Quando Pedro, o pescador, encontrou um jovem carpinteiro. Artigo de Roberto Benigni

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13 Dezembro 2025

"Aquele carpinteiro o conquistou. É verdade que as coisas mais importantes da vida não se aprendem nem se ensinam, mas se encontram. E de fato Jesus se põe em caminho... e Pedro o segue", escreve Roberto Benigni, ator e diretor italiano, em artigo publicado por La Repubblica, 10-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Nada sabemos sobre a infância de Pedro. Na verdade, sabemos apenas uma coisa: que desde criança ele sempre ouviu os romanos serem amaldiçoados. Porque os soldados romanos, naquela época, estavam por toda parte: a Galileia era uma espécie de colônia, um território ocupado, sob o controle do imperador. Mas quando encontramos Pedro, ele já é um homem, um homem trabalhador, e por profissão é pescador no Lago de Tiberíades. Um lago tão grande que todos o chamam de "Mar da Galileia". E justamente ali, na margem do lago, acontece o primeiro episódio dessa maravilhosa história: seu primeiro encontro com Jesus.

Aliás: vocês sabiam que quando Pedro encontra Jesus, eles têm mais ou menos a mesma idade? Vinte e oito, vinte e nove, nem trinta anos!… E, na verdade, não fica claro por que Pedro é sempre representado como um homem muito idoso, careca, enrugado e com barba branca. Já repararam? Sempre: nas pinturas, nas estátuas… Até Leonardo, na Última Ceia, aquela que todos conhecem, o pintou assim, e Giotto antes dele, na Capela Scrovegni. Parece que Pedro já nasceu velho.

Mas, na verdade, quando encontra Jesus, é um jovem, como ele: são dos jovens. É uma história de homens jovens essa!

Naquele dia, eu estava dizendo, Pedro está na margem do lago, lavando sua rede de pesca. Eu o chamo de Pedro, mas vocês sabem que ele ainda não se chama assim: seu nome é Simão. Simão, filho de Jonas.

Está cansado porque passou a noite toda pescando sem pegar um peixe sequer. Nada: nem uma carpa, uma truta, nada… Uma terrível falta de sorte. De repente, ele ouve alguém chamar: "Simão! Simão!" Ele olha e vê seu irmão André — que é Santo André, não um André qualquer — vindo em sua direção gritando, correndo como um louco. Simão se assusta: “O que está acontecendo?” “Simão, você precisa vir ver! Larga tudo, esquece tudo, vem correndo!” “Correr? ... Para onde?” “Para o rio, no Jordão, para ver João Batista! Aconteceu uma coisa que você não pode perder!” “E o que aconteceu?” “Lá pelas tantas, chegou um sujeito, alguém de Nazaré — sabe, aquele vilarejo bem pequeno? — e João disse que ele era o Messias. O Messias! Ele chegou, você entende?” “Nazaré? O Messias? Do que você está falando, você enlouqueceu? André, você está bem?” “Sim, é um carpinteiro! Um sujeito de Nazaré!” “O Messias?! Um carpinteiro?...” “Isso mesmo, estou te dizendo! Depressa!”

"Pedro: Um Homem ao Vento", de Roberto Benigni (Einaudi, 2025)

Vejam bem, eram palavras fortes aquelas André. O Messias era o salvador que Deus havia prometido enviar aos judeus, para libertá-los do domínio estrangeiro e restaurá-los à glória. Mas vocês sabem como os judeus esperavam o Messias? Eles o imaginavam como um senhor dos exércitos, a cavalo, com uma espada: um líder, um conquistador! Alguém que, quando chega, não o faz silenciosamente: tocam as trombetas, o céu se abre, a terra treme, as estrelas caem do céu... É o Apocalipse! Eles esperavam um Messias assim, com um manto manchado de sangue e olhos de fogo. O líder de um exército, um grande general. André está dizendo a Simão que o maior general de todos os tempos chegou! Na verdade, Simão não acredita de imediato. Um carpinteiro de Nazaré... Hum! Ele larga a rede, meio a contragosto, e segue André, que o puxa pela manga: "Vamos, depressa!" Juntos, correm para o rio, onde João Batista está batizando as pessoas. João Batista é um eremita, um asceta que vive no deserto, proclamando a todos que o reino de Deus está próximo. O último dos profetas, o maior: uma lenda viva. As multidões o veneram como um santo. E naquele dia aconteceu algo inédito, incrível: João Batista, enquanto batizava, viu um desconhecido na multidão e parou. Aproximou-se dele, ajoelhou-se a seus pés e disse: "Não sou digno nem de desatar as tuas sandálias". E declarou que ele, aquele carpinteiro de Nazaré, é o Messias, o Filho de Deus!

Mas pensem vocês, tentem imaginar. Quem é hoje a maior autoridade para um crente? O Papa, certo?... Então, seria como se hoje o Papa, enquanto celebra a missa na Basílica de São Pedro e distribui a hóstia aos fiéis que aguardam na fila para a comunhão, de repente se deparasse com alguém, um sujeito qualquer, um desconhecido. O Papa olha para ele, fica como que congelado, as hóstias caem de suas mãos, ajoelha-se diante dele e diz: "Não sou digno nem de desatar as tuas sandálias". Depois, vira-se e diz a todos: "Este é o Filho de Deus".

Ah, não quero exagerar... mas vamos lá, uma coisa assim, mais ou menos: clamorosa! André presenciou a cena, ele estava lá, viu com os próprios olhos. Então ele vai imediatamente até Simão, porque precisa lhe contar, na hora: como pode acontecer? João Batista fazendo uma coisa dessas!... E leva Simão até Jesus. Não o apresenta: o coloca bem na frente dele. E o que Jesus faz? Jesus olha para Simão, o encara. Jesus encarando você, dá para imaginar? E diz a ele: "Tu és Simão, filho de Jonas. Tu serás chamado Cefas", que significa "pedra", daí Pedro. Ele não o conhece, nunca o viu antes, e num instante lhe diz quem ele é, quem ele foi e quem ele será. E muda seu nome! Os joelhos de Pedro fraquejam. Ele fica fulgurado, não tem forças nem para responder. E, acima de tudo, não sabe mais quem é: Simão? Pedro?... Mas aqui é realmente estranho como Pedro reage. Ou melhor, como ele não reage. Porque Pedro não contesta, não opõe resistência: fica sem palavras. Ele não diz: "Pedro?! Pedro quem?... Mas o que isso significa?" Não: ele simplesmente aceita, sem dizer uma palavra. Renuncia ao seu nome, como se fosse normal alguém que te encontra e muda o teu nome! Como se alguém me dissesse: "Você é Roberto, filho de Luigi. Pois bem, de agora em diante você se chamará Antônio. Vamos, Antônio!" Mas, pessoal!... O que está acontecendo com Pedro? É como se uma força o estivesse possuindo. Algo na voz de Jesus, quem sabe, no seu olhar... Não dá para saber. Um raio, como quando você se apaixona. Aquele carpinteiro o conquistou. É verdade que as coisas mais importantes da vida não se aprendem nem se ensinam, mas se encontram. E de fato Jesus se põe em caminho... e Pedro o segue.

Referências

O LIVRO Pietro. Un uomo nel vento de Roberto Benigni (escrito com Michele Ballerin, Chiara Mercuri e Stefano Andreoli) Einaudi, 128 páginas, €14,50.

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