15 Julho 2025
Há cerca de 50 anos atrás, Luís Kaiwoá, então uma criança, acompanhou seu irmão mais velho do Mato Grosso para Minas Gerais. Eram órfãos em busca de sobrevivência e ali radicaram-se numa comunidade Maxakali. Luís teve três filhas com uma mulher Maxakali, uma delas, Sueli, diretora deste documentário. Tempos depois, uma intervenção militar em Minas Gerais provocou novo deslocamento de Luís, que voltou à sua comunidade originária, no sul matogrossense. Ali, junto com outros indígenas, foi impedido de voltar e obrigado a prestar serviços diversos, sem salário e sobrevivendo dos restos de comida dos não-indígenas. Agora sua filha o reencontra e resgata sua história.
O comentário é de Neusa Barbosa, jornalista e crítica de cinema, publicado por CineWeb, 07-07-2025.
Uma história dolorosa de separação numa família indígena causada pela ditadura militar ocupa o centro do documentário mineiro Yõg Ãtak - Meu Pai, Kaiowá, dos diretores Sueli Maxakali e Isael Maxakali, com codireção de Roberto Romero e Luisa Lanna. Além de resgatar a memória de deslocamentos forçados e da efetiva escravização de indígenas durante o período 1964-1985, o filme insere também o contexto da atual luta contra o Marco Temporal, um dos assuntos candentes do País neste momento. No Festival de Brasília 2024, onde teve sua première. o filme arrebatou o prêmio de melhor direção.
Há cerca de 50 anos atrás, Luís Kaiwoá, então uma criança, acompanhou seu irmão mais velho do Mato Grosso para Minas Gerais. Eram órfãos em busca de sobrevivência e ali radicaram-se numa comunidade Maxakali. Luís teve três filhas com uma mulher Maxakali, uma delas, Sueli, diretora do documentário. Tempos depois, uma intervenção militar em Minas Gerais provocou novo deslocamento de Luís, que voltou à região de sua comunidade originária, no sul matogrossense. Aí, junto com outros indígenas, foi impedido de voltar e obrigado a prestar serviços diversos, sem salário e sobrevivendo dos restos de comida dos não-indígenas. Além disso, apesar de inúmeras tentativas de obter seus documentos, esse direito lhe foi sempre negado,
Esta separação forçada, como seria de se esperar, marcou indelevelmente a vida desta família. Por isso, é comovente a cena inicial do filme, em que Sueli reúne seus filhos e netos diante da câmera para apresentá-los um a um a este pai com quem procura recuperar o contato.
Falado nos idiomas originais, o documentário é um retrato eloquente das cicatrizes que marcam as comunidades indígenas brasileiras, com estes deslocamentos forçados que estão por trás da expulsão de vários povos de seus territórios originais. O documentário menciona, inclusive, as recentes retomadas desses territórios, empreendidas por povos como os Maxakali e os Guarani-Kaiowá, e que estão no centro da discussão do Marco Temporal - que pretende fixar em 1985 a data-limite em que os povos originários deveriam estar em suas terras para poderem reivindicar sua posse. Como o filme demonstra, muitos deles haviam sido impedidos de permanecer em suas terras pela violência política do regime autoritário.
Dessa forma, o esperado reencontro entre pai e filha e o restante da família torna-se o símbolo de um processo de reparação de que os povos indígenas em geral, além da nação como um todo, estão tão necessitados.
O quarteto de diretores tem, aliás, bastante estrada na temática indígena, estando envolvidos, em diferentes funções, nos filmes Quando os yâmiy vêm dançar conosco (2011), Yãmiyhex: as mulheres-espírito (2019) e Nuhu yãgmu yog hãm: Essa Terra é Nossa (2020).
Nome: Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá
Nome original: Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá
Ano: 2024
País: Brasil
Gênero: Documentário
Duração: 94 minutos
Classificação: 12 anos
Cor da filmagem: Colorido
Direção: Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero, Luisa Lanna