11 Outubro 2025
Representantes da Alternativa para Alemanha (AfD) tem mantido diálogos intensos com Washington para estreitar laços com o atual governo de Trump. As relações com os EUA têm sido controversas dentro do partido há muito tempo.
A reportagem é de Hans Pfeifer, publicada por DW, 06-10-2025. A tradução é do Cepat.
Beatrix von Storch, vice-presidente do grupo parlamentar de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) no parlamento alemão, visitou recentemente os Estados Unidos, em setembro de 2025. Em Washington, von Storch confirmou que se encontrou com oficiais do governo Trump, no anexo da Casa Branca. Ela se encontrou com seus pares estadunidenses incluindo supostamente funcionários do escritório do vice-presidente JD Vance e representantes do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional.
Von Storch descreveu as conversas na plataforma X como “muito francas, construtivas e na direção certa”. Von Storch afirmou que suas conversas em Washington tinham como tema central a liberdade de expressão. Em entrevista para estação de rádio suíça Kontrafunk von Storch declarou: “Eles estão interessados no tema da liberdade de expressão e da censura na Alemanha”. Para a AfD, este é uma questão central há muito tempo; no entanto, o que o partido chama de ‘restrições à liberdade de expressão’ são, com frequência, decisões judiciais contra seus políticos por violarem as leis existentes.
Em 2024, Björn Höcke, líder influente da AfD no estado de Turíngia, foi multado duas vezes por usar em discursos de campanha slogans ligados ao grupo paramilitar Sturmabteilung (SA), divisão de assalto de Adolf Hitler. A AfD geralmente deslegitima tais penalidades, alegando que são decisões politicamente motivadas.
Contra a imigração e contra a cultura ‘woke’
A reunião entre oficiais estadunidenses e visitantes alemães parece ter tido foco nas políticas internas da Alemanha, com a AfD usando o momento para promover sua agenda política. “Eles sabem que a AfD é um partido que se alinha amplamente com as políticas do governo Trump”, afirmou von Storch à Kontrafunk. Ela elencou tópicos que ambos têm em comum, incluindo ideais “anti-islamização, anti-migração e anti-cultura woke”.
Durante a última campanha eleitoral, a AfD recebeu apoio dos Estados Unidos. Em um discurso amplamente discutido na Conferência de Segurança de Munique, o vice-presidente americano, JD Vance, pediu uma cooperação mais estreita entre os partidos alemães e o partido da direita radical AfD.
Pouco antes das eleições de fevereiro, Elon Musk – até então aliado próximo de Trump e multimilionário – fez uma aparição via chamada ao vivo no congresso da AfD. Em meio a aplausos entusiasmados ele declarou seu apoio à AfD.
A AfD vê os EUA como o berço da sociedade da imigração
O cientista político e especialista em conservadorismo e extrema-direita Armin Pfahl-Traughber é cauteloso sobre como tais reuniões podem afetar as relações entre os EUA e a Alemanha. Ele não avalia que esta relação faça com que a AfD amplie sua influência política: “atualmente, eu não acredito que o governo estadunidense vai necessariamente ampliar essa relação”, afirma, complementando que a AfD não tem muita influência sobre a formulação de políticas federais alemãs, apesar de seu crescente apoio. No entanto, Pfahl-Traughber reconhece o valor político dessa conexão: “Esta reaproximação com o governo Trump gera um fortalecimento do partido”.
Internamente na AfD, os laços com os EUA têm sido objeto de debates acalorados há muito tempo. Nos círculos de extrema-direita, os Estados Unidos são frequentemente vistos como o berço da sociedade moderna de imigração, e partidos como a AfD costumam culpar a migração pela maioria dos problemas sociais.
Relação com o ditador russo Vladimir Putin
Muitos ideólogos do partido têm mostrado interesse – inclusive abertamente – nas políticas ‘linha-dura’ do presidente russo; por exemplo, a repressão aos movimentos LGBTQIA+ é vista pela AfD como algo positivo. Por isso, Pfahl-Traugber descarta que a crescente relação com os EUA não deve ser vista como uma aproximação com o país como um todo, mas especificamente com o trumpismo: “Os Estados Unidos de Trump claramente compartilham com a AfD visões ideológicas e posicionamentos políticos”.
Na conexão entre ambos está uma visão profundamente antiprogressista da sociedade, onde a liberdade de expressão é defendida apenas quando apoia as próprias opiniões. "Agora que há restrições à liberdade de imprensa nos EUA, não ouvi a líder do partido AfD, Alice Weidel, clamar por 'liberdade de expressão'", disse Pfahl-Traughber à DW. "Mas esse é o duplo padrão habitual, comum neste espectro político".
Após a visita de Beatrix von Storch a Washington, outra delegação da AfD viajou para Washington: Markus Frohnmaier, porta-voz de política externa do grupo parlamentar da AfD no parlamento, e o especialista em política externa da AfD, Jan Wenzel Schmidt, se encontraram com o conselheiro de alto escalão de Trump, Darren Beattie, durante uma viagem no início de outubro.
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