07 Agosto 2025
"O que sofremos é irreparável. Nenhum resultado, nenhum acordo, nenhuma resolução pode compensar o que passamos e o que perdemos. A dor e o trauma estão agora profundamente enraizados em nossas almas. Não importa como termine, já sabemos quem sofrerá as consequências. Sempre sabemos".
O artigo é de Kholoud Jarada, médico de 24 anos da Cidade de Gaza, publicado por La Repubblica, 07-08-2025.
Depoimento da Strip: "Achei que já tínhamos chegado ao fundo do poço, mas sempre há um ponto mais baixo aqui".
Nos últimos dias, as manchetes dos jornais acenderam um vislumbre de esperança de que a situação humanitária em Gaza está finalmente melhorando. Dizia-se que mais ajuda estava chegando, que a fome estava diminuindo. Por um momento, acreditamos nisso.
Ousamos esperar que a comida se tornasse mais acessível, que o pior já tivesse passado. Mas, no terreno, a realidade permanece inalterada. A crise humanitária continua a piorar. As mortes nunca pararam. A desnutrição continua a ceifar vidas. A fome persiste.
Não apenas crianças, mas também adultos anteriormente saudáveis perderam a vida para a fome, enquanto outros aguardam a sua vez. A fome acabou apenas na mídia. Na realidade, ainda estamos sofrendo.
Nos últimos dias, surgiram notícias novas e profundamente perturbadoras: planos sérios para ocupar o que resta da Cidade de Gaza e da área central, onde mais de dois milhões de pessoas estão amontoadas em um espaço minúsculo. Quando li pela primeira vez, não levei a sério. Não mencionei a ninguém ao meu redor. Li a notícia e depois a ignorei. Talvez fosse negação. Talvez fosse instinto de sobrevivência. Minha mente simplesmente não conseguia processar a possibilidade de mais uma escalada. Quão pior pode ficar?
Pensei que já tivéssemos chegado ao fundo do poço, mas aqui em Gaza, sempre há um fundo do poço.
O que isso realmente significaria? Seremos empurrados mais uma vez para um novo desconhecido? Ou o ataque virá enquanto ainda estivermos aqui, presos, sem saída? Terminará em deslocamento em massa ou assassinato em massa? Honestamente, não sei. É difícil imaginar. Gaza está tão lotada que mal há espaço para andar sem esbarrar em dezenas de pessoas. Todos vivem nas ruas, em tendas, sob prédios destruídos. Não há outro lugar para ir. É impossível avançar mais.
Esses acontecimentos sinalizam o fracasso completo de todas as negociações; as mesmas negociações que, por um breve momento, nos deram a mais remota esperança de alívio. Essas negociações nunca levaram verdadeiramente em consideração nossas vidas.
Nunca reconheceram os dois milhões de civis palestinos mantidos reféns, forçados a suportar todas as formas de tortura por quase dois anos. Pessoas que simplesmente querem viver uma vida normal. Pessoas que nunca escolheram viver dessa maneira. Perdemos tudo e estamos perdendo ainda mais. Não temos mais esperança de um futuro normal.
O que sofremos é irreparável. Nenhum resultado, nenhum acordo, nenhuma resolução pode compensar o que passamos e o que perdemos. A dor e o trauma estão agora profundamente enraizados em nossas almas. Não importa como termine, já sabemos quem sofrerá as consequências. Sempre sabemos.
Neste momento, parece insuportável imaginar o que pode acontecer a seguir. Estamos exaustos física, emocional e espiritualmente. Estamos presos, fatigados, famintos, sem teto, doentes, traumatizados e destruídos. Está além da nossa resistência. Não há como desfazer o que já aconteceu. Mas ainda ansiamos, pelo menos, por um fim — não uma resolução que apague o passado, mas uma que interrompa esta espiral de sofrimento. Precisamos de uma chance para respirar, chorar, viver, simplesmente ser.
Por que tenho que passar por tudo isso só porque nasci aqui?