O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o Evangelho do Corpo e Sangue de Cristo – Ciclo B (Marcos 14,12-16.22-26), publicado por Religión Digital, 18-08-2025.
A tolerância ocupa hoje um lugar de destaque entre as virtudes mais valorizadas no Ocidente. Todas as pesquisas confirmam isso. Ser tolerante é um valor social cada vez mais difundido. As gerações mais jovens não toleram mais a intolerância ou o desrespeito ao próximo.
Devemos celebrar este novo clima social após séculos de intolerância e violência, muitas vezes perpetradas em nome da religião ou do dogma. Como nossa consciência estremece hoje ao ler obras como o excelente romance O Herege, de Miguel Delibes, e que alegria nossos corações experimentam com seu apaixonado hino à tolerância e à liberdade de pensamento.
Tudo isso não nos impede de criticar um tipo de "tolerância" que, mais do que uma virtude ou um ideal humano, é uma falta de afeição por valores e indiferença ao significado de qualquer projeto humano: cada um pode pensar o que quiser e fazer o que quiser, já que pouco importa o que uma pessoa faz com sua vida. Essa "tolerância" surge quando faltam princípios claros para distinguir o bem do mal, ou quando as exigências morais são diluídas ou reduzidas ao mínimo.
A verdadeira tolerância não é "niilismo moral", nem cinismo, nem indiferença à atual erosão de valores. É respeito pela consciência alheia, abertura a todos os valores humanos e preocupação com o que torna os seres humanos mais dignos desse nome. A tolerância é um grande valor não porque não exista uma verdade objetiva ou moral, mas porque a melhor maneira de abordá-los é por meio do diálogo e da abertura mútua.
Quando isso não acontece, a situação é rapidamente exposta. A tolerância é presumida, mas novas exclusões e discriminações são reproduzidas; o respeito por todos é afirmado, mas quem causa problemas é desqualificado e ridicularizado. Como explicar que, em uma sociedade que se proclama tolerante, a xenofobia ressurja ou o escárnio religioso seja fomentado?
Na dinâmica da verdadeira tolerância, existe o desejo de sempre buscar o melhor para todos os seres humanos. Ser tolerante é dialogar, buscar juntos, construir um futuro melhor sem desconsiderar ou excluir ninguém, mas não é irresponsabilidade, abandono de valores ou negligência com as exigências morais. O chamado de Jesus para entrar pela "porta estreita" nada tem a ver com um rigorismo tenso e estéril. É um chamado para viver sem esquecer as exigências, por vezes prementes, de qualquer vida digna de um ser humano.