02 Agosto 2025
"A pesquisa do YouTrend publicada no sábado pelo Repubblica mostra que os italianos conseguem distinguir entre condenação das ações de Netanyahu e antissemitismo, mas que o ódio contra os judeus está crescendo. Não há justificativa para isso; nenhuma boa causa pode ser invocada para apoiar o desprezo por um povo ou um credo. Pensávamos estar fora dessa história; deveríamos tentar estar à altura dessa ilusão".
O artigo é de Annalisa Cuzzocrea, publicado por la Repubblica, 30-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O veneno do antissemitismo corre nas veias da Europa e nunca deixou de fazê-lo. Levou-a ao abismo da sua história, levou-a a planejar o extermínio de seis milhões de judeus, empurrou-a para um ponto que se pensava ser sem retorno, porém, apesar disso tudo, anos de trabalho, testemunhos, verdade e raciocínio pareciam ter criado uma contenção. Nós, que crescemos lendo Anne Frank aos 10 anos e Primo Levi aos 14, que ouvimos atônitos os testemunhos de Liliana Segre, Edith Bruck, Sami Modiano, trazendo-os para as escolas, nós que choramos de vergonha pelo que fomos capazes de fazer — nazistas e fascistas juntos, Alemanha e Itália juntas — devemos dizer aqui, agora, que aquela contenção era imaginária e que aquele veneno não desapareceu.
Nada do que está acontecendo em Gaza — o risco de um genocídio e de uma limpeza étnica teorizados pela direita messiânica e que parecem levados adiante com obstinação pelo governo de Benjamin Netanyahu — pode justificar a identificação de uma pessoa como inimiga ou culpada com base em sua proveniência ou em sua religião. Por um kipá usado na cabeça enquanto se acompanha uma criança de seis anos ao banheiro de um posto de gasolina. Não podemos definir o que aconteceu em Lainate — pessoas que primeiro insultaram e depois agrediram um judeu francês na frente de seu filho — como consequência do que acontece em Gaza. Seria uma explicação conveniente e reconfortante que nos impediria de olhar mais profundamente e ver que ali, nas profundezas do justo protesto em defesa do povo e de um Estado palestinos, aninha-se — turvando as águas — o mesmo antissemitismo que levou aos pogroms antijudaicos do século XIX e ao Holocausto do século XX.
Não é fácil aceitar que naquele que consideramos o nosso lado, o lado que sente a tragédia de Gaza como uma culpa coletiva, e pensa que o terrível massacre cometido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 não o justifica de forma alguma, estejam presentes aqueles que estão simplesmente demonstrando mais uma vez seu ódio aos judeus.
Seu racismo. Seu pior instinto: confundir um inocente com um inimigo com base apenas no que ele é. No Deus a quem reza. No seu passaporte. Vimos eles em todos os lugares e pensamos: são uma minoria. Nas ruas pela paz, gritando "Palestina livre do rio ao mar"; nas universidades estadunidenses atacando estudantes judeus. O fato de a reação de Donald Trump — nas universidades dos EUA — ser de um racismo idêntico e oposto, e que agora está perseguindo aqueles que protestaram contra a guerra em Gaza, não pode nos consolar. Não podemos aceitar que em Roma, Milão, Paris,
Londres, as crianças que frequentam as escolas hebraicas sejam obrigadas a ter cuidado com o que vestem. Nem que se tenha que pedir uma retratação a um israelense que entre em um restaurante, que se tente silenciar qualquer um que fale em uma conferência ou convenção, se for judeu ou se importar com a segurança de Israel. Não podemos confundir o direito de protestar em favor dos palestinos com o direito de odiar outro povo.
O ódio aos judeus não salvará os palestinos do horror que estão vivendo depois de 7 de outubro, nem das violências contínuas, incessantes e ilegais dos colonos israelenses. Assim como nenhuma vingança de Israel contra o terrorismo do Hamas jamais trará a paz. Nós, que temos o privilégio de não ter que sobreviver a um filho que morre de fome ou pelas bombas de Israel bem ao nosso lado. Nós, que não temos que nos sentir em perigo toda vez que um alarme soa e correr para um abrigo. Somos nós que temos o dever de distinguir entre o que é protesto e o que é antissemitismo. E rejeitar o veneno que se alastrou entre nós, levando-nos a dizer "nunca mais" contra Primo Levi, que em seu desespero advertia: pode acontecer de novo.
A pesquisa do YouTrend publicada no sábado pelo Repubblica mostra que os italianos conseguem distinguir entre condenação das ações de Netanyahu e antissemitismo, mas que o ódio contra os judeus está crescendo. Não há justificativa para isso; nenhuma boa causa pode ser invocada para apoiar o desprezo por um povo ou um credo. Pensávamos estar fora dessa história; deveríamos tentar estar à altura dessa ilusão.