15 Julho 2025
O Brasil encerrou o primeiro semestre de 2025 com uma alta de 27% nos alertas de desmatamento na Amazônia, conforme uma análise do Greenpeace Brasil a partir do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para Ana Clis Ferreira, porta‑voz da organização, o salto é “o primeiro aumento no governo Lula” e reflete sobretudo “as queimadas do ano passado”, cujo impacto “só conseguimos visualizar agora, quando a vegetação colapsada entra nos dados do Deter como desmatamento”. Segundo ela, ao descontar esse efeito, “a queda é muito tímida: de 1,5% em comparação com o primeiro semestre do ano passado, frente aos esforços que o governo tem feito.”
A reportagem é de Adele Robichez, Aline Macedo e Kaique Santos, publicada por Brasil de Fato, 14-07-2025.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a porta‑voz atribui a resistência à queda mais significativa às pressões do agronegócio e a retrocessos legislativos. “Existe uma movimentação do setor que é anti políticas ambientais, inclusive do agronegócio destruidor, que vê nesses possíveis retrocessos uma oportunidade para a boiada passar”, afirma, mencionando acordos como a Moratória da Soja e, sobretudo, o Projeto de Lei 2.159/2021, apelidado de PL da Devastação. “Ele é hoje a maior das boiadas, um retrocesso na nossa legislação ambiental. […] Pode ser um forte instrumento de devastação ambiental nos próximos anos, se avançar no Congresso”, diz.
Caso aprovado, o PL da Devastação afrouxa licenciamento para grandes obras e restringe a atuação de órgãos como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). “Abre caminho para violação de direitos de comunidades tradicionais e povos indígenas, além de comprometer a governança socioambiental do país”, alerta a representante do Greenpeace. Para ela, desburocratizar “não deve ser respaldado por falta de rigor.”
Mato Grosso lidera os alertas, concentrando mais da metade da destruição amazônica, por reunir Cerrado e Amazônia e sentir a seca antes dos demais estados. “É um estado onde o agronegócio é muito forte. […] Produtores são muito organizados para pressionar o governo”, explica Ferreira. A presença de conflitos fundiários e de grilagem, somada à transição de biomas, agrava principalmente o cenário próximo ao Parque Indígena do Xingu.
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