Israel perde a cabeça e ataca também Parolin. "Prejudica os esforços de paz"

Foto: Wikimedia Commons

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10 Outubro 2025

A embaixada do Estado judaico contra o secretário de Estado do Vaticano: "Ele se concentra nas críticas contra nós, ignorando a recusa do Hamas em libertar os reféns". Leão XIV: "O cardeal expressou muito bem as posições da Santa Sé". Enquanto no Vaticano se olha com alguma esperança para o plano de paz, Israel e a Igreja de Roma estão mais uma vez em desacordo. Desta vez, é a embaixada israelense junto à Santa Sé que ataca duramente o Vaticano por uma entrevista concedida na segunda-feira ao L'Osservatore Romano pelo secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin.

A informação é de Francesco Peloso, publicado por Domani, de 08-10-2025. A tradução é Luisa Rabolini.

Segundo a informação da representação diplomática do Estado judeu, o cardeal adotou um critério, em suas respostas à crise no Oriente Médio, de "equivalência moral onde não é pertinente".

"Por exemplo, a aplicação do termo 'massacre' tanto ao ataque genocida do Hamas de 7 de outubro quanto ao legítimo direito de Israel à autodefesa. Não existe equivalência moral entre um Estado democrático que protege seus cidadãos e uma organização terrorista que pretende matá-los”. "Esperamos", conclui a embaixada de Tel Aviv junto à Santa Sé, "que futuras declarações reflitam essa importante distinção".

A alfinetada no X

De forma mais geral, a embaixada, em comunicado divulgado via X, afirmou que, embora o cardeal estivesse animado por boas intenções, sua entrevista "corre o risco de prejudicar os esforços para encerrar a guerra em Gaza e combater o crescente antissemitismo. Concentra-se nas críticas a Israel, negligenciando a recusa contínua do Hamas em libertar os reféns ou pôr fim à violência".

Se essa é a alfinetada da diplomacia israelense, que certamente teve o pleno aval do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, é preciso dizer que as palavras do Secretário de Estado foram igualmente claras ao distinguir as responsabilidades do governo israelense daquelas do povo judeu. Na entrevista, Parolin condena repetida e inequivocamente todas as formas de antissemitismo, ao mesmo tempo em que levanta a voz para contestar o Hamas e os horrores de 7 de outubro. No que diz respeito à equivalência moral, no entanto, há uma passagem que deve ter feito o embaixador israelense pular da cadeira.

O Secretário de Estado de Leão XIV, de fato, afirma: "Nenhum judeu deve ser atacado ou discriminado por ser judeu, nenhum palestino deve ser atacado ou discriminado simplesmente por ser palestino, porque — como infelizmente ouve-se dizer — é um 'terrorista em potencial'." Em seguida, dirigindo-se diretamente a Netanyahu, Parolin acrescenta: "Há também muitas vozes de forte dissenso se levantando do mundo judaico contra a modalidade com que o governo israelense operou e está operando em Gaza e no resto da Palestina, onde — não nos esqueçamos — o expansionismo muitas vezes violento dos colonos visa tornar impossível a criação de um Estado palestino."

Aquele estado cujo reconhecimento, lembra o cardeal, a Santa Sé realizou 10 anos atrás. Por essa razão, o Vaticano saúda o recente reconhecimento do Estado palestino por vários governos. A esse respeito, o cardeal observa: "Não podemos deixar de constatar com preocupação que (...) as decisões israelenses visam impedir permanentemente a possível criação de um verdadeiro Estado palestino. Uma solução que, depois do que aconteceu nos últimos dois anos, me parece ainda mais válida." Portanto, mais do que equivalência moral, o protesto da embaixada israelense parece advir de um evidente incômodo pelas críticas explícitas dirigidas à atual liderança israelense pela cúpula da diplomacia do Vaticano.

Além disso, Parolin acaba por levantar dúvidas sobre a própria comunidade internacional, que, se por um lado condena os massacres de civis que acontecem em Gaza, pelo outro, não dá um passo concreto para deter a guerra: "Não basta dizer que o que está acontecendo é inaceitável e continuar permitindo que aconteça. É preciso questionar seriamente a licitude, por exemplo, de continuar a fornecer armas que são usadas em detrimento da população civil."

O Papa depois efetivamente deu plena cobertura ao quanto declarado por Parolin ao deixar Castel Gandolfo, onde foi questionado por jornalistas: "Prefiro não comentar; o cardeal expressou muito bem a opinião da Santa Sé a esse respeito". Além disso, o pontífice não deixou de reiterar sua "preocupação" pelos atos de antissemitismo.

Reféns e apelos

Certamente, o recente embate entre a Santa Sé e o governo israelense demonstra o caráter excepcional do momento que estamos atravessando. Por outro lado, o próprio Parolin lembrou que o Papa Francisco já havia feito nada menos que 21 apelos pela libertação de reféns no último ano e meio de seu pontificado, inclusive se reunindo com grupos de familiares dos sequestrados. Leão XIV continuou nesse mesmo caminho. É claro que Bergoglio também havia se questionado publicamente se a palavra "genocídio" seria apropriada para descrever o que estava acontecendo em Gaza, assim como fizeram seu sucessor e Parolin.

Mas, de fato, bastou usar a palavra "massacre" para desencadear a reação das autoridades israelenses. Sem esquecer que, em julho, um tanque israelense disparou contra a Igreja da Sagrada Família em Gaza.

Já naquele momento, o risco de uma crise diplomática entre a Santa Sé e Israel era evidente, a ponto de o próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter se sentido no dever de telefonar para o Papa e se desculpar pelo acontecido. Por fim, em setembro, houve uma tentativa em Tel Aviv de melhorar um pouco as relações com o Vaticano, tanto que o presidente Isaac Herzog foi recebido em audiência por Leão XIV. No entanto, os comunicados difundidos pela Santa Sé e pela diplomacia israelense sobre o conteúdo do que havia sido conversado foram de tal forma dissonantes que sugerem que os dois líderes participaram de eventos distintos.

Agora, o Vaticano olha com alguma esperança para o plano de paz de Trump, porque pelo menos poria fim às ações militares e à consequente destruição de vidas e moradias. Para a construção de uma paz justa, dizem no Vaticano, porém será preciso esperar um pouco mais. Por fim, cabe ressaltar que o Papa viajará à Turquia de 27 a 30 de novembro para celebrar o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia, e de 30 de novembro a 2 de dezembro estará no Líbano, onde abordará o tema da crise no Oriente Médio.

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