12 Agosto 2025
A três dias de terminar, tratado possui rascunho de 34 páginas cheio de trechos incompletos, refletindo profundas divisões sobre ambição.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 11-08-2025.
O relógio corre rápido em Genebra, na Suíça, onde 184 países estão reunidos até a próxima 5a feira (14/8) para definir um tratado global contra a poluição por plásticos. A versão do texto em discussão ainda está distante de representar um acordo efetivo: o rascunho de 34 páginas está cheio de trechos incompletos, refletindo as profundas divisões sobre temas fundamentais, como a produção de plástico virgem.
As conversas iniciadas na semana passada não avançaram no ritmo esperado por observadores de organizações da sociedade civil. Mas um diplomata ouvido pela AFP afirmou que algumas discussões informais paralelas estavam em andamento neste começo de semana, o que poderá trazer avanços nessa discussão.
O principal impasse divide um grupo de petroestados, defensores de um acordo focado na gestão de resíduos, e a chamada “Coalizão de Alta Ambição”, interessada em um tratado mais ambicioso e abrangente, incluindo medidas de redução da produção de plástico virgem e eliminação gradual do emprego de produtos químicos tóxicos na produção de plásticos. Mais recentemente, Estados Unidos e Índia se uniram aos petroestados, liderados por Árabia Saudita, Kuwait, Rússia, Irã e Malásia.
O peso do lobby da indústria dos combustíveis fósseis também é inegável. Como a RFI abordou, os lobistas dessa indústria superam em número a Coalizão de Cientistas por um Tratado Eficaz do Plástico em quase quatro para um, e o Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Plásticos em quase sete para um.
Alexandra Harrington preside a força-tarefa contra a poluição por plástico criada pela Comissão Mundial de Direito Ambiental da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Em entrevista à Mongabay, a especialista afirmou que a decisão por consenso praticada pela ONU em acordos assim é um obstáculo, pois uma objeção levantada por apenas um país pode bloquear um acordo endossado por todos os outros.
O caso da poluição plástica é um assunto complexo e muitos países têm interesses divergentes sobre o ciclo de vida do plástico. Entretanto, uma “saída” para esse impasse é o Artigo 38:1-2 do Comitê Intergovernamental de Negociação, que permite ao órgão prosseguir com a votação quando todos os esforços para se chegar a um consenso tiverem sido esgotados.
“Se uma votação fosse realizada [na conferência de Genebra], acredito que seria uma resposta às repetidas táticas de obstrução por um pequeno grupo de países produtores de plástico”, explicou Harrington.
Os especialistas, ao menos, chegaram em um consenso importante: incinerar ou reciclar não é solução para se resolver a poluição por plásticos. Um acordo ambicioso de fato precisa reduzir a quantidade de plástico produzido atualmente – doa a quem doer na indústria fóssil.