23 Setembro 2025
Embora a Suíça seja um país pequeno, com apenas 9 milhões de habitantes, ocupa o primeiro lugar no índice de globalização, o que é atribuído ao seu comércio dinâmico e diversificado; por ser um centro bancário e financeiro de primeira ordem; contar com uma economia estável, próspera, e ser a sede de inúmeras organizações internacionais. Além disso, possui uma rica história, uma impressionante herança cultural e paisagens naturais de grande beleza. Também se destaca por sua estabilidade, alta qualidade de vida e tecnologia. É igualmente conhecido por sua política de neutralidade. No entanto, agora enfrenta um grave problema: é cada vez mais afetado pelo aumento da temperatura.
A reportagem é de Iván Restrepo, publicada por La Jornada, 22-09-2025. A tradução é do Cepat.
O último mês de junho foi o mais quente desde que, em 1864, as temperaturas começaram a ser registradas. Temperaturas extremas também ocorreram em outros países afetados por ondas de calor na Europa e no resto do mundo. Contudo, a Suíça está entre os que mais estão aquecendo: duas vezes mais rápido que a média mundial, de acordo com o Escritório Federal de Meteorologia e Climatologia. E isto repercute na população, na economia e na paisagem.
Ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas são um risco grave à saúde e colocam em perigo os cultivos agrícolas. Nas montanhas, as geleiras e o permafrost estão derretendo, aumentando o risco de catástrofes naturais e humanas de enorme gravidade. O fato de as temperaturas na Suíça continuarem aumentando mais depressa do que em outros lugares obriga as instâncias governamentais e a população a tomarem medidas extremas para se adaptar a um clima cada vez mais quente e que afeta suas geleiras imponentes e todo o sistema de coleta e uso de água.
O caso da Suíça nos leva a destacar uma pesquisa publicada na Nature, que alerta como as geleiras do planeta contribuíram notavelmente para o aumento do nível do mar até este momento do século. O estudo revela que, entre o início do século e 2023, elas perderam 6,5 trilhões de toneladas de gelo. Uma evidência muito clara do efeito das mudanças climáticas nos ecossistemas glaciais e suas consequências globais.
No estudo realizado com a supervisão de cientistas das universidades de Edimburgo e Zurique, detalha-se que as geleiras do mundo perdem aproximadamente 273 bilhões de toneladas de gelo a cada ano, o que equivale a 5% de seu volume. As perdas variam significativamente segundo a região. Por exemplo, as ilhas da Antártica e subantárticas registraram uma redução de 2% em seu volume, ao passo que as da Europa central tiveram uma redução de 39%. E acrescentam que isto equivale ao consumo global de água doce, durante 30 anos.
Este impacto no abastecimento de água doce afeta especialmente comunidades remotas e aquelas que já enfrentam escassez de água. Os pesquisadores advertem que 2 bilhões de pessoas (um quarto da população mundial) dependem da água do degelo das geleiras. E que não apenas se perdem como parte da paisagem de muitos países, entre eles, a Suíça, mas também como elementos essenciais para a nossa vida cotidiana.
As geleiras também desempenham um papel crucial na geração de energia. Por exemplo, 70% da eletricidade da Islândia provém da energia hidrelétrica, que depende da água do degelo das geleiras. Isto também acontece nos Andes, no Himalaia e em partes da Europa. Não menos importantes são os efeitos negativos sobre os ecossistemas, formados ao longo de séculos, sobre a vida cotidiana e sobre diversos setores da economia.
Enquanto a Suíça se prepara para o que as mudanças climáticas trarão, o mesmo não acontece em nações com zonas costeiras. Mesmo apesar de, há anos, se alertar que, proporcionalmente, o Ártico é a região que mais aquece no mundo. E com isso se registra uma perda de gelo que provoca um aumento de quase dois centímetros do nível do chamado planeta azul. No entanto, os países banhados pelas águas marinhas não estão tomando medidas para enfrentar este problema.
É o caso do México, com seus 11.000 quilômetros de litoral distribuídos em 17 estados. Em nenhum deles, e tampouco em nível federal, existe um programa para enfrentar os problemas que o aumento do nível do mar provocará. Um esquecimento a mais dos seis anos do mandato anterior. E do atual também.
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