08 Novembro 2025
"Miranda mostra que a esperança cristã é uma força vital capaz de orientar ações concretas, promover a justiça social e conferir sentido à vida mesmo em contextos de instabilidade e incerteza. Em tempos de fragmentação e desesperança, o livro de Miranda oferece não apenas reflexão, mas também um convite à ação transformadora e à vivência de uma esperança ativa e solidária".
O artigo é de Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Eis o artigo.
A obra Viver com sentido em tempos caóticos: a esperança cristã (Loyola, 2025, 82 páginas), do renomado teólogo e professor emérito de Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Mário de França Miranda, constitui uma reflexão profunda sobre a esperança cristã, articulando perspectivas teológicas, filosóficas e existenciais diante das incertezas no atual cenário. O autor demonstra que a esperança não se limita a um sentimento subjetivo, mas é uma dimensão antropológica fundamental, capaz de orientar a ação ética e fomentar o engajamento social, oferecendo sentido à vida em um contexto marcado por transformações sociais, culturais, econômicas e tecnológicas.
Uma das características mais notáveis do livro é a articulação entre a dimensão pessoal e coletiva da esperança. Miranda evidencia que a esperança cristã transcende expectativas individuais, direcionando o sujeito à solidariedade, à promoção da justiça e à construção do bem comum. Ao dialogar com diversas tradições filosóficas e espirituais, como o budismo, o estoicismo, o judaísmo e o aristotelismo, e com pensadores modernos, como Nietzsche, Bergson, Jung e Fromm, o autor demonstra a universalidade da esperança e sua função como motor da ação, da criatividade e do desenvolvimento moral.
Livro "Viver com sentido em tempos caóticos: a esperança cristã" de Mário de França Miranda
A obra organiza-se em cinco capítulos que progridem logicamente da base antropológica da esperança à sua concretização na vida presente e futura, abordando a genealogia histórica da esperança cristã, a reflexão crítica sobre imaginários tradicionais da vida após a morte e a definição do objeto legítimo da esperança. O tratamento da escatologia, especialmente nos capítulos que discutem a ressurreição e a vida futura, é cuidadoso e atual, propondo releituras do inferno e do purgatório que privilegiam a responsabilidade ética do sujeito e a centralidade do amor divino, em vez de imagens de controle moral coercitivo.
Sob essa perspectiva, a obra analisada oferece uma reflexão rigorosa e atual sobre a esperança cristã, evidenciando sua função ética, existencial e transformadora. O estilo do autor equilibra rigor conceitual e clareza, tornando o livro acessível tanto a leitores acadêmicos quanto a interessados na reflexão ética e espiritual. Miranda mostra que a esperança cristã é uma força vital capaz de orientar ações concretas, promover a justiça social e conferir sentido à vida mesmo em contextos de instabilidade e incerteza. Em tempos de fragmentação e desesperança, o livro de Miranda oferece não apenas reflexão, mas também um convite à ação transformadora e à vivência de uma esperança ativa e solidária.
Leia mais
- Como ordens religiosas envelhecidas podem olhar para o futuro com esperança. Entrevista com Franziska Mitterer e Rafael Rieger
- A concepção de educação cristã na Carta Apostólica Desenhando Novos Mapas de Esperança. Artigo de Eliseu Wisniewski
- A esperança, a verdadeira esperança, não é uma expectativa ingênua, mas sim um desafio moral. Artigo de Thomas C. Fox
- Esperança, última deusa. Artigo de Viola Ardone
- A esperança nos torna altruístas. Artigo de Vito Mancuso
- O dever da esperança. Artigo de Enzo Bianchi
- Esperança em tempos difíceis. Entrevista com Enzo Bianchi
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- Esperanças, uni-vos! Artigo de Luiz Marques
- Esperança cristã: descobrir o encontro com Cristo
- Esperança como desejo. Artigo de Enrico Peyretti
- Estamos todos um pouco desesperados. Mas a esperança é uma aventura. Artigo de Enzo Bianchi
- A esperança não é um dom, mas uma escolha. Para os cristãos, é um dever perante a criação. Artigo de Enzo Bianchi