Alegria e gratidão. Artigo de Egydio Schwade

Egon Dionísio Heck | Foto: Maiara Dourado/Cimi

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18 Dezembro 2025

"Pela sua obra escrita, em poesia e proza, além do mais rico acervo de fotos sobre a situação, luta e engrandecimento dos povos indígenas nestes últimos 50 anos da mudança da pastoral indigenista, considero Egon o maior indigenista que o Brasil teve até hoje", escreve Egydio Schwade, membro-fundador do Conselho Indigenista Missionário  Cimi.

Eis o artigo.

Queridos companheiros e amigos jesuítas,

Esta semana, Teresinha [1], Weber e eu, tivemos uma grande surpresa que nos causou uma enorme alegria. Foi a notícia de que os jesuítas aceitaram acolher o nosso querido amigo, Pe. Egon Dionísio Heck, gigante da nova missão indigenista da Igreja, que sofre de Parkison e necessita de um tratamento especializado. Foi Luiz Ventura, Secretário Executivo Nacional do Cimi que nos transmitiu esta alegria.

Conheci o Egon em 1969, sentado atrás enquanto dirigia o ônibus do Seminário em Curitiba rumo a universidade. Falei a ele da situação dos indígenas da Amazônia. Em consequência da conversa ele decidiu entrar na OPAN-Operação Anchieta. E no ano seguinte já estava atuando em aldeia dos Pakaa Nova no rio Guaporé em Rondônia.

Em seguida completou a Teologia na PUCRS. Se ordenou na Diocese de Chapecó. A partir daí afundou mesmo na causa missionaria indigenista. Egon foi muito audaz, decidido e corajoso, buscando sempre ficar do lado dos povos indígenas que estavam em maior perigo.

Após sua primeira experiência com os indígenas na Boca do rio Guaporé em Rondônia, assumiu a complicada situação dos índios Kaingang e Guarani do Sul do Brasil que tiveram suas áreas invadidas do Rio Grande do Sul até São Paulo. Ali tornou-se o principal articulador da criação e ação do Cimi-Sul, durante vários anos.

Já bem encaminhado o trabalho no Cimi-Sul, com os indígenas retomando as suas terras para a sua sobrevivencia, Egon se dirigiu ao Cimi-Norte I (Amazonas e Roraima). Trabalhou primeiro na Prelazia de Tefé, onde atuou nos rios Juruá e Giruã (com os índios Deni) e no alto do Rio Jutaí, com os índios Kanamari. Região de muitas doenças, Ali pegou uma malária tão grave que, para salvar a sua vida, os índios e um companheiro da Opan, o carregaram às pressas em rede, durante um dia e uma noite pela floresta, do Alto Jutaí até a cidade de Eirunepé, no rio Juruá.

Depois ocupou varios cargos no Cimi, no Cimi-Nacional e no Cimi-Norte I. E em seguida voltou às bases. Desta vez a Roraima para apoiar os povos indígenas da Raposa Serra do Sol, em luta ferrenha por uma área unida e não picada como desejavam fazendeiros e governos para poderem facilmente abocanhar paulatinamente tudo. Ali Egon sofreu um atentado a facada, mas mesmo ferido conseguiu se livrar.

Finalmente foi apoiar os Guarani do Mato Grosso do Sul, em extrema necessidade, devido aos constantes ataques e invasão de suas terras pelos latifundiários da região, como continua sendo público e notório.

Foi ali que apareceram os primeiros sinais da doença que aos poucos foi tomando conta de Egon: o parkison.

Todos começamos a nos preocupar. O Cimi o convenceu a permanecer mais em Brasília, onde ainda pode atuar bastante. Algumas vezes também ainda visitava os seus amigos Guarani no Mato Grosso do Sul e por extensão os familiares no Paraná. E mesmo a nós aqui no Norte visitou algumas vezes. Uma vez permaneceu durante dois meses, mas já estava bastante debilitado. Há dois anos estivemos juntos no Mato Grosso do Sul. Ele vindo de Brasília e nós junto com o Cardeal D. Leonardo, Presidente do Cimi, aqui do Norte. Foi por ocasião da celebração dos 40 anos do martírio do Tuxaua Marçal de Souza, aquele que fez o famoso discurso diante do Papa em Manaus, em 1980. Ali Egon já se comunicava com dificuldade. E depois disso não conseguiu mais sair do Centro Ir. Vicente Cañas do Cimi, em Luziania. Ali o visitamos ainda recentemente, quando da Assembleia do Cimi.

Pela sua obra escrita, em poesia e proza, além do mais rico acervo de fotos sobre a situação, luta e engrandecimento dos povos indígenas nestes últimos 50 anos da mudança da pastoral indigenista, considero Egon o maior indigenista que o Brasil teve até hoje.

Teresinha [1] e eu, pela nossa amizade muito grande com Egon, ficamos muito felizes e emocionados quando Luiz Ventura nos comunicou esta semana, a decisão dos jesuítas de oferecer ao Egon uma vaga em um de seus centros de Saúde para idosos. Não podíamos desejar lugar melhor para o querido companheiro e destemido missionário da Igreja do Brasil.

Além do centro especializado para tratamento de idosos, a cidade de São Paulo, tem mais vantagens para o Egon: pessoas importantes de seu convívio moram por perto e podem eventualmente marcar presença. Mora ali sua filha adotiva a jornalista Thaís Brianezi, Wilmar D’Angelis e esposa que atuaram vários anos com ele no Cimi-Sul e a jornalista Railde, que trabalhou no Cimi e segundo soube deseja recuperar o precioso acervo documental do Egon.

Por isso vai aqui o nosso muito obrigado a todos os companheiros jesuítas e em especial aos que tomaram esta tão fraterna e solidária decisão em favor do nosso querido companheiro Egon Dionísio.

Muito, muito obrigado, do mínimo companheiro,

Egydio.

Nota

Teresinha veio cuidar de minha velhice, (faz 7 anos), depois que sofri uma cirurgia de colostomia por motivo de uma obstrução intestinal. É sobrinha do falecido P. Leopoldo Weber, sj, missionário do Japão e da Amazônia. Ambos temos muitos amigos por motivo de nosso longo trabalho indigenista na OPAN e no Cimi. Teresinha trabalhou 6 anos com Ir. Vicente Cañas e o Pe. Thomaz Lisboa, sj e mais 6 anos com Pe. Gunter Kroemer no Purus. Um desses amigos é o Pe. Egon Dionísio, sempre muito próximo a nós durante a maior parte de nosso trabalho indigenista.

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