10 Outubro 2025
“Para o Vaticano, a destruição de Gaza é desmedida e desproporcional. Afinal, a Santa Sé acredita que 'a guerra é sempre uma derrota para a humanidade'”.
A entrevista é de Alessandra Arlachi, publicada por Corriere della Serra, 09-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Egídio, o senhor que há tempo é próximo da Santa Sé, como vê esse desacordo com a embaixada israelense?
Há uma tensão entre Israel e a Santa Sé que vem de longa data. Mas acredito que neste caso a declaração do Cardeal Parolin sobre os dois estados, um palestino e um israelense, provocou uma reação negativa porque ele falou de dois ‘massacres’ em 7 de outubro.
A Embaixada de Israel rejeitou a comparação entre as duas situações.
Mais do que a comparação, é o uso do mesmo termo. Cada massacre é diferente do outro, mas massacres ocorreram. A questão é principalmente temporal: a recepção negativa das palavras de Parolin pelo lado judaico foi motivada pelo fato de ter ocorrido em um dia de grande luto. Além do que, não exageremos em ver rupturas; é um comunicado da embaixada. Claro, há também uma questão de conteúdo.
Em que consiste?
Para o Vaticano, a destruição de Gaza é desmedida e desproporcional. Afinal, a Santa Sé acredita que 'a guerra é sempre uma derrota para a humanidade.
Não há o receio de que os ataques e bombardeios em Gaza tenham como objetivo levar a um genocídio?
O Cardeal Parolin não falou de genocídio. Ele usou a palavra massacre, que, no entanto, é uma palavra muito forte, carregada de pesada tragicidade.
E o senhor a usaria?
Genocídio é um juízo aplicado pelo Tribunal Penal Internacional de acordo com uma convenção, então eu não o usaria em debates ou interpretações. A história depois julgará.
A discordância poderia ter sido evitada? Em sua opinião ainda é possível consertar?
É importante relatar os eventos nos termos certos. O Papa Leão XIV condenou o terrorismo de 7 de outubro, pediu a redução do ódio e o retorno ao diálogo e afirmou que Parolin expressou a opinião da Santa Sé.
Isso será suficiente?
Neste momento, acalmar a situação é do interesse de todos.
A embaixada israelense acusou explicitamente o cardeal de querer "prejudicar a paz".
Essa afirmação me parece realmente exagerada. O Cardeal Parolin é notoriamente um homem de paz; ele defendeu a paz em todos os lugares e em todas as situações.
O senhor disse anteriormente que a tensão nas relações entre a Santa Sé e Israel é antiga.
Foi João Paulo II quem quis o reconhecimento diplomático do Estado de Israel, em 1994. Ele se sentia próximo de Israel porque havia vivido o Holocausto.
E antes do Papa João Paulo II?
Antes, o Vaticano não reconhecia Israel. Lembramos Paulo VI quando visitou a Terra Santa em 1964. Diante do presidente, ele nem sequer mencionou o Estado de Israel, defendendo assim a memória de Pio XII. Existe uma história de relações longas e difíceis.
E agora?
Agora a Santa Sé se pergunta: qual é o futuro do povo palestino? Esse é o problema fundamental. O desacordo com o Estado de Israel sempre foi este: sobre o destino do povo palestino.
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