09 Agosto 2025
"A domesticação dessa planta xerófila — Ficus carica é o seu nome científico — da família das Moraceas, remonta ao Neolítico. No sítio de Gilgal, perto da antiga Jericó, foram encontradas evidências de sua presença que datam de onze mil anos atrás", escreve Marco Belpoliti, escritor, ensaísta e crítico italiano, em artigo publicado por La Reppublica, 07-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No painel que Cranach, o Velho, pintou para contar a história de nossos ancestrais, O Paraíso (1530), a Árvore do Conhecimento é representada por dois frutos; à direita, uma maçã e, à esquerda, um menor e alongado: um figo. O artista alemão foi fiel à passagem de Gênesis (3,7): "Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se." Um século antes, Masolino da Panicale, ao pintar o afresco da Capela Brancacci, havia colocado Adão e Eva sob uma figueira, algo que Michelangelo também fez na cúpula da Capela Sistina (1508-12). Qual fruto os dois comeram, no entanto, permanece incerto, embora, como testemunham os artistas, a figueira esteja presente no Paraíso Terrestre.
A domesticação dessa planta xerófila — Ficus carica é o seu nome científico — da família das Moraceas, remonta ao Neolítico. No sítio de Gilgal, perto da antiga Jericó, foram encontradas evidências de sua presença que datam de onze mil anos atrás. O nome carica indica a possível proveniência de uma região da Anatólia, Cária, na Turquia, embora muitos botânicos defendam uma origem de áreas do Cáucaso e das Terras Baixas de Turan. A figueira tolera baixas temperaturas e cresce com pouca água; acredita-se que tenha aparecido antes da videira e da oliveira, planta que a acompanha, tanto que sua grande copa contribui para desenhar a paisagem mediterrânea, lembra Predrag Matvejevic.
Era, portanto, uma presença constante no território da Palestina, como atestam inúmeras citações bíblicas. No Evangelho de Mateus, porém, há um episódio curioso. Jesus, interessado em saborear seu doce fruto, não o encontra pendurado nos galhos, razão pela qual amaldiçoa a árvore: "Que nunca mais nasça fruto de ti". A figueira seca imediatamente, desconcertando os discípulos do Messias. Jesus provavelmente desconhecia a natureza complexa dessa árvore. O fruto da figueira é chamado de sicônio e é um "falso fruto", uma inflorescência composta por um complexo de frutos. Os "verdadeiros frutos" são os aquênios amarelados, que contêm as sementes e precisam ser fecundados para crescerem. Existem duas subespécies de figos: o figo-capri (Ficus carica caprificus) e o figo comum (Ficus carica sativa). A primeira é a figueira selvagem, que não produz frutos comestíveis, mas possui pólen e é o figo macho. A outra, mais comum, é uma planta fêmea e pode produzir sementes férteis, que estão presentes no fruto comestível.
As duas subespécies têm diferentes tipologias de flores. As inflorescências da figueira doméstica são as flores femininas férteis; a figueira-capri apresenta uma maior variedade de tipologias florais. No entanto, para fertilizar a figueira também contribui um inseto, um himenóptero, que se move da figueira-capri para a figueira comum, entra para depositar seus ovos e "assim se cobre com o pólen das flores masculinas" (Barbera). Uma explicação precisa e abrangente exigiria, além de uma competência lexical e botânica, uma quantidade considerável de espaço. O fato é que, sem o inseto, não consumiríamos essa concentração de vitaminas, cálcio, potássio e magnésio, que por mais de mil anos, alimentou a humanidade com seu alto valor calórico, antes do cultivo de cereais e leguminosas.
Hoje, os figos não representam mais um alimento essencial, especialmente na forma seca, disponível comercialmente principalmente na época do Natal. É até possível que a complexidade da fertilização e a distinção entre os dois tipos de figo estejam ligadas a um aspecto que Aristóteles havia destacado: o parentesco entre o figo e o órgão genital feminino. Como Giuseppe Barbera aponta, também a folha de figo, usada por Adão e Eva para esconder o sexo, lembra o formato do membro masculino, enquanto o látex esbranquiçado produzido pelo fruto lembraria o esperma. Nas festas dionisíacas, junto com o jarro de vinho, da videira e da cabra, havia também uma cesta de figos e um falo esculpido na madeira da mesma árvore.
Entre as várias civilizações que se sucederam no Mediterrâneo, a grega é a que mais incluiu o figo em sua literatura, nas decorações e nos mitos. Os gregos consideravam a planta um presente de Dionísio e a associavam a Príapo, o deus da fertilidade. Em Elêusis, havia sido plantada a figueira sagrada para Deméter, protegida por um pórtico; em Roma estava presente no Fórum, mas caso viesse a morrer, seria imediatamente trocada, relatam Plutarco e Plínio. A cesta de Rômulo e Remo, que corria sobre as águas, ficou presa nas raízes de uma figueira brava, de modo que os dois foram amamentados pela loba sob a folhagem da árvore, como pode ser visto em uma pintura de Rubens (1612). Platão fala do figo como um fruto perfeito para os filósofos, e documenta sua paixão espasmódica por essa dádiva da árvore. Também para o figo, planta e fruto, há tempo começou o declínio.
Hoje, é cada vez menos cultivado e a principal razão reside na dificuldade de distribuição dos figos, como exige a moderna agricultura industrial. Pode ser encontrado em quitandas, mas estraga-se rapidamente, por isso deve ser consumido em poucos dias. Sua fácil perecibilidade serviu a Catão para demonstrar a proximidade de Cartago, de modo a pedir sua destruição na Terceira Guerra Púnica. Ele levou figos frescos ao Senado e questionou a assembleia: "Quando vocês acham que esse fruto foi colhido da árvore? Há três dias, em Cartago. Tão perto das nossas muralhas temos o inimigo!"
Hoje, os três principais tipos de figo (Esmirna, Comum, São Pedro), que por sua vez se dividem em subtipos, são cada vez mais raros. Os principais produtores são Turquia, Argélia e Marrocos; depois vêm Egito e Espanha. Na Itália, a produção gira em torno de dez mil toneladas por ano (50% na Campânia e 20% na Puglia). É mais um símbolo que está desaparecendo, com seu patrimônio de costumes, tradições e celebrações. A cultura mediterrânea está em declínio, e somente em seu ocaso as civilizações são celebradas e estudadas. Na Puglia, dentro da Catedral de Otranto, citado por Carlo Ginzburg em Storia notturna (1989), livro dedicado ao sabá e aos ritos xamânicos, o monge Pantaleão (1163-1165) criou em mosaico a árvore da vida que emoldura toda a história bíblica. Um dos dezesseis medalhões retrata Adão e Eva nus; seguram frutos e estão cercados por galhos e folhas. A árvore é, obviamente, a figueira.