João se retiram, Jesus comenta que a figura e missão de João, não é a de um pregador oportunista que se inclina diante dos poderosos e diz o que eles querem ouvir; também não é interesseiro, à procura de uma vida cômoda e fácil, que gosta de viver no luxo e no esbanjamento. João é um homem íntegro, verdadeiro, capaz de enfrentar os poderosos e denunciar as mentiras em que vivem; é um homem despojado, vive com simplicidade, focado naquilo que é eterno.
Escolhido por Deus e enviado ao mundo para ser no meio dos homens um sinal de Deus, “mensageiro” que os profetas anunciaram, aquele que Deus prometeu enviar à Sua frente para Lhe preparar o caminho (cf. Mal 3,1: “eis que envio o meu mensageiro diante de ti, para te preparar o caminho”).
O testemunho que Jesus dá sobre João termina com o comentário: “o menor no reino dos Céus é maior do que ele” (vers. 11). Quer dizer: aqueles que escutam a proposta de Jesus e acolhem o dinamismo do Reino de Deus, dispondo-se a seguir Jesus e acolhendo a proposta de salvação que Ele trouxe, são maiores do que João.
Este belo texto de Mateus que a liturgia do terceiro domingo do Advento nos propõe, é Jesus que se apresenta como o Messias que veio ao mundo para cumprir as promessas de Deus, para derrotar o mal e para abrir um caudal de vida abundante. Sua presença inaugura uma nova era, um mundo onde se rasgam caminhos novos para os abandonados, injustiçados, os que não conhecem a alegria, os que vivem mergulhados nas trevas, os que caminham sem esperança, e os que não têm voz nem vez.
Esta maravilhosa história do Messias de Deus, contada pela comunidade de Mateus, não é uma história vivida e cumprida num tempo fechado, com princípio, meio e fim há mais de dois mil anos; é uma história que continua a escrever-se hoje, para nós que vivemos no séc. XXI. Jesus continua a vir ao nosso encontro, a inundar de vida nova o nosso mundo velho, a curar as nossas feridas, a oferecer-nos generosamente a salvação de Deus.
Podemos nos perguntar:
- Estamos disponíveis para O acolher?
- Estamos efetivamente interessados em romper as velhas cadeias que nos prendem para abraçar essa vida nova e plena que Jesus nos vem oferecer?
O testemunho da alegria como dom “Domingo Gaudete”, pode fazer avançar todas estas certezas.
Feliz domingo e 3ª Semana do Advento para todas e todos.
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3º domingo do advento – Ano A – Vinde Senhor, para salvar o vosso povo! Comentário de Luciola Tisi.
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