02 Agosto 2025
"Ninguém poderá perdoar a nós, ocidentais, se não arrancarmos esses capacetes. Se não determos Israel, Estado genocida."
O artigo é do historiador da arte Tomaso Montanari, professor da Universidade Federico II de Nápoles, publicado por il Fatto Quotidiano, 28-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Gaza é a "coisa" mais chocante que minha geração já vivenciou. Um país aliado ao nosso ("uma democracia, segundo a propaganda colonialista ocidental") está cometendo um genocídio ali: sem ser perturbado, matando centenas de milhares de pessoas pela força das armas e pela fome. E sem esconder nada, enquanto as vítimas nos escrevem cartas e mensagens, num relato ao vivo de um horror sem precedentes. Ingenuamente, sempre pensei que, se o mundo tivesse visto o que estava acontecendo em Auschwitz, se rebelaria, varrendo o nazismo. Pois bem, eu estava errado: estamos vendo se repetir que aconteceu no Gueto de Varsóvia, e nem mesmo paramos de vender armas aos carrascos.
Vemos coisas indizíveis: corpos de crianças mutiladas, bebês esqueléticos morrendo de fome, idosos caindo secos no chão. E comemos, bebemos, dormimos e trabalhamos: e nada nos faz revoltar. E assim as palavras soam desgastadas, vazias, inadequadas. E as imagens, em sua realidade crua e extrema, são tão fortes que não são mais "visíveis". Assim como não se consegue olhar para a fonte da luz, o sol, o mesmo acontece com esse sol negro, com esse buraco negro que tudo engole. E assim, nestes dias atrozes, a mente se enche de todas as obras de arte às quais confiamos, ao longo dos séculos, a mediação visual do horror mais extremo.
A começar pelo massacre dos inocentes, verdadeiro paradigma do que aconteceu em Gaza depois do maldito 7 de outubro (que certamente não é uma data inicial, vamos repetir: mas a conta de um rosário de horrores do qual cabe a Israel um terrível primado). Entre todas as suas representações, aquela de Giotto na Capela dos Scrovegni, em Pádua (1303-1305), retorna obsessivamente diante dos olhos: talvez por causa daquela obscena pilha de corpos de crianças amontoados no primeiro plano, entre os soldados (comandados por um Herodes encerrado no palácio do poder) e as mães. Com Giotto o corpo voltava a ser protagonista da história da arte e a precisão com que essa massa de pequenos cadáveres é representada revolta o estômago: num curto-circuito inescapável com os vídeos mais crus que despencam sobre nós nestes últimos dias vindos de Gaza, onde os corpos de crianças assassinadas se amontoam nas caminhonetes.
E então, com um salto de cinco séculos, o "Massacre de Quios" (1824, no Louvre), de Eugène Delacroix, que retrata o extermínio dos habitantes gregos da ilha de Quios pelo exército otomano em 1823 (vinte mil mortos). O título com o qual a obra foi apresentada no Salão em 25-08-1824 é "Cenas do massacre de Quios: famílias gregas aguardando a morte ou a escravidão". E é precisamente o retrato da expectativa do fim que é chocantemente semelhante à Gaza destas últimas horas.
Depois da chegada de Aya Ashour à Itália, tenho recebido angustiantes pedidos de ajuda da Faixa todos os dias: repletos de dignidade, humanidade e consciência. Um deles diz: "Na semana passada, ocorreu um massacre na rua onde moro. Vi meus vizinhos em pedaços no chão. A morte estava tão perto. Dois dias depois, perdi duas crianças da minha família alargada enquanto tentavam buscar água potável. Aqui, se você não morre por causa das bombas, morre lentamente de fome."
Quem consegue ler essas palavras sem gritar de impotência e raiva? Quem poderia salvar as mulheres e os homens à mercê do cavaleiro armado no centro do quadro? Quem pode salvar a mulher que me escreveu essas palavras? Delacroix não se questiona sobre a humanidade do cavaleiro otomano, que é apenas uma máscara do mal. Nem mesmo Picasso o faz, em sua pintura de 1951, "Massacre na Coreia" (no Museu Picasso, Paris). Ele representa o massacre de Sinchon (1950), onde os exércitos sul-coreano e estadunidense eliminaram 35 mil pessoas: os soldados são autômatos obedientes, homens armados que realizam a execução em massa de mulheres e crianças nuas sem sequer respirar.
E isso não pode deixar de nos fazer pensar nos soldados israelenses das Forças de Defesa de Israel (acrônimo de pura propaganda, onde o "d" de "defesa” deveria ser substituído pelo "o" de "ofensiva"...): o que essas pessoas dirão na "Nuremberg" que, mais cedo ou mais tarde, irá as julgar? Valerá dizer "Eu obedeci"? Acho que não: assim como não foi válido em Auschwitz.
Na pintura de Picasso, os rostos dos soldados-carrascos são escondidos por capacetes estranhos: não têm tempo nem rosto. Porque negam sua própria humanidade, afogam seu livre-arbítrio. Mas também porque representam seus líderes políticos, os aliados de seus países, os concidadãos e as concidadãs que não se revoltaram contra os massacres perpetrados em seu nome.
E assim, nos traços malignos dos soldados de Giotto de Herodes, no rosto insensível do cavaleiro turco, sob os capacetes do pelotão de fuzilamento de Picasso, vemos também os rostos de Trump, Merz, Macron, Meloni, Salvini... e, por fim, o nosso próprio, se não fizermos de tudo para acabar com a expectativa de morte que paira sobre um povo inteiro.
Ninguém poderá perdoar a nós, ocidentais, se não arrancarmos esses capacetes. Se não determos Israel, Estado genocida.