03 Outubro 2025
Deve acontecer na próxima sexta-feira, 3, a nomeação do novo arcebispo de Cantuária que é, por tradição, o chefe da Igreja de Inglaterra e também o líder espiritual da Comunhão Anglicana espalhada pelos vários continentes. O líder ou… a líder, visto que há nomes de bispas na lista final que tem estado a ser considerada pela Comissão de Nomeações da Coroa.
A informação é de Manuel Pinto, publicada por 7 Margens, 01-10-2025.
Ainda que não houvesse um dia estabelecido para o anúncio, várias fontes ligadas à Igreja de Inglaterra previam que ele ocorresse no final de setembro ou nos primeiros dias de outubro. E nesta quarta-feira, a notícia de que a escolha poderia acontecer já na sexta foi dada pelo Church Times.
Ao contrário do processo da escolha do Papa, na Igreja Católica, que tem prazos relativamente curtos para reunir o conclave, a tramitação do processo é mais lenta entre os anglicanos, dadas as consultas a que se procede e aos passos que têm lugar. No caso presente, decorreram já cerca de 11 meses desde que o anterior arcebispo de Cantuária, Justin Welby, se demitiu.
Acresce que esta escolha ocorre num tempo conturbado que vive a Comunhão Anglicana, centrado nas divisões em torno das questões da sexualidade humana (casamento entre pessoas do mesmo sexo), em falhas na proteção de menores e pessoas vulneráveis perante abusos espirituais e abusos sexuais, e dificuldades financeiras, entre outras. Mesmo a eleição de mulheres como presbíteras e bispas continua a não ser pacífica em todas as igrejas anglicanas.
Comentando o processo e os desafios que esperam o novo chefe dos anglicanos, o Religion Media Center sublinhou duas características que essa pessoa deve reunir: “Houve amplo consenso de que a nomeação deve incidir sobre uma figura unificadora, alguém com quem cada fação em conflito na Igreja possa conviver, e também alguém que não seja obcecado por questões internas da Igreja, mas que seja capaz de lidar com os desafios sociais, económicos e políticos da sociedade em geral, que levaram à polarização.”
Quem nomeia a pessoa que será a 106ª a ocupar o ministério de arcebispo de Cantuária é, formalmente, o rei de Inglaterra. Quem de facto trabalha para chegar a uma proposta é a Comissão de Nomeações da Coroa, constituída por 17 pessoas que terão de conseguir com que pelo menos dois terços dos seus membros convirjam para um dos candidatos.
O processo é altamente secreto, mas, ainda assim, vieram a público os nomes daquelas e daqueles que seriam os finalistas favoritos, a saber: os bispos de Bath e Wells, Chelsford e Londres. Mas há quem refira que nessa lista se encontram bispos de outras dioceses.
Foram feitas pelo menos quatro consultas ou sondagens, nomeadamente pela BBC e pelo Anglican Futures (este recorrendo a uma sondagem junto dos membros do Sínodo Geral da Igreja de Inglaterra) sobre quem desejariam que ficasse à frente do arcebispado de Cantuária.
Dois nomes são comuns às quatro consultas nos lugares de topo: Michael Beasley, bispo de Bath e Wells, e a bispa Guli Francis-Dehqani. Os dois teriam contra si alguma “falta de experiência paroquial”. No entanto, acrescenta o Anglican Futures, cada uma destas figuras teria outras vantagens: o bispo Beasley, porque se tem notabilizado na luta por uma distribuição mais equitativa dos recursos materiais e a bispa Guli Frances-Deqhani por ter uma visão mais global do anglicanismo já que, vivendo há vários anos no Reino Unido, tem família iraniana e conhece bem a realidade da perseguição aos cristãos. Porém, salienta a mesma fonte, neste tipo de processos “não é incomum os favoritos ‘caírem’ no último obstáculo”.
Leia mais
- Encobrimento de abusos complica escolha do sucessor do arcebispo Welby
- A renúncia do primaz Justin Welby. Artigo de Luigi Sandri
- Bispa anglicana pede renúncia de Justin Welby, arcebispo de Canterbury
- Abuso na Igreja Anglicana: Justin Welby renuncia
- Justin Welby renuncia após admitir má gestão em escândalo de abuso infantil
- Um novo caso de abuso sexual abala a Igreja da Inglaterra
- O sucessor de Welby à frente da Igreja da Inglaterra, também envolvido em má gestão de abusos sexuais
- Igreja de Inglaterra deu apenas meio passo na proteção das crianças
- Abusos sexuais, de poder, de consciência e espirituais contra religiosas é pauta da Assembleia Sinodal