13 Novembro 2025
Os cientistas certificam que se está fazendo alguma coisa para abandonar os combustíveis fósseis responsáveis pela mudança climática, mas devagar demais para conter o aquecimento extra dentro de 1,5°C.
A informação é de Raúl Rejón, publicada por El Salto, 13-11-2025.
Nenhum foi salvo: as emissões de CO₂ que os seres humanos despejam na atmosfera ao queimar petróleo, gás e carvão sobem outra vez neste ano. O aumento de 1,1% em relação a 2024, calculado pelo Global Carbon Budget (GCP), significa que o mundo não vai alcançar o tão esperado teto de gases de efeito estufa lançados na atmosfera, etapa prévia necessária para começar o corte profundo indispensável para limitar o aquecimento global do planeta, ou seja, a raiz da crise climática.
O panorama geral no mundo é que todos os combustíveis fósseis usados pelos seres humanos emitem mais CO₂ que no ano passado. O carvão, por exemplo, sobe 0,8%. É o mineral mais sujo e o primeiro do qual se tentou se desvincular, mas continua sendo o que mais gases injeta. O petróleo sobe mais 1% e o gás mais 1,3% em todo o mundo.
O total das emissões cresce de maneira mais lenta que na década passada. O problema é que o tempo para cumprir o Acordo de Paris está se esgotando rapidamente.
Não avançamos muito, não chegamos ao pico, explica o pesquisador do CSIRO australiano e coautor do estudo, Pep Canadell. Canadell afirma que o petróleo subiu muito nos últimos anos e já está quase nos níveis anteriores à pandemia de covid. Ele também se mostra preocupado com o gás, pois detectam que sua presença seguirá por vários anos, o que não é compatível com a descarbonização.
A ciência deixou claro que o problema da mudança climática é resultado da acumulação de CO₂ na atmosfera nos últimos 200 anos. E esse CO₂ provém em 75% da queima de combustíveis fósseis.
Os cálculos do GCP chegam durante a primeira semana da Cúpula do Clima do Brasil (COP30) em Belém do Pará. O presidente brasileiro, Lula da Silva, deseja que a conferência seja lembrada como a da verdade, ou seja, que traga medidas concretas para afastar o mundo do uso de combustíveis fósseis.
Precisamos de uma folha de rota para que a humanidade, de forma justa e planejada, supere sua dependência dos combustíveis fósseis, disse Lula na abertura.
China, Estados Unidos, União Europeia e Índia emitem mais CO₂ que em 2024, mas por motivos diferentes. Canadell explica que o aumento da China pode significar que o país esteja a ponto de atingir seu pico máximo de emissões. Isso seria um marco, já que o país anunciou planos para começar a reduzir assim que atingir o pico.
Na União Europeia, o aumento de 0,4% pode ser temporário, enquanto nos Estados Unidos o aumento é mais significativo, quase 2%.
Os planos nacionais enviados à ONU para esta COP30, ainda que mais ambiciosos que os anteriores, ficam muito aquém do necessário: todos combinados levariam a uma redução de pouco mais de 12% até 2035, quando seria preciso mais do que o dobro. As políticas atuais projetam um aquecimento de 2,8°C até o fim do século.
O orçamento de carbono está praticamente esgotado: seguindo o ritmo atual, em quatro anos o mundo terá usado todo o carbono que poderia emitir para não ultrapassar 1,5°C de aquecimento.
Historicamente, só houve três momentos de cortes significativos nas emissões: após a dissolução da União Soviética nos anos 1990, depois da crise financeira de 2008 e durante a pandemia de covid. Ainda assim, as emissões globais saltaram de cerca de 22 gigatoneladas em 1990 para 38 gigatoneladas em 2025, um aumento de 72%.
Além disso, mesmo quando o mundo atingir o pico das emissões, previsões indicam que ainda permanecerá vários anos num patamar elevado antes de começar a reduzir.
Isso não deve nos fazer mudar o objetivo de temperatura máxima, afirma Pep Canadell. Estão sendo feitas coisas, claro: há mudanças em muitos lugares, como a instalação massiva de renováveis na China, no Vietnã e energia solar no Paquistão.
O relatório do Global Carbon Budget lista 35 países que conseguem reduzir emissões de CO₂ enquanto aumentam seu PIB — entre eles a Espanha — quando há dez anos eram apenas 15. O problema, resume Canadell, é que a velocidade ainda é lenta demais.
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