13 Agosto 2025
A ciência resolveu o debate: os animais sentem dor, buscam liberdade e lutam por suas vidas. Os dados estão aí, mas preferimos ignorar.
A reportagem é de Borja Martínez, publicada por El Salto, 13-08-2025.
Um porco tem a inteligência de uma criança de três anos. Uma vaca reconhece mais de 100 indivíduos de sua espécie e forma amizades para a vida toda. Um polvo resolve labirintos e usa ferramentas. Um peixe reconhece rostos humanos e consegue aprender truques. Estes não são dados anedóticos: são conclusões publicadas nas revistas científicas mais prestigiadas do mundo. E, no entanto, todos os anos submetemos mais de 80 bilhões desses seres sencientes a vidas de confinamento e mortes planejadas.
Imagine a seguinte situação. Se alguém chutasse um cachorro na rua, provavelmente interviríamos ou, pelo menos, ficaríamos indignados. Se víssemos alguém abandonando gatinhos em um saco de lixo, denunciaríamos. Mas essa mesma capacidade de sentir dor que reconhecemos instantaneamente em cães e gatos — e que nos move a protegê-los — é compartilhada pelo porco que transformamos em presunto, pela vaca que produz leite após o parto, pelo vison que acaba virando casaco, pelo rato que matamos após torturá-lo em laboratório.
A neurociência mapeou os circuitos da dor com precisão milimétrica. Sabemos que, quando uma galinha é depenada, seus nociceptores enviam exatamente os mesmos sinais que os nossos enviariam em uma situação equivalente. Quando um peixe é retirado da água, seu cérebro libera os mesmos neurotransmissores associados ao pânico que o nosso liberaria se estivéssemos sendo sufocados. Quando separamos um bezerro de sua mãe, ambos experimentam o mesmo coquetel de hormônios do estresse que experimentaríamos se fôssemos separados à força.
Mas há algo mais perturbador do que a dor física: evidências de que os animais antecipam, lembram e temem. Porcos transportados para o matadouro apresentam níveis de cortisol — o hormônio do estresse — que aumentam não na chegada, mas a partir do momento em que são carregados no caminhão. Eles sabem que algo ruim está prestes a acontecer. Ratos em laboratórios desenvolvem ansiedade crônica não apenas pelos experimentos aos quais são submetidos, mas também por ouvir os guinchos de outros ratos que sofrem. Elefantes em circos desenvolvem comportamentos repetitivos idênticos aos exibidos por prisioneiros de guerra com transtorno de estresse pós-traumático.
A Declaração de Cambridge sobre Consciência foi assinada não por ativistas, mas por neurocientistas de Cambridge, do MIT e do Instituto Max Planck. Não se trata de ideologia: é o consenso daqueles que melhor entendem como o cérebro funciona. "Animais não humanos possuem os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados de consciência", conclui o documento. Em linguagem simples: os animais sentem tudo o que fazemos com eles.
Os estudos são devastadores em sua clareza. O trabalho de Culum Brown demonstrou que os peixes não apenas sentem dor, mas também têm memória episódica: eles se lembram do que, onde e quando algo aconteceu. A pesquisa de Donald Broom em Cambridge documentou que até mesmo crustáceos demonstram preferência por analgésicos quando feridos. O trabalho de Georgia Mason mostrou que entre 40% e 85% dos animais em cativeiro desenvolvem psicopatologias que não existem na natureza.
Enquanto isso, a escala do uso de animais é impressionante. A Cruelty Free International estima que 115 milhões de animais são usados em experimentos em laboratórios a cada ano. A Fur Free Alliance documenta 100 milhões de animais mortos exclusivamente por suas peles. A FAADA contabiliza mais de 1.500 exposições de animais somente na Espanha. E esses números são insignificantes em comparação aos bilhões usados para alimentação.
Eis a questão: parece que não precisamos de nada disso. A União Europeia demonstrou em 2013 que é possível desenvolver cosméticos seguros sem torturar coelhos. O Good Food Institute documenta mais de 5.000 empresas criando alternativas a produtos de origem animal. As certificações Leaping Bunny e PETA listam milhares de marcas que não testam em animais. O mercado de materiais alternativos ao couro atingirá US$ 89,6 bilhões até 2025, de acordo com a Grand View Research.
Não estamos falando em voltar para as cavernas. Estamos falando em parar de fazer algo desnecessário. É como descobrir que estamos batendo a cabeça na parede há anos e alguém diz: "Ei, você pode simplesmente... parar?"
Os dados estão aí. A ciência é unânime. Existem alternativas. Então, por que continuamos?
A resposta incômoda é que não se trata de necessidade, mas de inércia. Continuamos a financiar o sofrimento animal não porque precisamos, mas porque sempre o fizemos. Compramos casacos de pele, ingressos para o aquário e o zoológico, batom testado em coelhos e carne de supermercado, não por necessidade vital, mas por hábito. Porque não pensamos. Porque não conectamos os pontos entre o produto que compramos embalado em uma bandeja de isopor e o animal capaz de sentir toda a dor causada e que queria manter sua vida.
Mas aqui está a parte realmente perturbadora: quando você sabe — realmente sabe — que aquele produto causou o sofrimento evitável de alguém que se sente exatamente como seu cachorro ou gato, a questão muda. Não é mais "Por que eu deveria mudar?", mas "Como posso justificar não fazer isso?".
E essa é uma pergunta para a qual a ciência, com todos os seus dados e estudos, não tem resposta. Porque não é uma questão de ciência, mas de coerência básica: se você não faria um cachorro sofrer desnecessariamente, por que financiar o sofrimento de um porco, uma vaca ou um vison?
A bola está do nosso lado. Os animais sentem tudo o que fazemos com eles. Agora cabe a nós decidir se nos importamos o suficiente para parar de fazer isso com eles.