04 Outubro 2025
"A transição energética do Brasil deveria ser uma vitrine para isso, mas o Brasil está fazendo tudo com seu potencial energético exceto concretizar sua própria transição energética".
O artigo é de Philip Martin Fearnside, publicado por Amazônia Real, 30-09-2025.
Philip Martin Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007.
Eis o artigo.
O Brasil é certamente um dos países mais sortudos do mundo em termos de potencial de energia limpa que poderia ser usado para substituir combustíveis fósseis, mas essa transição energética não está acontecendo. Em vez disso, o Brasil planeja exportar sua eletricidade na forma de hidrogênio verde e atrair indústrias intensivas em energia, como data centers para inteligência artificial. Isso envolve não apenas as fontes “limpas” de energia do Brasil, como energia eólica e solar, mas também a eletricidade do grande estoque de barragens hidrelétricas do país, que não são “limpas” nem em termos de emissões de gases de efeito estufa [1-3] nem em termos de seus enormes impactos ambientais e sociais [4]. A eletricidade para as cidades brasileiras seria fornecida por usinas termelétricas queimando gás e óleo, aumentando as emissões de combustíveis fósseis do país ainda mais do que atualmente.
Capacidade eólica e solar do Brasil
A costa atlântica brasileira possui uma enorme capacidade de geração de energia eólica, especialmente a partir de torres construídas no mar, na plataforma continental. O Plano Nacional de Energia 2050 estima que 200 GW dessa capacidade poderão ser colocados em operação até 2050 [5, 6]. Para efeito de comparação, todas as hidrelétricas que o Ministério de Minas e Energia quer construir na Amazônia até 2050, incluindo hidrelétricas em terras indígenas e unidades de conservação, totalizam 54 GW de capacidade instalada [5], tornando o potencial eólico quatro vezes maior.
O Plano Nacional de Energia 2050 estima que 100 GW de energia fotovoltaica concentrada poderão ser desenvolvidos até 2050 [5], ou seja, duas Amazônias. Isso inclui apenas grandes instalações solares, principalmente na região semiárida do Nordeste do país, e não painéis fotovoltaicos distribuídos em telhados por todo o país.
Planos do Brasil para exportação de hidrogênio verde
A produção de hidrogênio verde é vista como uma grande “oportunidade” no Brasil [7], mas como uma commodity para exportação, não como uma forma de alcançar a transição energética do próprio país. Por exemplo, a enorme frota de caminhões do Brasil continuaria a queimar diesel em vez de ser adaptada para energia elétrica ou hidrogênio verde. A Alemanha propôs desenvolver parte do potencial costeiro do Brasil para energia eólica para hidrogênio verde para exportação para a Alemanha [8]. O senado brasileiro aprovou o uso de barragens hidrelétricas para hidrogênio verde [9], e o lobby da energia hidrelétrica está pressionando para que mais barragens sejam construídas para a produção de hidrogênio verde (por exemplo, [10]. Grandes empresas hidrelétricas, como a Engie (a multinacional francesa anteriormente chamada GDF-Suez), dona da barragem de Jirau em Rondônia, propõe usar a energia das barragens do Brasil para produzir hidrogênio verde para exportação para a Europa [11]. As indústrias eletrointensivas já estão transferindo a produção para o Brasil para poder alegar que seus produtos são “verdes”, como os data centers que planejam se localizar no Brasil para fornecer serviços de inteligência artificial em todo o mundo [12], e vários já estão em construção na Região Nordeste do país [13].
O Brasil está planejando uma expansão massiva de seus campos de petróleo e gás, com novos campos planejados na Floresta Amazônica [14, 15] e no mar, incluindo na foz do Rio Amazonas [16]. Um argumento proeminente para isso pela empresa petrolífera estatal (Petrobras) e pelo Presidente Lula é que os fundos gerados por esses desenvolvimentos são necessários para pagar pela transição energética do Brasil [17]. A hipocrisia de usar a transição energética como uma desculpa para a extração de combustíveis fósseis foi apontada por muitos [18-21].
O suposto plano de financiamento da transição energética parece ser uma questão estritamente discursiva. Meses depois de o governo começar a divulgar o suposto plano, o responsável pela transição energética no MMA declarou que tal plano não existia [22]. A história desmente o argumento do financiamento da transição energética por combustíveis fósseis: de 2018 a 2023, apenas 0,06% dos fundos que o governo recebeu de combustíveis fósseis foram usados para qualquer coisa relacionada à transição energética [23]. No mesmo dia em que o Congresso Nacional aprovou a “lei da devastação” que destrói o sistema de licenciamento ambiental do país [24], o congresso aprovou a alocação de R$ 30 bilhões (US$ 5,5 bilhões) dos fundos dos campos de petróleo pré-sal como subsídio ao agronegócio, aliviando os pagamentos do setor em seus empréstimos governamentais já fortemente subsidiados [25].
Talvez a declaração mais surpreendente sobre a falta de planos do governo para uma transição energética tenha ocorrido em 30 de agosto de 2025, quando presidente da Petrobras, Magda Chambriard, confessou em uma entrevista que a empresa não tem intenção de promover uma transição energética, ou seja, substituir fontes fósseis por energia limpa. A eletricidade adicional proveniente de fontes eólicas e solares “não substituiria”, mas sim “aumentaria” o fornecimento de energia do país [26].
Por que o Brasil precisa priorizar sua própria transição energética
Exportar eletricidade para a Europa na forma de hidrogênio verde e atrair data centers e outros grandes consumidores de eletricidade para o Brasil reduz as emissões globalmente, pelo menos para a parcela das exportações de fontes que não sejam hidrelétricas. No entanto, o Brasil precisa urgentemente se comprometer com sua própria transição energética e cumprir esse compromisso de forma exemplar. Isso porque o país seria devastado se o aquecimento global escapasse do controle humano, o que está muito perto de acontecer [27, 28]. Se um ponto de inflexão for ultrapassado no sistema climático global, o Brasil perderia sua Floresta Amazônica, que, entre outras funções, é essencial para manter o abastecimento de água para grandes cidades como São Paulo [29-33]. O Brasil também perderia grande parte de sua produção agrícola (por exemplo, [34] e ficaria exposto à elevação do nível do mar e a grandes tempestades ao longo de sua costa densamente povoada (por exemplo, [35].
“Surpresas climáticas” não previstas pelos modelos climáticos, como as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, aumentariam em frequência [36]. A região semiárida do Nordeste brasileiro se tornaria um deserto, expulsando dezenas de milhões de pessoas que dependem da agricultura ali [37, 38]. Picos de temperatura bem acima de 50 ºC causariam mortalidade em massa [39-42]. Em outras palavras, o Brasil precisa tomar medidas drásticas para evitar tal catástrofe, e isso envolve convencer o resto do mundo a seguir o exemplo. A assunção de um papel de liderança no combate às mudanças climáticas pelo Brasil só pode ser feita por meio de exemplo, não por mero discurso [43]. A COP30 é a oportunidade para isso, mas não está acontecendo. A transição energética do Brasil deveria ser uma vitrine para isso, mas o Brasil está fazendo tudo com seu potencial energético exceto concretizar sua própria transição energética.
Notas
[1] Fearnside, P.M. 2017. Hidrelétricas e o IPCC. Amazônia Real.
[2] Fearnside, P.M. 2019. Hidrelétricas em florestas tropicais como fontes de gases de efeito estufa. pp. 69-86 In: Fearnside, P.M. (ed.) Hidrelétricas na Amazônia: Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decisões sobre Grandes Obras. Vol. 3. Editora do INPA, Manaus. 148 p.
[3] Quaresma, A.C., A.P. Lima, C.C. Ribas, C.D. Ritter, C. Keller, G. Rebelo, J. Zuanon, J. Schöngart, L.R. Py-Daniel, L.M.P. Henriques, P.E.D. Bobrowiec, P. Fearnside & W. Magnusson. 2025. Hidrelétricas na Amazônia: A falácia da energia “limpa”. Nota Técnica 01/2025. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas. 9 pp.
[4] Fearnside, P.M. 2019. Justiça ambiental e barragens amazônicas. Amazônia Real.
[5] EPE (Empresa de Pesquisa Energética). 2020. Plano Nacional de Energia 2050. Ministério de Minas e Energia (MME), EPE, Brasília, DF, 230 p.
[6] Fearnside, P.M. 2020. Os preocupantes planos do Brasil para hidrelétricas na Amazônia (opinião). Mongabay, 10 de novembro de 2020.
[7] Bethônico, T. 2023. Entenda a corrida pelo hidrogênio verde e por que o Brasil pode ser uma potência. Folha de São Paulo, 10 de janeiro de 2023.
[8] ClimaInfo. 2023. Alemanha quer parceria com Brasil por hidrogênio verde. ClimaInfo, 15 de março de 2023.
[9] ABRAPCH (Associação Brasileira de PCHs e CGHs). 2024. Emenda 21 aprovada pelo Senado inclui hidrelétricas na produção de Hidrogênio Verde. ABRAPCH 21 de junho de 2024.
[10] Hacker. 2024. Hidrogênio verde e a necessidade de mais hidrelétricas no Brasil. Hacker, 08 de fevereiro de 2024.
[11] Engie. 2022. Entenda a importância das hidrelétricas para a produção de hidrogênio verde. Engie, 24 de março de 2022.
[12] McGovern, G. & S. Branford. 2024. Critics fear catastrophic energy crisis as AI is outsourced to Latin America. Mongabay, 21 de março de 2024.
[13] Teixeira, P.S. 2025. Cabos submarinos e energia limpa transformam Ceará em polo de data centers. Folha de São Paulo, 01 de setembro de 2025.
[14] Fearnside, P.M. 2023. O leilão do “Fim do Mundo” para exploração de gás e petróleo. Amazônia Real, 14 de dezembro de 2023. h
[15] Fearnside, P.M. 2020. Os riscos do projeto de gás e petróleo “Área Sedimentar do Solimões”. Amazônia Real, 12 de março de 2020.
[16] Guimarães, A.L., A.M. Batista, Y. Telles, A.C.F. Aguiar, F.R. Scarano & P. Moutinho. 2025. Green royalties: Keeping offshore Amazon free of oil. Perspectives in Ecology and Conservation 23: 70–76.
[17] Stucker, R. 2025. Lula diz que combustíveis fósseis vão financiar a transição energética. Agência Brasil,24 de fevereiro de 2025.
[18] Fearnside, P.M. 2025. Por que o Brasil deveria abandonar seus planos de gás e petróleo na Amazônia. Amazônia Real, 21 de maio de 2025.
[19] Fearnside, P.M. 2025. O Lula acordará para a crise climática?: 1 – A foz do Amazonas. Amazônia Real, 21 de fevereiro de 2025.
[20] OC (Observatório do Clima). 2024. Futuro da Energia: visão do Observatório do Clima para uma transição justa no Brasil. OC, São Paulo, SP. 260 p.
[21] Brown, S. 2023. Mouth of the Amazon oil exploration clashes with Lula’s climate promises. Mongabay, 28 de abril de 2023.
[22] ClimaInfo. 2024. Não há plano para combustíveis fósseis bancarem transição energética, diz Ana Toni. ClimaInfo, 02 de abril de 2024.
[23] Watanabe, S. 2025. Exploração de petróleo e gás não financia a transição energética. ClimaInfo, 29 de maio de 2025.
[24] Fearnside, P.M. 2025. “PL da devastação” simboliza perigosa contradição entre discurso e prática na política ambiental brasileira. The Conversation – Brasil, 13 de junho de 2025.
[25] Amaral, M., G. Girardi, R. Terto, S. Amaral & R. de Oliveira. 2025 EP 37 Entre lamúrias e privilégios: os incentivos ao agronegócio. A Pública, 24 de julho de 2025.
[26] Serrano, L. 2025. ‘Não vamos substituir, vamos adicionar’ diz presidente da Petrobras sobre transição energética. Exame, 20 de agosto de 2025.
[27] Hansen, J.E., P. Kharecha, M. Sato, G. Tselioudis, J. Kelly, S.E. Bauer, R. Ruedy, E. Jeong, Q. Jin, E. Rignot, I. Velicogna, M.R. Schoeberi, K. von Schuckmann, J. Ampronsen, J. Cao, A. Keskinen, J. Li & A. Pokela. 2025. Environment: Science and Policy for Sustainable Development 67(1): 6-44.
[28] McKay, D.I.A., A. Staal, J.F. Abrams, R. Winkelmann, B. Sakschewski, S. Loriani, I. Fetzer, S.E. Cornell, J. Rockström & T.M. Lenton. 2022. Science 377: art. eabn7950.
[29] Fearnside, P.M. 2021. As lições dos eventos climáticos extremos de 2021 no Brasil: 2 – A seca no Sudeste. Amazônia Real, 20 de julho de 2021.
[30] Yang, Z. & F. Dominguez 2019. Investigating land surface effects on the moisture transport over South America with a moisture tagging model. Journal of Climate 2: 6627-6644.
[31] Zemp, D.C., C.F. Schleussner, H.M.J. Barbosa, R.J. van der Ent, J.F. Donges, J. Heinke, G. Sampaio & A. Rammig, 2014. On the importance of cascading moisture recycling in South America. Atmospheric Chemistry and Physics 14: 13 337–13 359.
[32] Martinez, J.A. & F. Dominguez, 2014. Sources of atmospheric moisture for the La Plata River Basin. Journal of Climate 27: 6737–6753.
[33] Yang, Z. & F. Dominguez 2019. Investigating land surface effects on the moisture transport over South America with a moisture tagging model. Journal of Climate 2: 6627-6644.
[34] Assad, E.D., R.R.R. Ribeiro & A.M. Nakai. 2019. Assessments and how an increase in temperature may have an impact on agriculture in Brazil and mapping of the current and future situation. In: C. Nobre, J. Marengo & W. Soares, (eds.) Climate Change Risks in Brazil. Springer, Cham, Suiça. p. 31–65.
[35] Gramcianinov, C.B. 2018. Changes in South Atlantic cyclones due climate change. Tese de doutorado em ciências atmosféricas, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. 222 p.
[36] Fearnside, P.M. & R.A. Silva. 2024. Surpresas climáticas: A Amazônia e as lições da enchente catastrófica no Rio Grande do Sul. Amazônia Real, 03 de julho de 2024. https://amazoniareal.com.br/licoes-da-enchente-catastrofica-no-rio-grande-do-sul/
[37] Barbosa, H.A. 2024. Understanding the rapid increase in drought stress and its connections with climate desertification since the early 1990s over the Brazilian semi-arid region. Journal of Arid Environments 222: art. 105142.
[38] ClimaInfo. 2024. Clima árido atinge no Brasil área maior que a do estado de São Paulo. ClimaInfo, 18 de abril de 2024.
[39] León, L.P. 2024. Entenda estudo da Nasa sobre ‘Brasil inabitável’ em 50 anos. Agência Brasil, 24 de julho de 2024.
[40] Raymond, C., T. Matthews & R.M. Horton. 2020. The emergence of heat and humidity too severe for human tolerance. Science Advances 6: art. eaaw1838.
[41] Sherwood, S.C. & E.E. Ramsay 2023. Closer limits to human tolerance of global heat. Proceedings of the National Academy of Science USA 120(43): art. e2316003120.
[42] Matthews, T., E.E. Ramsay, F. Saeed, S. Sherwood, O. Jay, C. Raymond, N. Abram, J.K.W. Lee, S. Barley, S. Perkins-Kirkpatrick, M.S. Khan, K.J. Meissner, C. Roberts, D. Mavalankar, K.G.C. Smith, A. Ullah, A. Sadad, V. Turner & A. Forrest 2025. Humid heat exceeds human tolerance limits and causes mass mortality. Nature Climate Change 15: 4–6.
[43] Fearnside, P.M. & W. Leal Filho. 2025. COP 30: Políticas brasileiras precisam mudar. Amazônia Real, 27 de março de 2025.
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