28 Outubro 2025
"Estudiosas e estudiosos, de fato, acreditam que a organização da Igreja não foi decidida por Jesus, mas deixada à responsabilidade dos e das crentes nele. Portanto, concluem, o patriarcado eclesiástico não foi desejado por Cristo, mas foi uma escolha histórica decidida pelos 'padres'", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 27-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A realeza inglesa rezou junto com o Papa na Capela Sistina, um evento nunca antes visto no meio milênio desde a separação de Canterbury e Roma. Mas, ao mesmo tempo, enquanto em Londres, três semanas antes, uma mulher havia sido nomeada chefe da Igreja Anglicana, aqui, tanto no Vaticano quanto na Itália, até mesmo a ordenação de mulheres diáconas continua sendo adiada.
Somente diplomacias de longa data podem resistir a uma contradição tão flagrante: Charles III, acompanhado de sua esposa Camila, teve um encontro privado com Leão XIV e, em seguida, foram juntos à Capela Sistina. Nenhuma nuvem parecia perturbar sua harmonia, também porque ambos se sentem unidos por seu empenho ecológico compartilhado. Mas, num plano estritamente teológico, suas Igrejas se tornaram mais distantes que nunca: de fato, pela primeira vez na história, em 3 de outubro, em Londres, uma mulher, Sarah Mullally, foi eleita Arcebispo de Canterbury.
Em Roma, ao contrário, como o Papa reiterou na sexta-feira e como decidido no sábado na terceira sessão do Sínodo Italiano, a mera questão do diaconato ordenado feminino (imaginem então o sacerdócio e o episcopado!) ainda está em estudo, do qual não se prevê o fim. Na raiz dessas duas decisões cruciais está uma premissa fundamental: segundo Londres, o fato de, durante séculos, apenas homens terem sido admitidos em ministérios "elevados" não era de "direito divino" — isto é, não foi decidido por Jesus, mas era uma escolha histórica e, portanto, modificável.
Mas, segundo os pontífices, que o reiteram desde Paulo VI em diante, o "não" às mulheres nesses ministérios remonta ao próprio Jesus; portanto, é imodificável e deve permanecer em eterno. Para complicar a situação, há um dado: além de pequenos grupos na Inglaterra, na África os próprios primazes anglicanos da Nigéria, Uganda, Quênia e Tanzânia consideraram a escolha de uma mulher para Canterbury totalmente inaceitável: "Isso é absolutamente fora da tradição", afirmam, e o primaz nigeriano rompeu todas as relações com a nova primaz da Comunhão Anglicana. Por seu lado, Mullally — que tomará posse em março próximo — solicitou um diálogo esclarecedor com os bispos anglicanos africanos. Por enquanto, porém, não há espaço para concessões: na verdade, acredita-se que tanto o "sim" quanto o "não" às mulheres bispas afirmam se basear nas Escrituras. Vitória para Leão? Talvez: mas é melhor aguardar por possíveis desdobramentos.
De fato, mesmo dentro do mundo bíblico e teológico da Igreja Romana, ao lado de quem se sente representado ou representada pelo "não" dos primazes africanos e pelo “não” do Vaticano, está crescendo o peso de quem considera que a decisão de escolher uma mulher para Canterbury (e, um dia, para Roma) é bem fundamentada. Estudiosas e estudiosos, de fato, acreditam que a organização da Igreja não foi decidida por Jesus, mas deixada à responsabilidade dos e das crentes nele. Portanto, concluem, o patriarcado eclesiástico não foi desejado por Cristo, mas foi uma escolha histórica decidida pelos "padres".
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