29 Outubro 2025
A regra suprema na Igreja Católica é o amor, que obriga todos os fiéis a servir, não a julgar, excluir ou dominar os outros, disse o Papa Leão XIV.
A reportagem é de Carol Glatz, publicada por National Catholic Reporter, 27-10-2025.
"Ninguém deve impor suas próprias ideias; todos devemos ouvir uns aos outros. Ninguém é excluído; todos somos chamados a participar", disse ele em sua homilia durante uma missa na Basílica de São Pedro em 26 de outubro. "Ninguém possui toda a verdade; todos nós devemos buscá-la humildemente e buscá-la juntos", falou ele.
A missa marcou o encerramento do Jubileu das Equipes Sinodais e Órgãos Participativos, de 24 a 26 de outubro. Cerca de 2 mil membros de equipes e órgãos sinodais, como conselhos presbiterais, conselhos pastorais e conselhos financeiros nos níveis diocesano, eparquial, nacional e regional, estavam inscritos para os eventos do Jubileu.
O Jubileu incluiu oficinas e outros encontros para fortalecer ainda mais a fase de implementação do Documento Final do Sínodo dos Bispos de 2021-2024 sobre a Sinodalidade.
“Devemos sonhar e construir uma igreja mais humilde”, disse Leão em sua homilia. Deve ser uma igreja que não se mantenha "triunfante e cheia de orgulho, mas que se incline para lavar os pés da humanidade", acrescentou.
Deve ser uma Igreja que não julgue, disse ele, "mas que se torne um lugar acolhedor para todos; uma Igreja que não se feche em si mesma, mas permaneça atenta a Deus para que possa, da mesma forma, ouvir a todos".
Ao "revestir-nos dos sentimentos de Cristo, ampliamos o espaço eclesial para que se torne colegial e acolhedor ... nos permitirá viver com confiança e um espírito novo em meio às tensões que permeiam a vida da Igreja".
"Devemos permitir que o Espírito transforme" as tensões atuais na Igreja "entre unidade e diversidade, tradição e novidade, autoridade e participação", disse ele. “Não se trata de resolvê-los reduzindo um ao outro, mas de deixar que sejam purificados pelo Espírito, para que sejam harmonizados e orientados para um discernimento comum”, disse ele.
"Ser uma Igreja sinodal significa reconhecer que a verdade não se possui, mas se busca em conjunto, deixando-nos guiar por um coração inquieto e apaixonado pelo amor", explicou.
As equipes sinodais e os órgãos participativos, para ele, devem "expressar o que ocorre dentro da Igreja, onde os relacionamentos não respondem à lógica do poder, mas à do amor". Em vez de seguir uma lógica "mundana", a comunidade cristã se concentra na "vida espiritual, que nos revela que somos todos filhos de Deus, irmãos e irmãs, chamados a servir uns aos outros (...) A regra suprema na igreja é o amor. Ninguém é chamado para dominar; todos são chamados para servir", completou.
O papa falou que Jesus mostrou como ele pertence "aos que são humildes" e condena os hipócritas na parábola do fariseu e do publicano, que era a leitura do Evangelho do dia (Lc 18,9-14).
O fariseu e o cobrador de impostos entram no templo para rezar, mas ficam divididos principalmente por causa da atitude do fariseu, que é "obcecado pelo próprio ego e, dessa forma, acaba focado em si mesmo, sem ter um relacionamento com Deus ou com os outros".
"Isso também pode acontecer na comunidade cristã", disse ele. "Acontece quando o ego prevalece sobre o coletivo, causando um individualismo que impede relacionamentos autênticos e fraternos."
"Isto também ocorre quando a pretensão de ser melhor que os outros... cria divisão e transforma a comunidade em um lugar de julgamento e exclusão; e quando alguém usa seu papel para exercer poder, em vez de servir", disse o papa. O publicano, por outro lado, reconheceu sua pecaminosidade, orou pela misericórdia de Deus e "voltou para casa justificado", isto é, perdoado e renovado por seu encontro com Deus, de acordo com a leitura.
Todos na Igreja devem mostrar a mesma humildade, continuou, reconhecendo que "todos precisamos de Deus e uns dos outros, o que nos leva a praticar o amor recíproco, ouvir uns aos outros e gostar de caminhar juntos". Essa é a natureza e a práxis das equipes sinodais e dos órgãos participativos, disse ele, chamando-os de "uma imagem desta igreja que vive em comunhão".
"Vamos nos comprometer a construir uma igreja que seja inteiramente sinodal, ministerial e atraída por Cristo e, portanto, comprometida em servir o mundo", explicou o pontífice.
Leão citou as palavras do falecido bispo italiano dom Antonio Bello, que orou pela intercessão de Maria para ajudar a Igreja a "superar divisões internas. Intervir quando o demônio da discórdia se insinuar em seu meio. Apagar as chamas do facciosismo. Reconciliar disputas mútuas. Desarmar suas rivalidades. Detê-los quando decidirem seguir seu próprio caminho, negligenciando a convergência em projetos comuns".
A Igreja Católica "é o sinal visível da união entre Deus e a humanidade, onde Deus pretende reunir-nos a todos numa família de irmãos e irmãs e fazer de nós o seu povo: um povo formado por filhos amados, todos unidos no único abraço do seu amor".
Mais tarde, antes de rezar o Angelus ao meio-dia com os presentes na Praça São Pedro, Leão continuou sua reflexão sobre a leitura do Evangelho do dia, dizendo: "não é ostentando nossos méritos que somos salvos, nem escondendo nossos erros, mas apresentando-nos honestamente, assim como somos, diante de Deus, de nós mesmos e dos outros, pedindo perdão e confiando-nos à graça do Senhor".
Assim como uma pessoa doente não tenta esconder — por vergonha ou orgulho — suas feridas de um médico, o cristão também não deve tentar esconder sua dor se quiser ser curado, disse ele.
"Não tenhamos medo de reconhecer nossos erros, denunciá-los, assumir a responsabilidade por eles e confiá-los à misericórdia de Deus", disse ele. "Dessa forma, o seu reino — que não pertence aos orgulhosos, mas aos humildes, e se constrói por meio da oração e da ação, da prática da honestidade, do perdão e da gratidão — pode crescer em nós e ao nosso redor."
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