02 Agosto 2025
Só nos últimos cinco anos pelo menos 13 padres indianos puseram termo à própria vida, o que dá uma média de um a cada seis meses. Nos primeiros cinco meses de 2025, dois padres recorreram ao suicídio. Problemas de isolamento e depressão são apontados como estando na origem deste fenómeno, segundo informação veiculada em 31 de julho pela União Católica Asiática de Notícias (UCA News).
A reportagem é publicada por 7Margens, 31-07-2025.
Os dados constam de um artigo de John Singarayar, um conceituado acadêmico com formação em sociologia, antropologia, filosofia e teologia, para quem a Igreja Católica na Índia “enfrenta uma crise que mal reconhece”.
O artigo refere que a maioria das vítimas têm entre 30 e 50 anos e deixam bilhetes que descrevem sofrimento um mental grave e conflitos nas respetivas dioceses. “Não se trata de homens de fé fraca. São vítimas de um sistema que espiritualiza o sofrimento em vez de lidar com ele”, observa o artigo.
Singarayar começa por referir que a Igreja instituiu a figura de João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, como o padroeiro dos párocos, evocado a cada 4 de agosto, o qual terá colocado a fasquia da perfeição e do ascetismo tão alta que se torna num modelo de vida muito difícil de atingir.
A imagem do santo está exposta nas sacristias das igrejas por toda a Índia, a fim de servir como “modelo supremo da vida sacerdotal” que muitos presbíteros indianos se sentem pressionados a seguir, afirma o autor do texto. Tal veneração, porém, acaba por conduzir a um “sofrimento silencioso, sacrifício sem fim e à negação das necessidades pessoais”, com “consequências devastadoras”.
Os padres indianos de hoje enfrentam desafios que Vianney jamais imaginou: paróquias com poucos recursos; muitas vezes sozinhos; crise da autoridade clerical de outrora; comunidades divididas por tensões de casta; escrutínio permanente nas redes sociais; e pobreza extrema. Ao mesmo tempo, as expetativas quanto ao que se espera dos padres não diminuíram.
Neste contexto, “a ideia de que eles possam precisar de ajuda profissional, amizades genuínas ou simplesmente reconhecimento de sua humanidade é frequentemente vista como uma fraqueza espiritual”, indica o autor que entende que tal “cultura nociva” começa nos seminários, onde “a triagem psicológica continua a ser superficial e as discussões sobre saúde mental são evitadas”.
Cada notícia de suicídio de um padre é vista como um caso que suscita orações e luto privado, mas não uma análise sistêmica e, menos ainda, respostas institucionais adequadas.
Para o autor, a Igreja precisa de “repensar profundamente a sua visão da vida sacerdotal”, dado que “ser padre não deve ser um itinerário de sofrimento silencioso”. Importa cuidar da saúde mental dos padres e reconhecer que eles “são humanos e têm necessidades psicológicas como todos os outros”.