02 Agosto 2025
"É assim que se narra um passado inexistente para um presente anestesiado; o que é o oposto da função de um conhecimento histórico que saiu da paideia pública, com os efeitos que vemos".
O artigo de Alberto Melloni, publicado por Corriere della Sera, 28-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quando, em 1881, Leão XIII decidiu abrir os arquivos do Vaticano a todos os estudiosos que haviam retornado de Paris a Roma algumas décadas antes, parecia o início de uma paz entre a Igreja e a história. Uma paz que durou pouco: seu sucessor, obcecado por fermentos doutrinários, literários e exegéticos que ele acreditava serem os tentáculos de um "modernismo" monstruoso, viu na historiografia um perigo. E depois dele, a desconfiança em relação ao conhecimento histórico continuou: tanto que somente em 1984 Wojtyla concedeu acesso aos documentos do Arquivo Secreto do Vaticano até Bento XV. Em 2006, foi a vez dos documentos dos anos de Pio XI, enquanto os documentos do Concílio, os dos Papas conciliares objeto de processos de canonização e aqueles do Santo Ofício já estavam acessíveis.
O resultado dessas aberturas foi diferente. Sobre Pio X, cujos documentos eram aguardados por muitos para tentar entender uma repressão que havia as abatido às cegas (de Roncalli, denunciado por um espião jesuíta, a Ratzinger, cuja tese de doutorado nunca foi publicada), houve estudos importantes de Giovanni Vian e Claus Arnold, e a edição mais impressionante foi produzida por Monsenhor Sergio Pagano, por muito tempo prefeito do Arquivo, com dois volumes que documentam a inescrupulosidade repressiva de um Papa, no plano pessoal, humilde e santo.
Para Bento XV foi muito analisada a sua ação diplomática. Para Pio XI, foram esclarecedores os estudos de Lucia Ceci e Emma Fattorini, bem como as edições editadas por Sergio Pagano, e todos ficaram à espera do arquivo de Pio XII, de quem se conheciam despachos da época da guerra divulgados a pedido de Paulo VI, após a explosão do debate sobre o que Pacelli basicamente definiu de "seu silêncio".
E quando em 2020 o Papa Francisco abriu o fundo Pacelli (do qual Giovanni Coco fez um inventário em 2023), explodiu um interesse tão febril que se tornou revelador de uma fraqueza historiográfica mais profunda. Tanto nas sofisticadas iniciativas de pesquisa desenvolvidas por Laura Pettinaroli da École Française de Roma e do Deutsches Institut com Simon Unger-Alvi, quanto aquelas mais divulgativas, emergem sinais de um fetichismo arquivístico, que faz parte do maneirismo, não da pesquisa.
Pois o historiador sabe que os arquivos não coincidem com a realidade e contêm não apenas verdades ocultas, mas também reflexos banais da eficiência dos departamentos que os produzem. São o precipitado de atos governamentais, coleta de informações, visões ilusórias ou fóbicas que têm destinatários, objetivos, códigos e orientações intencionais, que só podem ser compreendidos por meio de um estudo que conecte fontes publicadas e inéditas, literatura cinzenta e historiografia.
Pular essa etapa conduz ao alto artesanato recentemente demonstrado por Giovanni Coco com Un mosaico di silenzi (Mondadori), dedicado a Pio XII e à questão judaica, que ignora ou omite a pesquisa e a edição de fontes que não lhe agradam. Ou se passa diretamente ao amadorismo culto superado por aqueles — como demonstrado justamente há quarenta anos pelos estudos de Andrea Riccardi, nos quais, mesmo com os arquivos fechados, a inteligência crítica explicava a Igreja e a Roma de Pacelli — que tinham menos quilômetros de documentos à sua frente, mas mais fio intelectual para tecer. E sem inteligência crítica, pode-se produzir agradáveis passeios às fontes, como a agora oferecida no novo livro sobre L’Italia Vaticana. L’egemonia della Chiesa di Pio XII sulla Repubblica (São Paulo), de Cesare Catananti, um historiador da medicina que se embrenhou na história eclesiástica. Passeios arquivísticos que confundem as ilusões das quais o arquivo preserva vestígios com o que efetivamente aconteceu.
Nos recessos da cúria de Pacelli, havia aqueles que sonhavam com uma Itália nacional-católica, com uma legislação posta à proteção das concepções morais vigentes e uma capacidade de influenciar a política de uma democracia-cristã considerada criação detestável do detestado Montini? Obviamente, sim. Mas essa questão não interessa a quem exerce o ofício de historiador: o que importa é entender se esse desejo se realizou ou por que fracassou. Então, para citar o título do livro, houve uma Itália "Vaticana" e a Itália poderia ser uma? A resposta é simples: não.
Não, porque os pensamentos de Pacelli, Montini, Tardini, Dell'Acqua, Ronca — sem mencionar Schuster, Roncalli, Siri, Lercaro — não eram uniformes. Não, porque o anticomunismo com que Gedda queria transformar o neofascismo num anticomunismo de massa, encontra resistências onerosas: aquela do futuro Paulo VI, que paga o preço e acaba exilado em Milão, sem o cardinalato; aquela de De Gasperi, que frustra o acordo com o MSI em Roma, mesmo ao custo de ter negada a audiência do aniversário de casamento. Não, porque a República sobre a qual essa hegemonia gostaria de se exercer não se dobra graças a um catolicismo pensante, que sofre "pressões indizíveis" (como disse Dossetti) que não se percebem nos arquivos italianos e as rejeita: não por laicidade, mas porque os melhores católicos estão convencidos de que ceder sobre a legitimação democrática da República não tornaria a nação mais católica, mas sim a Igreja mais miserável.
"A Itália é de quem a tomar", sibila o Padre Lombardi ao papa em janeiro de 1947 (p. 44): mas ele está errado. A Itália republicana já é da Constituição em formação. E isso não é revelado por um papel de audiência, mas pela história.
Assim, quando os documentos de Pio XII forem suficientemente estudados — sem anacronismos, sem brincar de fazer a Santa Sé parecer "mais aberta" ou "mais fechada" segundo conveniências ideológicas —, entenderemos que, naquele trecho da história nacional sobre o qual Catananti corretamente chama a atenção, ocorreu um processo que talvez ainda não esteja totalmente esgotado: um processo que exige não apenas os arquivos abertos (fato totalmente positivo), mas um senso crítico que hoje corre o risco de ser marginalizado pelo maneirismo historiográfico que confunde os documentos do Vaticano com o Papa ou até mesmo com a Igreja. É assim que se narra um passado inexistente para um presente anestesiado; o que é o oposto da função de um conhecimento histórico que saiu da paideia pública, com os efeitos que vemos.