27 Outubro 2025
Há apenas dez anos, teria sido inimaginável, em conteúdo e método, e dez anos na história da Igreja são um nada. O caminho sinodal italiano aprovou ontem, com ampla maioria, um documento que pede à Conferência Episcopal para apoiar as Jornadas contra pedofilia, homofobia e transfobia, para conceder mais poder de decisão na Igreja a mulheres, leigos e jovens, para testemunhar a "pobreza evangélica na gestão dos bens". A assembleia votou proposta por proposta e — uma revolução para a CEI — os votos foram publicados.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 26-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
É o resultado de um longo processo iniciado pelo Papa Francisco, em 2015, quando, em Florença, pediu à CEI que se mantivesse afastada de "qualquer substituto de poder, imagem ou dinheiro" e sugeriu a convocação de um Sínodo para escutar todas as vozes. Aquelas palavras caíram no vazio por anos, tanto que Bergoglio voltou a instar os bispos com todo o vigor de que era capaz. Finalmente, há quatro anos, o processo foi iniciado e, após inúmeras reuniões, chegou ao seu desfecho. Com um último revés em abril passado, quando o documento final foi alvo de críticas. Alguns queriam fechá-lo rapidamente, a assembleia – tanto os leigos quanto muitos bispos – decidiu reescrevê-lo para refletir a riqueza do debate, convocando novo encontro no final de outubro. "Não foi um passo para trás, mas um passo para a frente", resumiu D. Erio Castellucci, presidente da Comissão do Caminho Sinodal e vice-presidente da CEI: "Rumo a uma maior corresponsabilidade, com a liberdade de poder se expressar mesmo com dissenso."
O documento final contém 124 propostas: não se trata de mudar a doutrina — somente um Concílio poderia fazer isso —, mas de evoluir a pastoral. Os temas são os mais variados e, embora todos os parágrafos tenham sido aprovados por ampla maioria, alguns receberam um número mais alto de votos negativos. A proposta de pedir à CEI para apoiar "com a oração e a reflexão as 'jornadas' promovidas pela sociedade civil para combater todas as formas de violência e manifestar solidariedade com aqueles que são machucados e discriminados (Jornadas contra a violência e a discriminação de gênero, pedofilia, bullying, feminicídio, homofobia e transfobia, etc.)" recebeu 185 votos "não" e 637 votos "sim". Segundo Monsenhor Castellucci, a oposição talvez decorra do equívoco entre aqueles que pensavam que se pedia para aderir a paradas do orgulho gay, quando na realidade se trata de realizar vigílias de oração contra a homofobia e a transfobia.
O sínodo pede a superação da "atitude discriminatória" em relação a homossexuais e pessoas trans (154 não, 672 sim) e um aprofundamento da questão — que surgiu repetidamente, inclusive no Vaticano, nos últimos anos — do "diaconato das mulheres" (188 não, 625 sim: a proposta mais contestada). A sugestão de ordinários militares sem estrelas também é objeto de debate (111 não, 734 sim), enquanto a proposta de conselhos pastorais em cada paróquia e diocese é aprovada com folga (805 sim, 20 não), superando o papel meramente consultivo dos leigos na vida da Igreja. As propostas relativas às vítimas de abuso sexual também obtiveram amplo consenso: cuidado, prevenção e colaboração com as instituições italianas. O documento segue agora para os bispos, que terão que tirar consequências práticas.
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