A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de Jo 2,1-11 que corresponde a celebração Nossa Senhora da Conceição Aparecida, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho". Jesus respondeu-lhe: "Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou." Sua mãe disse aos que estavam servindo: "Fazei o que ele vos disser". Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. Jesus disse aos que estavam servindo: "Enchei as talhas de água". Encheram-nas até a boca. Jesus disse: "Agora tirai e levai ao mestre-sala". E eles levaram. O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: "Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!" Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
Hoje celebramos a festa da nossa mãe, Nossa Senhora Aparecida, e o lema deste ano é: Com Maria Mãe da Esperança, conhecer Jesus e cuidar da vida. Há vários dias, em diferentes lugares do país, começaram novenas, peregrinações, caminhadas, onde se manifesta a fé e o amor do povo agradecido a Nossa Senhora Aparecida, que deixa em suas mãos suas súplicas, sua fé, sua esperança. São diferentes formas de reconhecer a presença amorosa de Maria que se manifesta na vida do povo brasileiro em geral. Neste domingo, pedimos de maneira especial que ela seja Mãe da Esperança, que nos ajude a conhecer Jesus e a cuidar da vida.
Neste domingo, a liturgia medita sobre a presença de Maria em um banquete de casamento em Caná, que inicia o ciclo dos sete sinais narrados no Evangelho. Diz o texto: “Naquele tempo, houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente”. Não sabemos quem são os noivos, mas o importante é que se celebra um casamento, símbolo do amor entre duas pessoas e, biblicamente, símbolo do amor entre Deus e seu povo, como é narrado em diferentes passagens do Antigo Testamento, especialmente através das profecias de Oséias. A Aliança de Deus com seu povo era representada como um casamento, uma união esponsal.
Durante uma celebração de casamento, Maria, mãe de Jesus, está presente. Ela intervém nesse momento para trazer alegria e festa, ajudando a transformar a falta de vinho em alegria desbordante. Sua presença é importante porque ela é quem “conduz” até Jesus. O casamento acontece e Maria está lá, junto com Jesus e seus discípulos. Chama a atenção essa presença silenciosa, mas firme, de Maria: ela está lá, não está apenas como uma visitante qualquer, mas seu papel é destacado pelo texto, que mostra como ela participa ativamente do evento. É uma presença que se destaca de forma intencional, ela está como quem “habita” esse espaço festivo e, dessa forma, participa desse banquete.
Jesus e os discípulos também foram convidados a participar desse casamento que se celebra em Caná da Galileia. “Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho". Ao estar no casamento, Maria percebe que falta o vinho da festa. Como dizia o Papa Francisco, comentando este texto do Evangelho de João: “Jesus começa seus sinais e ‘manifesta-se como esposo do Povo de Deus e nos une a ele com uma nova aliança de amor, que nós, sua família, temos que cuidar e estender a todos’. Maria avisa Jesus de que falta o vinho, este é um elemento típico do banquete messiânico e simboliza a abundância do banquete e a alegria da festa”, acrescentou. “Uma festa na qual falta vinho, os recém-casados se envergonham disso. Imaginem vocês terminar uma festa de casamento bebendo chá”. Texto completo: “Uma festa sem vinho não é festa”, diz Papa Francisco".
O vinho é um símbolo de celebração e alegria, sendo o resultado de um processo longo que envolve várias etapas e o trabalho de pessoas. Vamos pensar nas diferentes fases produção do vinho: primeiro, plantar e cuidar das vinhas; depois, chega a época da colheita, conhecida como vindima. Após isso, ocorre a separação dos grãos de uva dos engaços, chamada de desengace. Em seguida, vem a moagem ou esmagamento para extrair o mosto, seguido pela maceração e fermentação, que transformam o açúcar em álcool. Depois, o vinho é colocado em barris para estabilizar, antes de passar pelo engarrafamento. Todo esse processo exige trabalho em equipe, atenção especial e cuidado em cada etapa, pois todas são essenciais para chegar ao vinho final.
Nos evangelhos, Jesus faz referência à videira, aos sarmentos, ao cuidado da vinha, à colheita como necessidade fundamental para obter um vinho de qualidade, e também fala da necessidade de odres novos para um vinho novo, para que a fermentação não rompa o odre velho! Vemos assim que o vinho e todo o processo que envolve sua elaboração é uma realidade próxima a Jesus e àqueles que recebem suas palavras. Eles sabem reconhecer um bom vinho e conhecem o longo processo de elaboração que está por trás dele. Podemos dizer que é um longo trabalho em “equipe”, com um objetivo bem claro e definido.
O vinho é sinônimo de alegria e não pode faltar em uma festa de casamento. Nas núpcias o vinho é servido em abundância e junto com o trigo e o óleo constitui um dos três víveres essenciais da vida humana (Dt 7, 13; 11,14). Maria percebe que não é possível que a festa continue, ela se dá conta de que é preciso uma intervenção de seu filho e confia nele.
Maria está lá e toma a iniciativa para que a festa continue. Ela é uma presença silenciosa até o momento em que percebe que a festa deixará de ser festa. Ela dialoga com Jesus, “dizendo-lhe” que não há mais vinho. É como um convite para se apresentar publicamente, quase como se dissesse: é preciso agir e, de alguma forma, ela introduz a hora messiânica de Jesus, trai-o para as bodas para que a alegria não se perca e diz aos que estão servindo: "Fazei o que ele vos disser". No meio daquele casamento que estava ficando sem vinho, Maria, a mãe de Jesus, intervém, “aparece” para indicar quem eles devem seguir e obedecer.
A história deste domingo, embora cheia de símbolos, não conta exatamente como Jesus transformou a água em vinho. Em vez disso, ela mostra uma sequência de atitudes: as pessoas que obedecem às palavras de Maria e depois às de Jesus — enchendo os jarros com água e levando-os ao mestre-sala que depois de “experimentar a água que se tinha transformado em vinho” sem saber “de onde vinha”, comenta ao noivo que deixou o melhor vinho para o final. Em esta narrativa esse é um momento principal, aquele em que quem conhece vinhos consegue reconhecer o mais especial. A narrativa descreve as ações que acontecem até o momento em que o mestre-sala percebe a qualidade do vinho e informa ao noivo.
Neste domingo em que celebramos Nossa Senhora Aparecida, somos convidados a reconhecer sua voz que “aparece” em nossas vidas e comunidades para nos dizer “façam o que Ele lhes disser”. E ela nos convida a nos enxergar como parte de uma Igreja em movimento, onde cada um age de acordo com as palavras de Jesus, e assim todo o grupo pode experimentar a maravilha de ver a água se transformar em vinho!
Somos assim uma Igreja peregrina que, junto com Maria, Mãe da Esperança, conhecemos Jesus e cuidamos da vida!