12 Agosto 2025
A Irmã Véronique Margron, presidente da Conferência dos Religiosos e Religiosas da França (Corref), explica os fundamentos de uma justa liberdade espiritual em uma Igreja onde se tornou uma figura de destaque na luta contra os abusos.
A entrevista é de Bruno Bouvet e Céline Hoyeau, publicada por La Croix L'Hebdo, 03-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Abrimos esta conversa com a famosa frase do Evangelho de João: "A verdade vos libertará..." Como ressoa na senhora?
Dolorosamente. Vimos as devastações causadas pelos cavaleiros brancos que partem de lanças em riste em busca da verdade. Modéstia e lucidez são necessárias; tentar lançar alguma clareza já é um bom começo. A verdade é Cristo, e é sempre inacessível em sua totalidade. Temos apenas fragmentos dela, às vezes confusos, e, na melhor das hipóteses, podemos tornar possível a revelação de uma parte dela.
Essa frase ressoa dolorosamente também porque acredito profundamente que a verdade liberta, mas que esse caminho também traz sofrimento. É exigente; como diz Bonhoeffer, é uma graça que custa caro. Nele, descobrimos coisas sobre nós mesmos e sobre os outros que não gostaríamos de ver, coisas que se misturaram dentro de nós. E há também o que os abusos na Igreja revelaram nos últimos anos...
Devemos tomar muito cuidado para não transformar essas palavras de Jesus num slogan, porque a ele custaram caro, morreu por elas.
Do que liberta a verdade?
Da reputação, antes de mais nada. Não inteiramente, talvez, mas liberta em grande parte do desejo de salvar as aparências. Espero também que nos liberte de algo que muito tem me preocupado nos últimos anos na Igreja Católica: a preguiça e a superficialidade. Em muitas dessas tragédias, se alguns tivessem tido um pouco de coragem, não teríamos chegado a esse ponto. Se não tivessem sido superficiais, não teríamos chegado a esse ponto. A falta de coragem e a superficialidade são, para mim, pecados que eu definiria como mortais porque levam outros à morte. Começam com ações: fazer o que deve ser feito, assumir responsabilidades; mas também com as declarações de qualquer um que tenha uma responsabilidade na Igreja.
Quando sentiu que estava realizando um ato de liberdade que ia contracorrente? Sua trajetória começou com um episódio específico?
Na verdade, com muitos episódios, que eu não ousaria chamar de corajosos, mas nos quais tentei assumir minhas responsabilidades como mulher. Isso remonta a muito tempo atrás. Quando trabalhava com jovens menores em dificuldade na década de 1980, lembro-me de um colega no final de sua carreira que, desiludido, nos desencorajava a nos empenhar por algum garoto cuja história ele conhecia, às vezes pelos pais, outras vezes pelos avós... Eu podia entendê-lo, mas estávamos lá justamente para nos empenhar por aquele garoto. Sem saber se teríamos sucesso. É um modo de ser, uma exigência. Ninguém escolhe as próprias batalhas, mas aqueles anos me ensinaram muito. Em particular, que o que importa é o momento. Com esses jovens envolvidos em situações de violência, incesto, recém-saídos da prisão, não podíamos ter certeza de que nossos esforços dariam frutos, mas tínhamos que enfrentar a situação "aqui e agora". Pensando neles.
Meus anos de estudo, ao lado de Xavier Thévenot (teólogo moral, 1938-2004), também foram muito significativos. Aquele homem emanava mais do que força, uma espécie de poder extremamente frágil — porque estava doente. Sua voz infinitamente suave, a maneira como conectava teologia e questões éticas, seu confronto incessante com o sofrimento (tanto em sua tese sobre a homossexualidade masculina quanto nos milhares de pessoas que acolheu ao longo de sua vida), todas essas coisas foram fundamentais para mim. No momento em que se constrói um pensamento ético, ele é posto em discussão, ou pelo menos em dúvida, pelo confronto com a realidade humana. E é isso que me estruturou intelectualmente. É a impossibilidade de construir sínteses porque elas são continuamente destruídas pela realidade daqueles que sofrem, sejam eles quem forem.
E é isso que me estruturou intelectualmente. É a impossibilidade de construir sínteses porque elas são continuamente destruídas pela realidade daqueles que sofrem, sejam eles quem forem.
Não se trata tanto de coragem, mas sim de uma relação com a fé: se a fé não for inquieta, não sei o que é. Acho que não conseguiria viver uma fé tranquila. Foi isso que me permitiu, de forma mais ou menos adequada, enfrentar a crise das violências e dos abusos na Igreja, mesmo em um papel — e só descobri isso mais tarde — que tinha uma força simbólica. Há nove anos, quando aceitei a presidência da Conferência dos Religiosos e Religiosas da França, não imaginava o que me aconteceria.
Quando percebeu que precisava se envolver?
Para ser sincera, acho que nunca pensei a respeito. Havia sido eleita para liderar a Corref há menos de dois meses quando comecei a receber cartas de vítimas que eu não conhecia. Eu vinha de um mundo completamente diferente, a universidade. Recebi essas pessoas e, desde então, não parei mais. Rapidamente, percebi que não daríamos conta; era demais, não sabíamos o que fazer. Então, organizamos a primeira jornada de formação e, em seguida, criamos um grupo interdisciplinar com pessoas de fora. Foi um processo imediato e progressivo porque, à medida que nos encontrávamos com as vítimas, tornava-se necessário participar. Nunca me perguntei se deveria ir ou não, se deveria enviar outra pessoa, e o que aconteceria depois...
Outros se perguntaram isso?
Tenho a sorte de que, na Corref, nunca surgiram relutâncias. Não me lembro de nenhuma relutância nos conselhos. Pelo contrário, tive muito apoio. No entanto, a oposição, mais ou menos velada, de alguns bispos era muito real. Mas também era compreensível, porque não temos o mesmo papel. Às vezes, eu dizia a eles: "Façam o que quiserem, mas não me peçam para fazer o mesmo." Tudo começou com os trabalhos da Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja (Ciase), que foi uma ocasião muito frutífera de discussão e colaboração.
Foi a senhora quem promoveu a Ciase?
Nasceu de um grupo de trabalho. Sentimos que era essencial escutar pessoas que tinham experiência de crises institucionais devido a más condutas morais, seja por terem se envolvido — como um general do exército — ou por terem estudado o tema — como a antropóloga Laetitia Atlani sobre a prostituição forçada em campos da ONU. Fizemos a todos estas perguntas: como vocês fizeram? Como a instituição reagiu? Estava presente o secretário-geral da Conferência Episcopal Francesa na época. Naquela noite, não havia nenhuma dúvida sobre a necessidade de uma comissão independente e que a única coisa que a Igreja devia fazer era financiá-la. Tudo isso não é uma questão de coragem, mas de responsabilidade. Espero que isso venha da liberdade interior: não estou aqui para defender a reputação da Igreja ou da vida religiosa. Além disso, eu já havia conhecido muitas vítimas cujas histórias me assombravam à noite.
A senhora mencionou seu papel institucional. Nunca confrontou diretamente os bispos com os quais tinha fortes divergências, é uma posição política?
Não, não é uma posição política, porque detesto confrontar as pessoas diretamente. Considero isso desrespeitoso para com elas, porque, em última análise, nunca se sabe o que os outros realmente pensam ou as razões de suas posições. Tento dizer o que penso, sem usar uma linguagem ambígua. Afinal, a questão não era convencer os bispos de algo, mas embarcar juntos em uma jornada rumo a um horizonte desconhecido que intuíamos ser doloroso para a Igreja Católica, mas que todos acreditávamos ser justo e necessário.
A senhora se posicionou resolutamente ao lado das vítimas, escutando-as e demonstrando-lhes total empatia. Não há o risco de perder a distância adequada?
Sem dúvida. Não sei se sou controlada por minha empatia, mas é certo que a empatia e, acima de tudo, a indignação foram a força motriz do meu empenho. Em um tema como esse, não sei qual é a distância adequada. Não vejo como se possa ter uma posição neutra. Mas isso não nos impede de refletir, e refletir com os outros. Os dois aspectos não são incompatíveis, mas necessários; basta apenas articulá-los. Sem dúvida, dentro da Igreja, sofremos com posições que buscavam ser muito distantes. Lembro-me do que Édouard Durand dizia sobre os "bons esconderijos": a presunção de inocência pode ter sido um bom esconderijo para os agressores. Também a complexidade — "sim, mas tudo isso é muito complicado..." Para mim, a distância adequada pode ser outro bom esconderijo.
A senhora encontrou sua liberdade no cristianismo, apesar de ter crescido em um ambiente bastante laico. No entanto, a Igreja nem sempre é uma escola de liberdade interior, como demonstram os numerosos casos de violência espiritual e física que vieram à tona nos últimos anos. Como vivenciou essa experiência?
Eu tive muita sorte. Em particular, tive a sorte de nunca ter encontrado um agressor no meu percurso eclesial. Não sei como teria reagido. Na minha congregação e entre os dominicanos, conheci personalidades profundamente livres e humanas. Para ser sincera, quando entrei na Igreja, eu não sabia muito sobre ela e, olhando para trás, percebo que isso me ajudou a não ter preconceitos. E não ter nenhum passado, nem feliz nem doloroso, com a Igreja. Naquele momento, eu era bastante neutra. (Risos) Para mim, a vida religiosa foi uma escola de liberdade. Nunca a vivenciei como uma gaiola, e ninguém jamais me fez vivê-la dessa forma. Nunca, em nome da obediência, me foi pedido algo estúpido. O que me era proposto às vezes podia me parecer estranho, mas, ao discuti-lo, o entendia como uma verdadeira oportunidade. A força da vida religiosa é que ela permite experimentar coisas que você jamais imaginaria, e percebe que ajudam a crescer e que você consegue realizá-las.
Considera que a vida religiosa necessariamente é uma escolha? Às vezes, diz-se que Deus chama...
Dizer que Deus chama para a vida religiosa me parece presunçoso. Acredito que Deus chama cada um de nós primeiro para estar vivo. Depois, os nossos desejos, as nossas intuições e, acima de tudo, os nossos encontros moldarão o que nos parece mais certo. Reconheci esse caminho da vida como um caminho de Deus porque parecia o certo para mim, mesmo quando me parecia completamente estranho. O que importa é distinguir — discernir, como diriam os jesuítas — o que será um caminho de autorrealização, por mais árduo que possa ser com os outros.
Já pensou que devia manter sua liberdade interior em relação ao que lhe era pedido?
Acho que tive a sorte de nunca ter que me questionar sobre isso de forma tão formal. Quando eu era uma jovem religiosa, lembro-me da provincial me dizendo de repente que a congregação queria que eu parasse o meu trabalho. Fiquei muito brava porque haviam me dito o contrário quando eu era noviça. Admito que senti ressentimento por essa repentina mudança de direção. Mais tarde, eu os perdoei, mas só muito mais tarde... Dito isso, aquele ano sabático foi um período maravilhoso, durante o qual eu não tinha nada mais a fazer do que ler a Bíblia, entender a história da ordem na qual estava entrando e começar os estudos.
É possível que tenha sido libertada de um apego excessivamente forte à sua profissão?
Não, porque eu não trabalhava lá há tanto tempo assim, mas, vendo em retrospectiva, isso certamente me libertou de uma segurança, de um reconhecimento social. Mas quando me foi proposto para ser capelã dos estudantes, não tinha ideia do que poderia ser. Na verdade, aqueles foram anos extraordinários. O que me foi proposto muitas vezes me surpreendeu, mas nunca me pareceu estúpido ou desumano. Em todas as fases da minha vida, consegui combinar meu estado de espírito pessoal com a sorte de poder dialogar com meus superiores, que estavam ansiosos para me propor tarefas que se revelaram infinitamente belas.
A senhora fala de um estado de espírito. Mas a liberdade interior não é também fruto de trabalho? Como a cultivou?
Primeiro, por meio da interioridade: leitura da Bíblia, oração, momentos de tranquilidade a sós consigo mesmo. Passei anos acordando muito cedo porque precisava de bastante tempo para o silêncio, a solidão, a oração e até mesmo para a leitura dos jornais. Esse tempo, que era apenas meu, alimentou minha liberdade interior. Tentar fazer o que eu tinha que fazer, todos os dias, com a sensação de não negligenciar aqueles com quem convivia. Assumir responsabilidades, em suma, sem superestimá-las. Beneficiar-se de um lugar neutro e benévolo no âmbito de uma supervisão psicológica foi determinante em alguns momentos. Quanto ao acompanhamento espiritual, não acho que deve ser necessariamente contínuo ao longo da vida. Principalmente porque acredito que o primeiro companheiro é o Evangelho. Claro, é mais fácil dizer isso na minha idade do que aos 30 anos.
Como definiria uma liberdade interior bem equilibrada?
Exercer a liberdade interior significa buscar, valendo-se das reflexões de outros, fazer o que se acredita ser certo. E encaixá-lo no espaço da realidade e do possível. Isso requer criatividade e lucidez. Se considero a média de idade das irmãs da minha província, sei bem que há mil coisas impossíveis de realizar. Mas não reclamo: é contrário ao Evangelho e não ajuda as mulheres que estão ali. Mas o que podemos construir juntas que ainda não tenha sido imaginado? A liberdade interior produz essa capacidade de criar o possível. É preciso forçar um pouco os muros, abrir brechas nas construções pessoais e institucionais.
Como diz o sábio Eclesiastes: "Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol". O que sua mão pode realizar, faça-o; você não pode garantir pelo resto. É seu poder, seu dever colocá-lo em prática. Com essa nuance profundamente evangélica, de que nunca se conhece o próprio possível. A fé em Cristo é uma luta constante contra a fatalidade; confessar a morte e ressurreição de Cristo significa que não existe fatalidade na história.
Diante da crise dos abusos, muitas vezes me pergunto como a luta possa permanecer dentro da capacidade humana, para não gerar desânimo e despertar o desejo de virar a página. Se a missão for inatingível, despertará desespero e nada acontecerá. Devemos também aceitar que não entendemos tudo e nos resignar ao fracasso de nunca chegar ao fim. Isso nos permite manter viva a indignação e continuar trabalhando.