04 Julho 2025
EUA e Hemisfério Sul enfrentariam aquecimento adicional. “A sociedade não está preparada para esses extremos”, alerta cientista.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 03-07-2025.
Um novo estudo alerta para o colapso da Circulação de Capotamento Meridional do Atlântico (AMOC) – sistema que redistribui calor dos trópicos para o Hemisfério Norte. O colapso poderia desencadear um resfriamento extremo na Europa, com temperaturas de inverno caindo para -55°F (-48°C) em cidades como Oslo.
Publicado na Geophysical Research Letters, a pesquisa usou modelos climáticos avançados para projetar os impactos. “O que acontece se a AMOC colapsar e o clima já estiver mais quente? O resfriamento vence ou o aquecimento?”, questionou René van Westen, pesquisador da Universidade de Utrecht e coautor do estudo, em declaração à CNN.
A AMOC atua como uma esteira transportadora oceânica, levando águas quentes para o norte e devolvendo águas frias para o sul. Estudos recentes mostram que esse sistema está enfraquecendo devido a alterações na temperatura e salinidade causadas pelo aquecimento global, com risco de colapso ainda neste século. Van Westen explica que a Europa, com seu clima temperado dependente da AMOC, seria a mais afetada. “Isso muda completamente a narrativa. As políticas preparam um futuro mais quente, mas talvez precisemos nos preparar também para um futuro mais frio [naquele continente]”, alertou.
O estudo simulou um cenário com aquecimento global de 2°C e AMOC 80% mais fraca. Os resultados indicam que, mesmo num mundo mais quente, a Europa sofreria resfriamento intenso no inverno, expansão do gelo marinho até a Escandinávia e tempestades mais fortes no noroeste do continente. Enquanto isso, os EUA continuariam a esquentar e o Hemisfério Sul enfrentaria aquecimento adicional. “A sociedade não está preparada para esses extremos. Colheitas morreriam, e a infraestrutura entraria em colapso”, destacou van Westen.
Os impactos seriam devastadores: Londres poderia registrar -19°C no inverno, e Oslo teria quase metade do ano abaixo de zero. O paradoxo, segundo van Westen, é que a Europa ainda sofreria com ondas de calor no verão. “Não é uma boa notícia. Seria uma combinação perigosa: invernos gelados e verões escaldantes”, explicou. Além disso, o colapso da AMOC aceleraria o aumento do nível do mar, especialmente na costa nordeste dos EUA, onde inundações já estão se tornando mais frequentes.
Embora haja incertezas sobre quando o colapso pode ocorrer, os cientistas são unânimes sobre sua gravidade. “Precisamos evitar isso a todo custo”, enfatizou van Westen. O estudo reforça que a desestabilização da AMOC traria consequências imprevisíveis e extremas, exigindo ações urgentes para monitorar os oceanos e preparar a sociedade para múltiplos cenários climáticos críticos.
Ao Carbon Brief, o Dr. Yechul Chin, da Universidade Nacional de Seul, alertou que, embora a pesquisa mostre o potencial para eventos climáticos mais extremos com o aquecimento global e o colapso da AMOC, ainda há incertezas significativas a serem resolvidas. Ele destaca que as “projeções sobre a AMOC apresentam uma grande variação”, levando a múltiplos cenários possíveis.
A Sky News também repercutiu os resultados do levantamento.