“Meu Reino não é deste mundo”. Artigo de Orlando Polidoro Junior

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12 Dezembro 2025

"Uma das benevolências do Reino de Deus é a paz prometida por Jesus — conduzida pelo Espírito Santo. Ela é paz única, verdadeira e libertadora, mas só é vivida e plenificada quando construída com respostas condizentes de fé e de Amor. Mergulhados no Senhor desde o batismo, existimos e nos movemos; “é n´Ele que temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28)", escreve Orlando Polidoro Junior, pastoralista e teólogo pela PUCPR. 

Eis o artigo.

Em João 18,36 foi o que Jesus, O Cristo de Deus proclamou a Pôncio Pilatos, com o intuito de eliminar o que poderia ser considerado como ameaça ao poder militar e ao poder político-social daquele tempo. Mas e para nós cristãos o Reino de Deus é deste mundo?

Taylor (1984, p. 656) reconhece a tradição de rei herdada do Primeiro Testamento, atualizada frente à realeza política do imperador romano César, tendo Jesus de Nazaré como o grande desafio de seu tempo, pois foi reconhecido como o único digno a poder dar continuidade ao reino, contra os reis da terra (Mt 17,24-25). O povo não entendia que o Reino de Jesus não é deste mundo (Jo 18,36).

Buscando viver dignamente o Reino proclamado por Jesus de Nazaré, o modo mais louvável e carinhoso de nos relacionarmos com Deus é reconhecendo-O como Pai e não como rei. Como legado chamamos Jesus de nosso Rei, entretanto, o anunciado é o Reino de Deus. Jesus nosso Rei e Reino de Deus são contextos desenvolvidos por analogia ao longo da história dos povos do Primeiro e do Segundo Testamento.

Para Born (1977, p. 1289) o titulo de Rei aplicado a Javé não é apenas pelo reconhecimento de sua grandeza e o caráter de seu culto, descreve também sua relação com o povo que vive em função de sua glória — sopro de suas vidas. Ele os protege de todos os males.

O conceito de rei é concebido harmoniosamente pelo autor do livro de Crônicas, com base na visão humana do rei davídico assentado no trono régio de Javé como seu representante (1Cr 17,11; 28,5; 29,23; 2Cr 9,8; 13,8), mas não apenas rei como humano, o povo reconhece e chama Javé de seu rei (Sl 5,3; 44,5; 84,4).

A ideia/proposta de Reino de Deus faz parte da complexidade que envolve todo o mistério do seu plano de amor, por isso, há muitas gerações têm promovido grandes desafios entre exegetas e teólogos. Todavia, as reflexões apontam para um Reino benevolente, com início no plano terreno, agora. Erickson (2011, p. 168) define com clareza esse entendimento: É o Reino interno — dentro dos corações dos homens. Reino espiritual de paz, de amor, de fé e esperança. No pensamento de Halík (2018, p. 103) “O Reino de Deus já está em vosso meio, diz Jesus às pessoas que voltam seu olhar religioso para a distância, para além do horizonte deste mundo e desta história”.

Jesus ensinou em Marcos 4,26-34 que o Reino de Deus é como semente lançada na terra. Então, para “reforçarmos a safra” e podermos apreciar ainda mais seu esplendor desde a raiz e colhermos seus frutos em nossa farta Mesa da Partilha, é preciso discernirmos nosso ser nesse paraíso terreno.

O paraíso é como que a maquete do mundo. É a planta de construção a ser realizada pelo empreiteiro que é o ser humano, homem e mulher. É um projeto que desafia constantemente a fé e a coragem do ser humano (MESTERS, 1999, p. 45).

Para Rubio (1994, p. 33-34) mesmo a expressão “Reino de Deus” não sendo mencionada nos escritos antigos, era bastante utilizada no judaísmo, crendo que, Deus será o Rei verdadeiramente justo. Só Ele poderá realizar o ideal de um rei capaz de proteger os pobres e marginalizados de todo tipo. Por isso, quando Jesus anuncia a chegada do Reino, encontra muitos adeptos. O mesmo ocorreu com os apóstolos após Pentecostes (At 2,1-4), pois confirmava uma expectativa inserida numa longa tradição, construída profeticamente através dos livros do Primeiro Testamento (Lc 24,44; Jo 5,39; 1Pd 1,10), e a simbolizar com várias figuras (1Cor 10,11).

Frequentemente Jesus apresenta o Reino em sentido escatológico — final dos tempos — Parusia (Mc 9,1; Lc 13,28), mas também proclama a grande novidade de que o Reino irrompe e atua já, agora, hoje (Mt 12,28 e paralelos; Lc 4,18-21; Mt 21,31; Lc 17,20-21), esta última citação é muito clara: O Reino já está no meio de vós (RUBIO, 1994, p. 44).

Reino de Deus ou Reino dos céus?

São variações linguistas [sinônimos], mas se referem à mesma ideia (Mt 19,23-24). Em diferentes momentos da história o termo Reino de Deus é contextualizado nas Escrituras, sendo tema principal do Segundo Testamento, centro de toda vida e de toda pregação de Jesus (Mc 1,15; Mt 4,23; Lc 4,43; 8,1). O Evangelho de Lucas é o que mais apresenta o termo Reino de Deus. Reino dos Céus é mencionado somente no Evangelho de Mateus.

Nos livros do Segundo Testamento a expressão Reino de Deus aparece 122 vezes, sendo 99 vezes nos Evangelhos Sinóticos, e destas, 90 pertencem às palavras de Jesus. No Evangelho de São João e nos restantes escritos do Segundo Testamento, a expressão tem poucas referências.

Mas o que é o Reino, onde fica?

A palavra é um substantivo e têm vários sentidos indicativos: pessoas, lugares, sentimentos, vidas, coisas etc. Refletindo com sabedoria sobre cada um destes indicativos, compreende-se que toda a criação faz parte do Reino (Sl 103 (102), 19), e sendo assim, aqui, agora, já somos consagrados como seus integrantes, num caminhar de fé — amplo fundamento da esperança.

O Reino de Deus em seu modus vivendi [não somente como padrão idealista] é totalmente interior e pessoal, é sinal do Amor e da Misericórdia do Pai. O Reino se inicia no coração de todos aqueles que se deixarem transformar por este amor — é querê-lo em todas as circunstâncias e sem limitações.

As portas do Reino estão sempre abertas; e estão abertas para todos. Mas, muitos “egos” vivem cheios de si mesmos e ocupam todo o espaço da entrada da porta. Eles não entram, porque estão bloqueando a porta, mas também não deixam entrar aqueles que querem passar por ela.  Os “egos inflados” acreditam estar dentro, quando na realidade estão fora; acreditam serem donos da porta; não se atrevem a entrar por medo à verdade e preferem ter um pé dentro e outro fora (Adroaldo Palaoro, Padre Jesuíta).

Em que consiste o Reino de Deus?

Conforme Rubio (1994, p. 35) “O Reino de Deus implica um mundo novo em que o mal e o sofrimento são vencidos; um mundo novo onde prevalecem a justiça, a fraternidade, a paz” e a alegria no Espírito Santo (Rm 14,17).

Tanto os milagres de Jesus, como suas palavras, são consequências do Reino. Buscar e reconhecer este projeto de vida e plenificá-lo no coração sustenta a Graça Divina na vida do fiel, convertendo-o para uma nova maneira de agir, cristificada na paz e no amor. Sabe por que em Mateus 19,14 Jesus disse: deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o Reino dos céus? Por respeitarem e seguirem as palavras dos mais experientes; por terem mentes e corações puros — não contaminados por inverdades; por crenças impostas e estabelecidas. No judaísmo as crianças representavam uma “folha em branco” (sem história).

Jesus e o Reino de Deus

Orígenes caracterizou Jesus como a autobasileia, isto é, como o Reino de Deus em pessoa. “Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo” (Lumen Gentium, n.5).

Cristo estabeleceu o Reino de Deus na terra, manifestou com obras e palavras o Pai e a sua mesma pessoa, e levou a cabo a sua obra morrendo, ressuscitando e subindo glorioso ao Céu, e, finalmente, enviando o Espírito Santo (Dei Verbum, n.17).

Para bem compreendermos o verdadeiro significado da vinda de Jesus e sua benevolência em nossas vidas através de seus ensinamentos [...], em diversos momentos sua missão de proclamar o Reino foi intensamente fervorosa, anunciando-o de várias formas: atitudes de misericórdia e de caridade plena ao próximo, curas; milagres, parábolas. Ações dignas — transformadas em convites para se entrar no Reino.

Para receber o dom do Reino, é indispensável que o ser humano reconheça a própria incapacidade de auto-salvar-se. É preciso ainda experimentar a necessidade de libertação como dom gratuito de Deus. Por isso, o homem ou a mulher, fechados numa auto-justificação orgulhosa, são incapazes de experimentar o dom do Reino (RUBIO, 1994, p. 36).

Possuem valor especial aquelas referências ao Reino de Deus que, com muita probabilidade, são do próprio Jesus. É o caso do pai-nosso (Mt 6,9-15; Lc 11,2-4), e das bem-aventuranças (Mt 5,1-12). Na oração do pai-nosso, Jesus ensina a orar pedindo a vinda do Reino. Os três primeiros pedidos feitos nessa oração tratam diretamente do Reinado de Deus (RUBIO, 1994, p. 34).

O que importa acima de tudo é que Deus seja aceito de verdade, como Deus. Somos convidados a viver uma nova relação com Ele, numa comunhão plena entre a partilha do pão; a Misericórdia e o perdão. Portanto, para Jesus o elemento prioritário é sempre o Reino de Deus (Mt 6,33).

A igreja e o Reino de Deus

“Foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu o Sacramento admirável de toda a igreja” (Sacrosanctum Concilium, n.5). A igreja que é sal da terra e luz do mundo convida a todos para formar uma só família de amor, um só povo de Deus — renovados em Cristo Jesus. A igreja dentro do contexto, não é a questão primária, a questão fundamental é, na realidade, a que diz respeito à relação do Reino de Deus com Cristo. Daqui depende como nós havemos de compreendê-la. Anunciar e instaurar o Reino de Deus é o múnus da igreja para todos os povos. Na terra ela é o germe e o início deste Reino inaugurado por Jesus.

Assim como Cristo percorria todas as cidades e aldeias, curando todas as doenças e todas as enfermidades, proclamando o advento do Reino de Deus, do mesmo modo a Igreja, por meio dos seus filhos, estabelece relações com os homens de qualquer condição (Ad Gentes, n.12).

Já os próprios apóstolos em que a igreja se alicerça, seguindo o exemplo de Jesus, pregaram a palavra da Verdade e geraram as igrejas. Aos seus sucessores compete perpetuar esta obra, para que a palavra de Deus se propague rapidamente e seja glorificada (2Ts 3,1), estabelecendo o Reino de Deus em toda a terra.

Como desfrutar este Reino agora?

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33). “É neste mundo e nesta história que somos chamados a responder à interpelação do Reino de Deus”. A meditação-reflexão sobre o Reino só tem sentido fecundo num clima de oração constante à Santíssima Trindade, único Caminho para se reconhecer e se viver o valor do Reino, tanto no tempo presente, como em sua plenitude na eternidade (RUBIO, 1994, p. 45; 47).

O Reino deve ser nossa grande meta. Quem não tem uma meta definida para em qualquer obstáculo. Quem não sabe para onde vai, e o porquê de sua caminhada, não chega a lugar nenhum (LÉO, Pe. 2006, p. 14).

O Reino é como a semente depositada na terra, que crescerá por seu próprio poder como o grão. Já, agora, todo cristão é semente que deve crescer e gerar ótimos frutos pessoais, saudáveis comumente ao próximo. Mas para isso é preciso buscar, confiar e praticar as revelações anunciadas no Segundo Testamento.

Confiando em todas as bênçãos e todas as graças alcançadas pelo derramamento do amor da Santíssima Trindade e praticando atos de caridade = amor pleno ao próximo, o cristão já se coloca em unidade para receber o dom do Reino. Dom pessoal que suscita uma resposta de fé/ação, que só pode ser traduzida em Amor.

O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em atos, e quando praticados benevolentemente, Deus governa o coração do fiel e, através do seu Espírito infunde seu Reino de paz e harmonia, mesmo diante das tribulações. Não se perturbe e nem tema o seu coração; creia em mim e tenha confiança em minha misericórdia (Jo 14,27).

À plena contemplação do rosto do Senhor, não chegamos pelas nossas simples forças, mas deixando a graça conduzir-nos por sua mão (CNBB, Sou Católico, 2012, p. 9).

A graça é, em primeiro lugar, o evento escatológico salvífico que se realizou em Jesus e do qual procede a transformação interior do homem. MUSSNER, vol. IX, pp. 27-53 (apud 1998, LADARIA, p. 103).

Convertido pela Graça contempla-se o Reino que já se faz presente em amor incondicional e Misericórdia — suscitando o quanto se pode viver agora o esplendor deste Reino.

É possível vivenciar o Reino sem paz interior?

Como já vimos, o Reino de Deus é presente, mas para identificá-lo e vivenciá-lo em graças renovadas todos os dias, mesmo tendo que superar inúmeras dificuldades, é preciso estar com os pés no chão e com o coração no céu. Esta comunhão de Amor só é possível quando o cristão vive em paz consigo mesmo, pois, sem paz —, sem perspectiva — e sem Reino. “Deixo-vos a paz, minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide vosso coração” (Jo 14, 27).

Deus é fiel, mas sempre nos mantemos fiéis a Ele? Em estado de paz interior e com o coração aberto às suas promessas, mais especificamente a boa notícia de seu Reino de amor, iniciado aqui, agora. Nós suscitamos nossa constante transfiguração até à Glória Eterna — mas isso exige paz, exige que façamos a nossa parte no Reino [Cocriadores]. “O Reino é dom, mas é um dom pessoal, que suscita uma resposta do ser humano.” (RUBIO, 1994, p. 41).

As promessas de paz perpassam os dois Testamentos, mas como o Reino de Deus exige envolvimento, se o “cristão moderno” não confiar, entregando-se fielmente ao amor da Trindade Santa para, a partir dele, encher de paz a sua alma, com o coração livre para as bem-aventuranças, poderá enfrentar algum dos inúmeros malefícios que acompanham os povos desde os tempos bíblicos: violência, desânimo, fraqueza espiritual, tristeza, suicídio, rancores e mágoas, fratricídio, rompimentos familiares e fraternais, corrupção, depressão etc. É preciso estar revestido da armadura de Deus (Ef 6,13), pois sem ela o cristão fica mais suscetível às maldades criadas pelos próprios homens.

As bem-aventuranças estão no cerne da pregação de Jesus. Seu anúncio retoma as promessas feitas ao povo eleito desde Abraão. Jesus as completa, ordenando-as não mais ao simples bem-estar gozoso na terra, mas no Reino dos Céus (Catecismo, n. 1716).

Deus se manifesta na história do seu povo amado e sempre dá respostas condizentes e laudáveis. É bom ressaltar, entretanto, que há promessas com duas características: uni e bilateral. A promessa da paz é bilateral, por isso, exige comprometimento e resposta: Deus propõe e cumpre a parte d’Ele, mas o fiel precisa estar engajado com o Reino, realizando sua parte para poder desfrutar das providências ativas do Senhor (Jó 10,12; Mt 6,33; 1Cor 10,13; 2Cor 9,8-10).

Vamos refletir sobre a paz prometida, conscientes de que pela primazia da Graça o crente mantém intensamente sua felicidade/harmonia interior — suficiente para promover o bem comum. Feliz é o homem que confia e traz Deus dentro de si (Sl 33,9).

Deus é a própria Verdade, suas palavras não podem enganar. É por isso que podemos entregar-nos com toda a confiança à verdade e à fidelidade de sua palavra em todas as coisas (Catecismo, n. 215).

No dicionário bíblico a paz é representada pela palavra shalom da língua hebraica, e tem seu mais expressivo significado no sentido de ser absoluto em comunidade. Isto é, o povo vive e compartilha um bem-estar sustentado pelo amor de Deus, fonte essencial para gerar respeito, serenidade, dignidade, integridade e prosperidade entre todos.

Isto nos mostra o quanto é fundamental reconhecer como a benevolência gerada pela paz é muito ampla; dinâmica e envolvente. É uma comunhão louvável entre “o eu e o próximo”, de modo que, agraciados pelo exuberante amor originário de Deus-Pai, encarnado no amor de Deus Filho, e revelado no amor de Deus Espírito Santo [Trindade] juntos, partilhamos a paz/Reino prometido por Jesus em João 17,27.

Nos dois Testamentos, com mais alusão ao Primeiro, está claro como o povo tem consciência das promessas de Deus — inclusive a da paz. Mas também é notório que em diversas situações o povo não dá respostas adequadas e passa por algumas tribulações.

Os primeiros entendimentos sobre a paz nas escrituras aparecem na bíblia hebraica com a palavra shalom referenciada 237 vezes, revelando sua riqueza e seu valor para a vida do povo de Israel, fortalecendo ainda mais a ideia de que assim como nos mandamentos, também através das alianças com seu povo, o desejo eterno de Deus é conduzir uma sociedade digna de viver em paz — repleta de harmonia, partilha e intensa felicidade.

Em diversas passagens do Primeiro Testamento está bem definido como o amor de Deus é a fonte da paz e da felicidade (Jz 6,23-24; 18,6; 19,20; 1Sm 1,17). Seu desejo é o de que todos vivam em comunhão — repletos de suas graças — animados por uma conversão de paz interior, condição de intimidade/amizade, pois na sua presença há abundância de alegria (Sl 15,11) = verdadeira experiência do Reino.

Nas Escrituras Sagradas a paz não significa apenas ausência de guerras ou de conflitos. Ela é, segundo os profetas e os apóstolos, a serenidade que o Espírito Santo infunde no coração dos que creem e confiam. Conforme Isaías 26,3 e Filipenses 4,7, a providência divina é “derramada” na vida de todos os que dela tomam posse e correspondem ao compromisso bilateral da promessa da paz.

A preocupação com a paz percorre as relações entre as pessoas numa visão de paz universal. Só podemos pensar a paz quando ela é plantada em nosso coração (Ef 2, 13-18) e seus frutos são compartilhados com toda a comunidade. O cristão impregnado pelo Espírito da paz vive em plena harmonia consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus.

“Mas o fruto do espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei” (Gl 5,22-23). Estas virtudes são indispensáveis para se manter “intimamente conectado” ao amor da Trindade e, através dele, perenemente dar respostas de amor/paz ao mundo. Papa Francisco proclamou: “a verdadeira paz não pode ser fabricada apenas por nós mesmos, com as nossas forças”.

A paz terrestre é fruto da paz messiânica de Cristo (Is 9,5). “Ele é a nossa paz” (Ef 2,14). O Evangelho de Mateus 5,9 faz referência aos bem-aventurados promotores da paz entre os homens. Paz que ensina como é primordial viver extasiado pelo amor da Trindade Santa — Caminho libertador para uma vida cheia de contentamento. “O bem comum envolve a paz, isto é, uma ordem justa duradoura e segura” (Catecismo, n. 1909).

Uma das benevolências do Reino de Deus é a paz prometida por Jesus — conduzida pelo Espírito Santo. Ela é paz única, verdadeira e libertadora, mas só é vivida e plenificada quando construída com respostas condizentes de fé e de Amor. Mergulhados no Senhor desde o batismo, existimos e nos movemos; “é n´Ele que temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28).

Nosso Deus-Trino não é evasivo — é propositivo. Sua Misericórdia não tem fim, e é por ela que vem ao nosso encontro para cumprir, entre outras, sua Promessa de Paz/Reino interior. Mas como “cristãos modernos, muito atarefados com as coisas do mundo”, quanto tempo dispomos em nossas agendas para servirmo-nos de tudo que o Senhor tem a nos oferecer? “Deus está muito mais disposto a dar que o homem a receber.”

Deus realiza sua Criação por completo — em plenitude de Amor e de permanentes glórias dedicadas às suas criaturas amadas. Seu único interesse na história é o Ser Humano em seus braços, sentindo-se confiante e amado em seu Reino terreno e no eterno.

Referências

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.

BORN, A. Van Den Dicionário enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1977.

BUCKLAND, A.R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vida, 1981.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edições Loyola: São Paulo, 2011.

CNBB. Sou católico: vivo minha fé. São Paulo: Edições CNBB, 2012.

DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina; Constituição Dogmática Lumem Gentium sobre a Igreja; Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje; Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo: Paulus, 2014.

ERICKSON, Millard J. Dicionário popular de teologia. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.

HALÍK, Tomás. Quero que sejas: podemos acreditar no Deus do Amor? Petrópolis: Vozes, 2018.

LADARIA, Luis F. Introdução à antropologia teológica. São Paulo: Edições Loyola, 1998.

MESTERS, Carlos. Paraíso terrestre. Petrópolis: Vozes, 1999

RUBIO, Afonso Garcia. O encontro com Jesus Cristo vivo. São Paulo: Paulinas, 1994.

TAYLOR, Richard S. Dicionário Teológico Beacon. Lenexa: Beacon Hil Press of Kansas City, 1984.

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