08 Agosto 2025
As tarifas de 50% impostas sobre parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos entraram em vigor na quarta-feira (6), enquanto, na União Europeia, o tarifaço começa a afetar a competitividade das indústrias do bloco a partir desta quinta-feira (7). Apesar dos impactos distintos, ambos os lados enfrentam desafios semelhantes, que podem ser atenuados, avaliou o economista Ricardo Hammoud, professor da Fundação Getúlio Vargas, em entrevista à RFI.
A reportagem é publicada por RFI, 07-08-2025.
As novas taxas afetam cerca de 36% das mercadorias enviadas aos EUA, o que representa 4% das exportações brasileiras. Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um plano de contingência do governo federal para auxiliar os empresários mais afetados pelo tarifaço. No decreto assinado por Donald Trump, ficou evidente que o percentual aplicado ao Brasil foi mais uma medida política do que econômica.
O economista Ricardo Hammoud acredita que em um primeiro momento, o Brasil registrará perdas nas exportações. Entretanto, a médio e longo prazo, ele prevê a ocorrência de negociações e a busca por novos mercados.
"Agora, no curto prazo, haverá um impacto negativo inicial, mas ocorrerão dois movimentos: o primeiro é o de redução de algumas tarifas, pois acredito que vai haver negociação, principalmente por causa da pressão dos consumidores americanos. E o segundo movimento são as empresas brasileiras buscando novos mercados para os produtos que antes exportavam para os Estados Unidos", estima Hammoud.
O professor sugere que economicamente seria melhor o Brasil buscar entender quais produtos serão mais impactados e tentar uma redução de tarifas nesses setores específicos. "A Embraer foi um caso importante", o café também, mas tem outros setores que o Brasil ainda deve conseguir negociar com os Estados Unidos", argumenta, ao mesmo tempo em que aposta no setor da pecuária como uma possibilidade de barganhar tarifas mais baixas. "Eu acho que o setor de carnes, por exemplo, já que o Brasil exporta muita carne", indica o especialista.
Ricardo Hammoud propõe que o governo brasileiro insista no fato de que "o Brasil é um grande comprador". O Brasil é um dos poucos países que tem um déficit comercial com os Estados Unidos. No mês de julho, por exemplo, o Brasil importou US$ 4,26 bilhões dos Estados Unidos, quando exportou apenas US$ 3,71 bilhões – um déficit de US$ 559 milhões.
"Eu acredito que o maior poder de barganha do Brasil vai ser em setores nos quais os consumidores americanos sentirão bastante no bolso. (...) vai ocorrer uma pressão dos consumidores, que é onde eu acho que o Trump pode ceder, não por pressões do Brasil, mas por pressões dos consumidores norte-americanos", avalia Hammoud.
A partir dessa quinta-feira, a União Europeia começará a sentir a repercussão das tarifas nas exportações do mercado europeu. Mas o professor acredita que as sobretaxas podem ser uma oportunidade de fortalecer as relações entre os 27 membros do bloco, o Mercosul, e outras nações.
"Embora essas tarifas dos Estados Unidos sejam muito ruins para os países, pode ser também uma oportunidade para que aumente o comércio entre eles. Então, [é o caso] do Mercosul na América Latina com a União Europeia, alguns países da África, e até alguns países do sudeste asiático. Essas regiões podem aumentar o comércio entre elas. Os países poderiam dentro da OMC, ou até de forma bilateral, começar acordos comerciais com redução de tarifas", aconselha o professor.
Na quarta-feira, o Brasil acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar as tarifas de 50% impostas a produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, iniciando uma nova escalada na tensão entre Brasília e Washington.