25 Julho 2025
Leis existem, mas são ignoradas no Chade, onde ainda persistem práticas como a mutilação genital feminina e o casamento precoce. Autoridades chadianas consideram publicamente que a mutilação genital e seus perpetradores devem ser punidos.
A reportagem é de Edelberto Behs.
“No entanto, quando retornam às suas aldeias, consideram isso uma tradição e parte da cultura”, denunciou Nelly Nzuri Neema, consultora de gênero da Federação Luterana Mundial (FLM) na região do Lago Chade.
Ela pediu um olhar para as meninas e mulheres do Chade em encontro antes da revisão do país pelo Comitê das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (Cedaw).
A presidenta da Liga Chadiana pelos Direitos das Mulheres, Epiphanie Nodjikoua Dionrang, também se reportou ao problema. “Quando buscam financiamento internacional, falam a linguagem dos direitos. Mas, na prática, defendem costumes nocivos e retrógrados. Os próprios homens que fazem as leis são os que defendem as práticas que essas leis deveriam acabar”, denunciou.
As mulheres carregam, ainda, um fardo adicional no contexto das mudanças climáticas, conflitos e desigualdades econômicas, apontou Nzuri Neema, envolvida em projeto da FLM na região do Lago Chade. Como muitas das tarefas domésticas recaem sobre as mulheres, encontrar água, comida e lenha em tempos de escassez de recursos naturais aumenta o fardo delas ainda mais, lamentou,
Mas a questão vai além. Com a diminuição de terras aráveis e pastagens aumentam os conflitos intercomunitários e os corpos das mulheres se tornam o campo de batalha de uma “violência indizível”, denunciou Neema.
“Eles entram nas aldeias e matam mulheres e crianças. O estupro é usado como arma antes que as mulheres sejam mortas. As comunidades fogem deixando terras para trás”, contou.
As chadianas pediram maior vontade política dos governantes e a divulgação em idiomas locais para aumentar a conscientização sobre direitos legais e pressão internacional para implementar as reformas esperadas.
A República do Chade, país centro-africano, é um dos mais pobres do mundo, embora tenha jazidas de ouro e petróleo. O analfabetismo está presente em 70% da população do país, calculada em 19,3 milhões de habitantes. O governo é republicano, sob um regime militar. O país não tem saída para o mar.