11 Dezembro 2025
O exército israelense ordenou que suas tropas permaneçam em suas bases até amanhã. E 850 mil deslocados internos se preparam para o pior.
A reportagem é de Gabriella Colarusso, publicada por La Repubblica, 11-12-2025.
Os temores sobre os danos que a tempestade Byron pode causar são tão grandes que, na noite passada, o exército israelense ordenou que seus soldados permanecessem em suas bases e não retornassem para casa durante o fim de semana. Suspendeu todos os exercícios de treinamento e proibiu dormir ao ar livre, limitando a circulação a pé até o amanhecer de sexta-feira. Gaza aguarda ansiosamente a mesma tempestade, em meio a milhares de tendas que já foram inundadas pelas chuvas desde terça-feira e com recursos limitados para enfrentar a tempestade. O serviço meteorológico prevê inundações, ventos fortes e granizo em uma área onde milhares de pessoas foram deslocadas. Os sistemas de esgoto estão inoperantes e o lixo não está sendo coletado porque a empresa responsável por esse serviço não possui recursos e, na prática, deixou de existir.
Os sistemas de drenagem e bombeamento de água da chuva estão fora de serviço, e as famílias estão cavando canais ao redor de suas barracas na lama para tentar se proteger. "Pequenos rios se formaram ao redor de nossas barracas, e muitas já foram inundadas", conta Sami, morador de Khan Yunis. O porta-voz da Defesa Civil Palestina, Mahmoud Bassal, afirmou que cerca de mil barracas já foram alagadas e que continuam recebendo pedidos de ajuda que não conseguem atender. A previsão é de chuvas mais intensas ao longo de hoje e amanhã.
Segundo estimativas das Nações Unidas, aproximadamente 850 mil pessoas vivem em 761 campos de refugiados, que são os mais vulneráveis a inundações. Organizações humanitárias apelaram a Israel para que permita a entrada de ajuda humanitária e casas móveis para lidar com a emergência.
A questão continua sendo um ponto de discórdia entre as autoridades de Jerusalém e os trabalhadores de ONGs. A Associated Press, que analisou dados do Cogat, órgão israelense que supervisiona as atividades civis na Faixa de Gaza, afirma que, desde o início do cessar-fogo há dois meses, a ajuda humanitária que entrou em Gaza foi menor do que a estipulada no acordo — 459 caminhões por dia em vez de 600, enquanto as Nações Unidas estimam o número em 113. "O Cogat insistiu na quarta-feira que o número de caminhões que entram em Gaza diariamente está acima do limite de 600, mas se recusou a explicar por que os dados não coincidem ou a fornecer dados brutos sobre a chegada dos caminhões", escreve a agência.
Outra agência da ONU, o Unicef, está alertando para o estado de desnutrição que muitas crianças e suas mães em Gaza ainda enfrentam. "Em Gaza, a situação é clara: mães desnutridas dão à luz bebês prematuros ou com baixo peso, que morrem em unidades de terapia intensiva neonatal (...) ou sobrevivem, apenas para sofrerem de desnutrição ou complicações médicas posteriormente", disse a porta-voz Tess Ingram . Entre julho e setembro, a agência relata que aproximadamente "38% das gestantes atendidas foram diagnosticadas com desnutrição aguda. Em outubro, admitimos 8.300 gestantes e lactantes para tratamento de desnutrição aguda — cerca de 270 por dia — em uma região onde nenhum caso de desnutrição havia sido observado antes de outubro de 2023." Em Gaza, o número de crianças que morrem no primeiro dia de vida aumentou 75%.
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