16 Julho 2025
"Quem usa o Deus da Bíblia para fornecer um motivo para seus crimes são seres humanos: no governo, entre aqueles que acreditam neles, entre aqueles que aceitam suas ordens".
O artigo é de Anna Foa, historiadora, escritora, intelectual da religião judaica, publicado por La Stampa, 14-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
É possível interpretar o que está acontecendo em Gaza apenas em termos religiosos, o ler como a expressão não de todo o judaísmo, mas de uma parte importante dele, de uma sua vertente imprescindível com fortes raízes no texto bíblico?
Digo "apenas" porque estou absolutamente convencida, como Vito Mancuso em seu discurso essencialmente teológico, de que o messianismo agressivo e fanático dos colonos e dos partidos religiosos extremistas israelenses não é um véu que encobre outras motivações — sejam elas políticas ou econômicas —, mas sim o motivo absolutamente primordial daqueles que acreditam não apenas que estão agindo em nome de Deus, mas também que seu Deus lhes permite cometer atos terríveis, que não é descabido chamar de "genocidas".
Mas a religião judaica também é algo mais, e Vito Mancuso, em seu artigo, reconhece isso claramente: o anseio universalista dos profetas, a atenção ao fraco, ao exilado, a quem atravessou o deserto, e não apenas a quem conquistou a terra de Canaã a ferro e a fogo. Essas duas vertentes, a do poder e da guerra e a dos profetas, se chocaram ao longo da história, quando ainda existia um Estado dos judeus. E, acima de tudo, essa foi a cultura do mundo judaico, pelo menos até que, espalhada na diáspora, os judeus não tiveram nem terras nem altares, não como punição por sua incredulidade, mas talvez para lhes oferecer possibilidades inesperadas de dialogar com o resto do mundo, de se abrir à cultura do outro, seja ele o cristão ou o muçulmano.
É verdade que hoje Israel está se fechando para o mundo, sob a pressão assassina de seu governo, em uma mistura de exaltação nacionalista e supremacista e vitimismo. E os cristãos também se tornaram inimigos, cujas igrejas e altares devem ser queimados. Mas não todo Israel, como demonstram as manifestações em curso, as reações de grande parte da opinião pública, as vozes que se levantam e, muitas vezes, nós ignoramos. Mas, ao lado da exaltação religiosa das direitas messiânicas, talvez existam outros fatores a serem considerados: o racismo dos filhos e netos do racista rabino Kahane, um racismo cada vez mais difundido, que governa por meio de seus ministros e que, obviamente, não tem precedentes na cultura secular e religiosa judaica; o vínculo com a terra, que se inspira no texto bíblico, mas tem raízes muito recentes na cultura dos judeus; a espada do poder, por fim, mal agitada pela primeira vez por aqueles que viveram por séculos sem sequer poder se aproximar dela. E que experimentaram toda a sua dureza.
A Bíblia, além disso, não é apenas dos judeus. É também o texto sagrado dos cristãos e, em certa medida, também do islamismo, que durante séculos, e em muitas partes ainda hoje, foi usada para justificar seu desejo de poder e violência. E não apenas a Bíblia e não apenas as três religiões monoteístas, porque a ligação entre religiões e violência é forte e permeia todas, ou quase todas, as religiões, mesmo que muitas vezes não seja sua essência. O que dizer, para os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, do "Não deixarás viver as feiticeiras!" do Êxodo, que foi citado como estímulo à perseguição das bruxas em todos os textos medievais e modernos? O lado obscuro do judaísmo existe, mas está ou esteve dramaticamente presente em todo lugar onde os homens pensaram em agir em nome de Deus: uma blasfêmia para um crente, uma abominação para um não crente.
É claro que hoje são os judeus em particular, uma parte deles, os propagandistas e perpetradores de crimes terríveis, e são eles que devem ser detidos. Mas o nome de Deus é desfraldado em outras guerras, em outros massacres, ou permanece dormente, à espera de despertar e fazer outras vítimas. Quem usa o Deus da Bíblia para fornecer um motivo para seus crimes são seres humanos: no governo, entre aqueles que acreditam neles, entre aqueles que aceitam suas ordens. São os homens, não a cultura ou a religião, seja ela qual for, que devemos deter hoje. Essa é a tarefa que a consciência moral impõe às Igrejas e religiões. Hoje na Palestina, mas amanhã, quem pode saber.