Solenidade da Assunção de Maria – Ano C – Maria, a mulher que acreditou contra toda esperança

15 Agosto 2025

"No Magnificat, Maria exalta a Deus por sua misericórdia com os pequenos e sofredores. Ela relembra que a misericórdia divina se estende desde a história de Israel e chega aos que o temem e o respeitam.

Celebrar a Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria nos remete ao encantamento com o feminino de Deus na pessoa de Maria, desde a sua participação na Encarnação de Jesus até a sua Assunção."

A reflexão é de Celia Soares de Sousa, graduada em teologia pela Faculdade de Teologia N. Sra. Assunção, SP (1999), mestre (2013) e doutoranda em teologia pela Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. Tem experiência na formação de leigos e leigas.

Leituras do dia

Ap 11,19a;12,1-6a.10ab
Sl 44(45),10bc.11.12ab.16 (R. 10b)
1Cor 15,20-27a
Lc 1,39-56 (Cântico de Maria)

Eis a reflexão.

A Igreja celebra neste Domingo a Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria. Celebrar o mistério e Dogma da Assunção é crer que Maria já está glorificada junto de Deus, toda inteira.
Cada domingo é uma pequena Páscoa: a comunidade se reúne para proclamar que Cristo vive e renovar a esperança de que Deus é fiel e não abandona os seus.
Mesmo diante dos obstáculos e perseguições, a comunidade cristã precisa permanecer com Jesus, no anuncio e no testemunho profético da sua Palavra de vida, contra os sinais de morte.

Ap 11,19a;12,1-6a.10ab

A comunidade joanina escreve a partir do gênero que leva o nome do livro: apocalíptico ou apocalipse, que quer dizer revelação. A narrativa bíblica apresenta dois sinais. Sinal é algo que indica uma realidade mais profunda, algo que está escondido, mas pode ser visto e tocado com os olhos da fé. É um texto carregado de profecia e de resistência.

O primeiro sinal é a mulher. Ela que está gestando uma nova vida, carrega esperança e profecia. A “mulher” representa o povo novo, as comunidades e o Projeto de Deus que teima em nascer em meio aos sinais de opressão, simbolizado pelo segundo sinal, o dragão.

A mulher está protegida pelo Sol da Justiça, pelo Autor da vida, por isso ela domina o tempo – tem a lua debaixo dos pés. Ela sabe que o tempo de Deus não é tempo de sofrimento e de opressão. No entanto, aqueles que acham que tem poder, agem com força e sem escrúpulos. Assim eram os poderosos do Império, e assim são aqueles que ainda hoje representam o dragão.

A comunidade faz memória de Maria que teve que fugir para o Egito por causa da perseguição do Rei Herodes: “A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar”. Maria e José tiveram que fugir para proteger o Filho que iria nascer. A comunidade nascente também precisa resistir aos planos dos que não querem ver o Sol da Justiça nascer a partir da profecia e do testemunho até o martírio.

A mulher que dá à luz pode representar Maria; o Novo Israel; a comunidade nascente e a Igreja. A Bem-Aventurada Virgem Maria é sinal para todas as pessoas que se dedicam a cuidar de toda a criação, sobretudo àqueles sinais de esperança que o saudoso Papa Francisco recordou na Bula para o Jubileu da Esperança: as pessoas privadas de liberdade, nas prisões, os idosos, os jovens, os enfermos, as situações que carecem de paz, abertura à vida, migrantes e pobres. Incluímos nesta lista a participação das mulheres na Igreja, uma boa formação integral para o povo de Deus são também sinais de esperança que emergem neste contexto.

1Cor 15,20-27ª

Diante da dúvida de alguns cristãos quanto à ressurreição dos mortos, Paulo ajuda a comunidade a compreender que negar a ressurreição de Jesus crucificado é negar a vivência cristã segundo o Evangelho.

No contexto da comunidade de Corinto, havia disputas por poder e honra, o que provocava divisões no interior da própria comunidade. Celebrar a fé no Ressuscitado une as pessoas e forma discípulos missionários para atuar na Igreja e na sociedade. É preciso permanecer firmes no Caminho com Jesus e seus ensinamentos, para que todos os inimigos sejam vencidos.

Paulo afirma que “o último inimigo a ser destruído é a morte”. Com efeito, “Deus pôs tudo debaixo de seus pés” e, com a ressurreição de Jesus, a vida vence a morte.

Lc 1,39-56 (Cântico de Maria)

Comumente, esta passagem de Lucas é chamada de Visitação, pois é a cena em que Maria sai apressadamente para visitar sua prima Isabel. No entanto, esta passagem é seguida pela resposta de Maria ao chamado de Deus, para ser a Mãe de Jesus. O “Sim” de Maria é seguido por uma atitude de serviço.

Ao dizer o “faça-se”, Maria sai em missão e às pressas. Na casa de Isabel ela é chamada de Bem-Aventurada porque acreditou, e por meio dela o Senhor fará cumprir sua promessa.

Maria carrega o Salvador porque Deus Pai sempre cumpre o que diz, como diz o verso da canção. Por isso que a criança que estava no ventre de Isabel pulou de alegria ao receber tão importante visita, ao saber que Maria fora escolhida para ser a Mãe do Salvador.

É neste clima de jubilo que Maria exalta a Deus porque olhou para a humilhação não dela, individualmente, mas do povo que ela representa. No seu canto, Maria engrandece ao Senhor porque será chamada de Bem-aventurada não por mérito próprio, mas porque o Senhor fez grandes coisas por meio dela, da sua disponibilidade e adesão.

No Magnificat, Maria exalta Deus por sua misericórdia com os pequenos e sofredores. Ela relembra que a misericórdia divina se estende desde a história de Israel e chega aos que o temem e o respeitam.

Celebrar a Assunção de Maria nos remete ao encantamento com o feminino de Deus na pessoa de Maria, desde a sua participação na Encarnação de Jesus até a sua Assunção.

O Dogma da Assunção afirma que Maria, diferente de nós, não precisou esperar a parusia (segunda vinda de Jesus) para receber um corpo glorificado. Deus antecipou nela o que vai dar a todas as pessoas do Bem, no final dos tempos.

Maria, a mulher da esperança, ocupa um lugar singular. Ela acreditou contra toda esperança, permanecendo firme junto à cruz e acolhendo, no silêncio da fé, o mistério da ressurreição. Sua vida se torna ícone da comunidade que crê, espera e ama.

Em Maria, a Igreja encontra o rosto materno que, iluminado pela Páscoa, acompanha e sustenta os discípulos peregrinos neste mundo, recordando-lhes que a vitória de Cristo sobre a morte é a garantia de que a justiça e a compaixão não são em vão.

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